A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em colaboração com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está conduzindo uma pesquisa de avaliação sobre a eficácia da vacina BCG contra a forma grave da Covid-19. Para tal, os pesquisadores estão convocando voluntários que passarão por entrevistas, testagens sorológicas e, uma vez selecionados, serão vacinados com a BCG e acompanhados ao longo de seis meses.
Podem participar do estudo pessoas que tenham entre 20 e 50 anos; morem com profissionais da saúde ou militares (incluindo bombeiros) em atividade; não tenham sido infectadas pelo coronavírus; não tenham sido vacinadas contra a Covid-19 (nem estejam em iminência de receber a vacinação); não estejam grávidas ou amamentando; não tenham diabetes ou hipertensão descontroladas; e não possuam doenças ou alergias graves. As inscrições podem ser realizadas on-line, tanto por e-mail quanto por WhatsApp.
De acordo com a pesquisadora Kézia Scopel, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFJF e integrante do projeto, a participação voluntária é conduzida de forma completamente segura. “Sabe-se por meio de estudos científicos que a BCG tem efeitos benéficos heterólogos na morbimortalidade geral, atuando contra infecções inespecíficas por um processo denominado ‘imunidade treinada’. Isso tem sido observado não só em crianças e adultos jovens, mas também em idosos”, explica. A vacina BCG (Bacillus Calmette-Guérin) é referência mundial no combate à tuberculose e é obrigatória para crianças recém-nascidas no Brasil desde 1976.
“Com a pandemia, um estudo que avaliou morbimortalidade por Covid-19 chamou atenção para o fato de que países sem políticas de vacinação com BCG foram mais severamente afetados pela pandemia do que aqueles que adotam essa política. Então, isso sugere que a vacina possa ter algum papel protetor, vindo a ser uma ferramenta em potencial na luta contra a pandemia de coronavírus, fato ainda a ser comprovado”, aponta Kézia Scopel, que também cita estudos em países como Austrália e Holanda voltados para avaliar o papel da revacinação com BCG na proteção contra a forma grave da Covid-19. “Caso esses estudos confirmem essa eficácia, teremos uma ferramenta a mais na luta contra o vírus.”
Como acontecerá a pesquisa?
Uma vez selecionados, os voluntários do projeto serão separados, por meio de sorteio, em dois grupos: um deles receberá a vacina BCG e o outro receberá placebo (um solvente inócuo). Ao fim do estudo, os participantes saberão em qual deles foram alocados. No primeiro dia como integrantes da pesquisa, os voluntários passarão por uma entrevista e uma coleta de amostra sanguínea, para que a equipe de cientistas verifique a presença de anticorpos contra a Covid-19 – o que indicará se os participantes contraíram a doença e foram assintomáticos. A entrevista e a coleta de sangue para testagem será repetida a cada dois meses.
Caso um integrante apresente sintomas suspeitos de Covid-19 ao longo dos seis meses de estudo, deve comunicar à equipe científica, que irá orientá-lo e acompanhá-lo durante o quadro da doença. A participação na pesquisa não impede que os voluntários recebam a vacinação contra a Covid-19, caso a mesma seja disponibilizada durante o período de vigência do projeto; a única exigência é avisar com antecedência os cientistas responsáveis. Neste caso, o acompanhamento também continua até o fim do estudo.
A princípio, no Brasil, a pesquisa conduzida pela Fiocruz recrutou voluntários entre profissionais de saúde na ativa, mais expostos ao risco de infecção. Com o início da vacinação justamente para esses profissionais da linha de frente do combate à pandemia, e também devido a problemas operacionais de liberação de verba para iniciar o projeto anteriormente, a pesquisa foi expandida para abarcar familiares próximos desses profissionais de saúde. “Inicialmente, estamos priorizando faixas etárias que ainda deverão aguardar um pouco mais de tempo para receber a vacina contra o coronavírus; isso é importante para separarmos o que seria efeito da vacina BCG e da vacina contra a Covid-19.”
Outras informações:
bcgcovid.fiocruz.jf@gmail.com e (32) 99826-8179 (e-mail e WhatsApp para inscrição no projeto)