A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) anunciou, no dia 3 de agosto, a compra do Sítio Malícia, que compõe uma das três partes da Mata do Krambeck. Desde então, a expectativa tomou conta da comunidade acadêmica, devido à intenção de criar um jardim botânico no terreno de 845 mil metros quadrado. De acordo com os professores do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Daniel Pimenta e Fátima Salimena, o projeto tem conotação educativa e envolve diversos cursos da instituição para a sua realização.
Com a proposta de oferecer um lazer diferenciado, o Jardim Botânico será muito mais que um simples parque aberto a visitação. A ideia é levar conhecimento e resultados de pesquisas provenientes daquela reserva para toda a sociedade, destacando a importância de se preservar e manter intactas áreas como o Sítio Malícia, que resguarda parte da Mata Atlântica.
A estimativa é que projetos de extensão sejam desenvolvidos a partir de atividades de educação ambiental, visitas guiadas e desenvolvimento de ecoturismo, exemplos de algumas ações extensionistas que podem ser executadas. “A Pró-Reitoria de Extensão e de Pesquisa são as duas maiores parceiras desse Jardim, pelo fato de que tudo que acontece ser objeto de pesquisa e desdobramento de informação para a comunidade”, explica a professora Fátima Salimena.
Como o Jardim Botânico tem um caráter multidisciplinar, ou seja, necessita da contribuição dos cursos das diversas áreas da Instituição, todos os interessados em informação sobre o meio ambiente pode vir a desenvolver projetos. “Tudo o que for feito nesse sentido, vai ser implementado e muito bem-vindo. Vão ser contribuições para o Jardim e para a nossa universidade. Acho que todo mundo pode criar expectativa de desenvolver projeto no sítio”, ressalta Fátima.
O professor Daniel Pimenta, que já coordena três projetos de extensão atualmente, não vê a hora de iniciar suas atividades na reserva. “Já vou começar no próximo semestre com os bolsistas que eu tenho. Para o ano seguinte é que vou fazer projetos específicos e chamar gente de todo lugar”, planeja.
Para o professor, é fundamental trabalhar com os moradores do entorno e desenvolver projetos de extensão nos bairros vizinhos da região. “Não tem como a gente ficar isolado ali, naquela área de reserva, porque a melhor forma de proteger a área é expandindo o conceito de necessidade, de benefício para a população ao redor”, explica.
Além da extensão, a pesquisa será um campo também muito explorado, por se tratar de um terreno particular, não foi possível ainda realizar pesquisas no Sítio Malícia. Segundo a professora Fátima, que já realizou pesquisa nas outras duas áreas da Mata do Krambeck, há muito trabalho a ser realizado na reserva, como levantamento florístico, busca e coleta de espécies presentes, época de floração e investigação sobre a história daquela região.
Pontos positivos
A construção do Jardim Botânico traz consigo pontos positivos para a comunidade acadêmica da UFJF, principalmente os alunos, e para a sociedade juizforana. Os alunos vão poder contar com um campo real de estudo, ampliando assim sua grade curricular. Além do curso de Ciências Biológicas, outros cursos como Turismo, Serviço Social, Engenharia e Comunicação poderão ser contemplados com projetos e pesquisas na reserva. De acordo com o professor Daniel Pimenta, não se deve pensar no Jardim como sendo apenas do interesse da Botânica. Todos podem e devem ser beneficiados.
Segundo o professor, os benefícios para a sociedade são inúmeros, tais como: melhor qualidade de vida e de clima, ponto turístico para a cidade e referência para a região da Zona da Mata, área de lazer, fornecimento de mudas de plantas nativas, auxílio na recuperação do Rio Paraibuna e educação ambiental para a população.
A proposta de criar o Jardim Botânico tem como desafio fazer com que a sociedade mude a sua forma de pensar sobre o meio ambiente, de forma que isso reflita em suas atitudes.
Só para lembrar
A Mata do Krambeck é uma reserva de Mata Atlântica de 347 hectares, localizada na Zona Norte de Juiz de Fora e formada pelas áreas: Retiro novo, Retiro Velho e Sítio Malícia. Em 1992, a Lei Estadual 10.943 converteu a floresta em uma Área de Proteção Ambiental da Mata (APA), com a finalidade de impedir ações de degradação ambiental e execução de obras que ameacem o equilíbrio ecológico. Entretanto, em 1993, a Lei estadual 11.336 reafirmou o APA, mas deixou de fora a área que corresponde ao Sítio Malícia.
Por não estar protegido por lei, o sítio quase virou um condomínio residencial de luxo. A polêmica sobre a possível instalação do projeto imobiliário da Construtora Carmel Empreendimentos LTDA na região vem se estendendo desde 2001 e agravou-se em 2007 com a licença prévia concedida pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comdema).
A compra da reserva pela Universidade é resultado dos esforços de vários setores da cidade, como ong’s, ambientalistas e lideranças políticas, que se mobilizaram a favor da preservação integral da Mata e contra o empreendimento. Para viabilizar a aquisição da área, a UFJF vai leiloar o prédio da antiga Faculdade de Odontologia e arrecadar o valor estimado em R$ 4,8 milhões, mais R$ 500 mil referentes às verbas complementares da União, totalizando R$ 5,3 milhões. Com isso, a diversidade da fauna e da flora das três áreas da Mata do Krambeck será preservada.
Diversidade essa que pôde ser constatada através de pesquisa iniciada em 2008 e coordenada pela professora Fátima Salimena, junto com outros pesquisadores. Em um ano, 400 espécies de plantas vasculares foram catalogadas, sendo 300 identificadas. Segundo a professora, a expectativa é que parte dessa faixa representativa da floresta e espécies que nunca foram encontradas no estado de Minas Gerais estejam presentes no sítio. “Temos muito interesse pelo Sítio Malícia porque é uma área diferente do restante da APA, por causa de condições de relevo, iluminação e declividade”, explica.
A ideia de criar um Jardim Botânico surgiu do fato de já existir um jardim em potencial no terreno particular, devido muitas espécies terem sido cultivadas pelos antigos proprietários. De acordo com Fátima, espécies como o Pau Brasil e Plátano são exemplos de plantas ali cultivadas.