Texto por: Larissa Rodrigues
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A degustação de pratos tendo como o principal aperitivo o fruto-do-mar, incluindo lagostas, lulas, polvos, entre outros seres invertebrados, recentemente tornou-se algo muito preocupante. O que é prazeroso para nós humanos, para esses animais pode ser um procedimento doloroso, desde sua pesca ao modo de preparo por chefes de cozinha. Infelizmente, dependendo das práticas adotadas, a forma como estes animais são preparados podem ser cruéis. Por exemplo, isso pode ocorrer por meio da fervura ou desmembramento com eles ainda vivos, ou ainda imersão em água doce causando um choque por estarem em um ambiente diferente do que normalmente vivem (água do mar). Portanto, tendo em vista estudos recentes, medidas contra a captura e preparação errônea desses animais, bem como medidas legais que garantam a manutenção de seu bem-estar necessitam serem tomadas.
Estudos recentes, elaborados por cientistas do Centro de Filosofia das Ciências Naturais e Sociais da Escola de Economia e Ciência Política de
Londres, mostraram que os moluscos como polvos e lulas, e crustáceos como lagostas, lagostins e caranguejos, são seres sencientes, ou seja, são capazes de sentir dor e sofrimento. O estudo aplicou diversos critérios relacionados com a função neurológica (do sistema nervoso) e comportamento dos animais, para medir se podem sentir dor e sofrimento. No estudo, conferiram a capacidade de aprendizagem, presença de “sensores” para a dor e suas ligações com certas partes do cérebro, resposta a medicamentos contra a dor, e também comportamentos relacionados à autoproteção. Concluiu-se, então, que os animais com maiores evidências de senciência foram os polvos e os caranguejos.
O relatório sugere alternativas em relação a algumas práticas comerciais, para que o processo cause menos dor ao animal, além de melhorias no transporte e abate. Menciona-se que o atordoamento dos
animais utilizando descargas elétricas pode induzir um estado semelhante a convulsões, o que diminui mas não elimina totalmente a resposta do sistema nervoso à água fervente. Ficou muito evidente que métodos de abate como a imersão em água fervente ou a separação de partes do corpo devem ser substituídos.
No Brasil, o estado do Ceará é o principal produtor de lagosta no país, responsável por cerca de 65% das exportações. No entanto, houve grande queda da produção de lagosta ao longo dos anos. Em 1991, a produção anual era de 11 mil toneladas e, nos dias atuais, 4500 toneladas. Segundo estudos publicados pela Oceana, a população de lagosta-vermelha sofreu uma redução de mais de 80% desde o início da prática pesqueira em 1950, por consecutivas falhas na gestão da pescaria, como nas medidas de ordenamento, no controle e no monitoramento. Isso demonstra, por si só, um descaso quanto ao consumo consciente destes animais.
Os polvos são muito presentes na culinária mediterrânea e do leste asiático, pois possuem proteínas de altíssima qualidade. A demanda desses animais subiu nos últimos anos. Entretanto, houve uma queda brusca na quantidade de polvos sendo capturados em locais tradicionais de pesca, demonstrando o quanto a pesca descontrolada altera o número de animais em seus ambientes ao longo do tempo. Devido a sua beleza e comportamentos complexos, os polvos transformaram-se em criaturas propaganda pelos direitos e bem-estar animal e estão envolvidos em uma luta sobre a ética e os possíveis impactos ambientais de criá-los em cativeiro para a produção de alimento.
A Lei do Bem-Estar Animal fornece uma garantia crucial de que o bem-estar animal é devidamente considerado. Os estudos científicos dizem que os animais mencionados aqui podem sentir dor e, por isso, é justo que sejam abrangidos por esta peça vital de legislação. Contudo, o projeto de lei, infelizmente, não objetiva implementar mudanças obrigatórias nas práticas de pesca e captura destes animais. O projeto de lei tem como objetivo, apenas, “assegurar que o bem-estar animal seja considerado em decisões futuras”, resumindo-se em uma situação deprimente. Portanto, é papel também da sociedade pressionar para que a legislação acompanhe o conhecimento científico, visando o bem-estar de todos os animais!
Referências e Imagens:
https://www.aquariossobrinho.com/
https://lafond.com.br/2015/04/01/comendo-uma-lula-viva/
https://cidadeverde.com/noticias/27418/ibama-do-piaui-proibe-a-caca-de-caranguejo-uca
https://www.mundoecologia.com.br/animais/caracteristicas-da-lula-e-fotos-de-lula-do-mar/
https://revistamenu.com.br/lagostas-e-polvos-sentem-dor-e-nao-devem-ser-cozidos-vivos-diz-estudo/
https://www.peritoanimal.com.br/o-que-o-polvo-come-23468.html
https://www.tricurioso.com/2019/04/04/por-que-as-lagostas-sao-cozidas-ainda-vivas/