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Quem estuda bicho? Paulo Amorim

Prontos para mais um “Quem estuda bicho”?

O convidado do mês é o Paulo Sérgio Pereira de Amorim (visite seu site), biólogo pela UniCEUB, mestre em Comportamento e Biologia Animal pela UFJF e doutorando em Biodiversidade e Conservação da Natureza pela UFJF.  Confira nossa entrevista abaixo, e não se esqueça de ir até nosso post no Instagram para curtir, comentar e compartilhar!

 

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CIZ: Paulo, nos conte um pouco da sua trajetória acadêmica, começando lá no início mesmo, quando você percebeu que queria cursar Biologia.

Paulo: Sempre tive muita afinidade com animais e plantas. Ainda criança lembro dos meus “campos” ao longo da vizinhança procurando por insetos e plantas. Ainda nesse período, lembro que eu gastava horas assistindo programas de vida animal. Meu desejo em ser biólogo, por sinal, surgiu graças a estes programas.

Mas por pertencer a uma família pobre e sem muitas perspectivas, sabia que esse sonho não seria fácil de alcançar. No último ano do

Gravação do som acústico não-vocal da Rolinha-cascavel (Columbina squammata) no campus da UnB

Gravação do som acústico não-vocal da Rolinha-cascavel (Columbina squammata) pelo Paulo no campus da UnB

ensino médio, consegui um estágio na Coordenação de Biossegurança de Organismos Geneticamente Modificado do Ministério da Agricultura, estágio esse que abriu minha mente para as possibilidades de trabalho no campo da biologia. Finalizei o estágio determinado a fazer o impossível para conseguir cursar biologia e trabalhar com biologia molecular. Mas, como previsto, não foi fácil alcançar esse sonho… após passar um tempo trabalhando no comércio para conseguir recursos para comprar algumas coisas básicas, decidi que era a hora de tentar avançar naquele sonho antigo.

Após festejar minha aprovação no vestibular para o curso de Ciências Biológicas no Centro Universitário de Brasília – UniCEUB, a ficha caiu e eu percebi que minha realidade não permitiria arcar com o alcance daquele sonho. Porém, após conseguir recursos para arcar com as duas primeiras mensalidades da graduação com uma grande amiga e patroa da minha mãe, que é empregada doméstica, decidir arriscar e fazer matrícula na instituição. Ainda no primeiro mês, e após tomar ciência do funcionamento e documentação necessária para solicitar o tão importante Fundo de Financiamento Estudantil – FIES, percebi que existia uma luz no fundo do túnel para alcançar aquele meu velho sonho.

 

CIZ: Seu plano inicial era se tornar Zoólogo ou foi algo que você descobriu ao longo da graduação?

Paulo: Meu sonho inicial na biologia era ser um apresentador de programa de vida animal (risos). Eu nem sabia o que era zoologia. No final do ensino médio, me apaixonei pela biologia molecular, e, graças a oportunidades que apareceram durante a graduação, quase direcionei minha carreira aos estudos de cultura de tecidos e transformação genética. Ao longo da graduação, tive a oportunidade de desenvolver várias habilidades e competências, na área molecular, em comportamento animal (um ramo da zoologia) e na educação ambiental. Me percebi um sujeito apaixonado pela zoologia nos últimos semestres da graduação.

 

CIZ: Conte um pouco sobre as áreas de pesquisa do seu interesse e quais pesquisas mais importantes que já participou/desenvolveu…

Paulo: Tenho interesse em todos os temas relacionados com comportamento animal, em especial com o grupo das aves. Em resumo, iniciei meus estudos nessa área da zoologia no segundo semestre da graduação, após o convite do Prof. Dr. Raphael Igor Dias (UniCEUB) para participar de uma Iniciação Científica. Neste projeto, buscamos caracterizar o som emitido pela espécie de ave Rolinha-cascavel (Columbina squammata), identificar características morfológicas nas penas de voo associadas com a produção do som e entender o papel deste som em uma situação potencial predatória. Esse projeto já resultou em capa de revista, duas publicações em revista internacional e algumas premiações em congresso regional, nacional e internacional.

À esquerda, procedimento em campo para anilhamento do João-de-barro (Furnarius rufus). À direita, o animal anilhado.

À esquerda, Paulo realiza procedimento em campo para anilhamento do João-de-barro (Furnarius rufus). À direita, o animal anilhado.

Mais adiante, e também a convite do professor Raphael, desenvolvi uma nova iniciação científica com foco no entendimento do papel da mídia de notícias virtuais e da rede social Twitter na sensibilização social e disseminação de conteúdos da educação ambiental. Os resultados deste projeto resultaram em um artigo recentemente aceito para publicação em uma revista nacional e duas menções honrosas.

Paralelamente, e graças a uma oportunidade ofertada pela Dra. Diva Dusi e equipe, desenvolvi duas iniciações científicas no Laboratório de Reprodução Vegetal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Nesse laboratório, buscamos desenvolver um método de cultura de tecidos biológicos da planta capim-mombaça (Panicum maximum), trabalho esse que resultou em um boletim de pesquisa publicado na Embrapa e uma premiação no congresso de iniciação científica da instituição.

Agora inteiramente focado no estudo do comportamento animal, venho desenvolvendo no Laboratório de Ecologia Comportamental e Ornitologia da UFJF sobre a orientação do Prof. Dr. André Guaraldo e colaboradores doutorado com tema de pesquisa em comunicação animal e reconhecimento social. Mais especificamente, busco expandir os achados da minha dissertação no mesmo laboratório e explorar os fatores ecológicos e biológicos que se relacionam com a capacidade de reconhecimento social da espécie de ave João-de-barro (Furnarius rufus). Alguns achados dessa pesquisa (i.e., pertencente ao meu mestrado) já se encontram em revisão em revista internacional, além de terem resultado em duas premiações de apoio à pesquisa e uma premiação em congresso nacional.

Neste site é possível encontrar minhas publicações sobre os temas acima.

 

CIZ: Você teve muitas expectativas frustradas ou já tinha ideia dos desafios que iria enfrentar como pesquisador?

Paulo: Tive a sorte de contar com as pessoas certas ao longo dessa minha formação em andamento. Isso possibilitou a execução de boa

parte daquilo que eu gostaria de fazer. Mas uma coisa é certa: são vários os desafios que precisamos enfrentar para manter a motivação frente
às diferentes barreiras.

 

CIZ: Conte um pouco sobre a rotina de trabalhos de campo, os processos de coleta de dados e também alguma história engraçada ou inusitada!

Paulo: Meus trabalhos em campo costumam ser intensos, em termos de energia e tempo. Para estudar aves, muitas vezes é necessário

Tirando medidas corporais do João-de-barro (Furnarius rufus) em campo

Paulo tira medidas corporais do João-de-barro em campo

acordar cedo. Em meus estudos em comportamento animal, busco sempre usar aplicativos em smartphones para facilitar a coleta de dados. Por ter desenvolvido trabalhos em ambiente urbano, é normal esperar que situações inusitadas tenham ocorrido. Já tive que lidar em campo, por exemplo, com crianças que queriam ficar passando por baixo da rede de captura de aves, e transeuntes que denunciavam nosso trabalho para a segurança, achando que o procedimento era uma ação ilegal.

 

CIZ: Qual o maior desafio que já enfrentou na ciência até agora?

Paulo: Considero a barreira linguística e a dificuldade financeira como os principais desafios. Mas não deixo isso me entristecer, costumo encarar com motivação as dificuldades.

 

CIZ: O que você diria para os futuros biólogos e zoólogos? O que você diria para os futuros biólogos e zoólogos?

Paulo: Tenham constância e sejam motivados por todas as oportunidades que aparecerem ao longo da formação acadêmica. Por trás de cada oportunidade, há uma chance para você mudar de vida (em todos os aspectos) e mudar a vida de outras pessoas.