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Quem estuda bicho? Paola Oliveira

Olá, pessoal! Neste mês, estamos lançando uma categoria especial de entrevista, que trará para vocês diversos pesquisadores da área da zoologia.

Afinal, quem é que estuda bicho? É o que vamos descobrir por aqui! Quem sabe não há em cada um de vocês um potencial para estudar os animais? Seja em casa, na escola, ou até na universidade, todos podemos ser um pouco zoólogos.

Nossa primeira convidada é Paola Rosa de Oliveira, bióloga pela UFJF (licenciada e bacharela), onde também fez mestrado e doutorado na na área de zoologia. A Paola até mesmo participou da CIZ lá no começo, quando participamos do Domingo no Câmpus em 2019, na praça cívica da UFJF. Confere abaixo nossa entrevista e as lindas fotos que ela disponibilizou pra gente, e aproveite para assistir à sua Live no Instagram sobre reprodução em répteis. Não se esqueçam de ir até nosso post no Instagram e curtir, comentar e compartilhar!

 

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Em laboratório, confeccionando blocos de parafina para estudar os tecidos biológicos de lagartos ao microscópio.

CIZ: Poderia nos contar um pouco da sua trajetória acadêmica? Começando lá no início mesmo, quando percebeu que queria cursar Biologia?

Paola: Eu sempre fui curiosa com a natureza em si, com tudo ao meu redor. No Ensino Médio, quando comecei a estudar sobre ecologia, animais e plantas meu interesse pela área só aumentou. E se concretizou quando estudei sobre evolução e genética. Foi quando comecei a pesquisar sobre a profissão e os caminhos que poderia seguir com ela. Comecei o curso com muitas dúvidas mas, ao longo dos períodos, eu fui tendo mais certeza da minha escolha.

 

CIZ: Sua intenção inicial já era se tornar Zoóloga ou foi um processo ao longo da graduação?

Paola: Eu entrei para a biologia bem segura da área de genética, tanto que comecei a estagiar na área já no meio/fim do 2° período. E por lá fiquei grande parte da minha graduação, estudando plantas. Até que teve um Congresso, depois um Minicurso na Semana de Biologia da UFJF e por incentivo de amigos próximos fui me descobrindo no estudo de répteis. Quando decidi que queria estudar este grupo, procurei minha orientadora (Profa. Bernadete Sousa, aposentada da UFJF) para trabalhar com citogenética de tartarugas marinhas. Foram surgindo oportunidades (e imprevistos) e eu fui me identificando cada vez mais com o estudo da morfologia (estudo da forma) de lagartos.

 

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Em Coleção Científica, analisando animais preservados para o doutorado.

CIZ: Conte um pouco sobre o grupo que estuda e qual o tema das pesquisas que já participou/desenvolveu…

Paola: Eu estudo espécies de lagartos que ocorrem quase que exclusivamente na América do Sul. Tanto as espécies do meu mestrado quanto a do meu doutorado são vivíparas (para quem não sabia, existem répteis que não botam ovos). Diferente das serpentes, os lagartos têm pálpebras e a grande maioria tem 4 patas. Eles são encontrados em quase todos os continentes e nos mais variados habitats. Os lagartos não oferecem nenhum risco à saúde humana. E possuem diversas importâncias ecológicas como, por exemplo, servindo de alimento para animais maiores (inclusive outros lagartos); ajudando no controle populacional ao se alimentar de outras espécies (como de insetos – baratas, besouros –, aranhas, escorpiões, até de pequenos mamíferos); além de dispersar sementes ao se alimentarem de plantas.

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Em laboratório, medindo lagartos preservados pela técnica de morfometria linear.

Eu comecei a trabalhar com lagartos no final da minha formação. Começou com meu Trabalho de Conclusão de Curso – TCC (que foi de revisão de estudos citogenéticos de duas espécies de lagartos) e no mestrado a morfologia entrou com tudo na minha vida, estudando os tecidos biológicos (histologia) do sistema urinário e genital das mesmas espécies do TCC. Minha principal área de pesquisa é morfologia de lagartos. Tenho dedicado os últimos quase 5 anos no estudo de uma espécie de lagarto que não tem patas (as cobras-de-vidro). Eu estudo tanto variação de forma e tamanho, quanto histologia de órgãos relacionados à reprodução. No meu doutorado, aprendi diferentes metodologias para estudar a morfologia. Além de ter retornado aos estudos de citogenética e iniciado estudos de comportamento. Desde o mestrado eu comecei a trabalhar com espécimes de Coleção Científica (que, aliás, são fontes riquíssimas para diversas áreas e metodologias de estudo).

 

CIZ: Houve muitas expectativas frustradas ou já tinha ideia do que iria enfrentar na sua área de pesquisa e estudos?

Paola: Eu tinha uma ideia inicial do que poderia encontrar no estudo com répteis. Com a experiência, percebo que muitas delas estavam equivocadas (risos). Por exemplo, eu senti dificuldade em encontrar literatura básica disponível para consulta na minha área de estudo. Hoje já aprendi como e onde procurar e quais usar, mas ainda passo meus apertos. Do ponto de vista financeiro, percebi como os estudos com espécies que aparentemente não geram retorno (financeiro, medicinal) para a população é pouco valorizada por algumas pessoas…

 

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Em campo, instalando armadilhas de coleta.

CIZ: Você faz trabalhos de campo? Conta um pouco sobre como é feito, os processos de coleta de dados e também de alguma história engraçada ou inusitada!

Paola: Eu sou mais de laboratório, mas o campo tem o seu lugar. E sempre vai render histórias! Meu primeiro campo como zoóloga foi para ajudar a instalar armadilhas de um amigo. As armadilhas servem para capturar os animais. Fui ciente do acampamento, mas me falaram que o banho seria quente (a ingênua). Se der sorte de ir com pessoas que estudam diferentes áreas, você ganha de bônus muito conhecimento sobre biologia geral. Você tem oportunidade de aprender diferentes metodologias de coleta, de preparação de material, aprender sobre o ecossistema local, além de conhecer lugares lindos (que rendem ótimas fotos e lembranças). Enfim, as atividades de campo sempre serão enriquecedoras.

 

CIZ: Qual o maior desafio que já enfrentou na ciência até hoje?

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Na rua, desmistificando os répteis e divulgando ciência.

Paola: Acho que o maior desafio que já enfrentei foi pessoal… Mudar de área de estudo, depois de toda a formação que tive durante a graduação, somado a novas metodologias e incerteza do resultado gerou uma insegurança única da escolha “tardia” da área. Mas a gente está ai para aprender, não é?!

 

CIZ: Teria um recado pros futuros biólogos e zoólogos?

Paola: Meu recado para futuros biólogos/zoólogos é: Se permitam conhecer diversas áreas/grupos de estudo. Sempre que puderem, façam cursos complementares e participem de Congressos (ou Simpósios, ou qualquer evento, seja da sua área de estudo ou de uma área que goste/simpatize). E não tenham medo das parcerias, só tem a enriquecer sua formação e seu trabalho.