Enfrentar as vulnerabilidades que comprometem o pleno desenvolvimento de adolescentes da rede pública de ensino e promover discussões sobre saúde por meio da arte. Esses são os objetivos do projeto de extensão “Maria ou João”, coordenado pelo professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Márcio Alves.
De acordo com o docente, a ação extensionista surgiu a partir da peça teatral “Maria João”, da Companhia de Dança Ekilíbrio. “Prestigiei o espetáculo em 2009. Ele trabalhava com temas como gravidez, doenças sexualmente transmissíveis, drogas, entre outros. Após a peça, os atores conversavam com os adolescentes sobre os assuntos abordados, mas nem sempre eles sabiam tirar as dúvidas. Foi nesse momento, que eu tive a ideia de desenvolver o projeto.”
Inicialmente, a ideia era levar o espetáculo para as escolas municipais de Juiz de Fora, mas a ação se concentrou no Centro Educacional Herval da Cruz Braga, no bairro São Mateus. “No local, existe um número maior de adolescentes considerados de risco, e trabalhar com esse grupo é o foco do nosso projeto. Pretendemos expandir, mas começamos com o público certo”, afirma Alves. A escola tem cerca de 200 alunos, com idades entre 12 e 18 anos, que cursam o Ensino Fundamental.
A iniciativa propõe o desenvolvimento de intervenções artísticas em sala de aula, um programa de rádio educativo e aplicação de questionários. O acadêmico do oitavo período de Medicina Marcos Negretto acredita que as entrevistas com os alunos permitem conhecer o perfil de cada um, detectando problemas de saúde, familiar e escolar. “Com o questionário, percebemos que muitos não têm acesso à saúde e à arte por falta de conhecimento.”
O vice-diretor do centro educacional, Aurélio Braga, destaca que a iniciativa proporciona muito mais que ações educativas sobre saúde. “Aqui, existe uma interação humana. Há uma relação de proximidade e intimidade entre os alunos e professores, os acadêmicos da UFJF e os atores da companhia de dança.” O vice-diretor também afirma que o resultado da ação foi satisfatório. “Saúde, educação e arte se materializaram em um projeto dentro de uma escola pública. Isso é fundamental para nosso trabalho como educador.”
Para Márcio Alves, a participação dos alunos é importante, pois o projeto é um trabalho educativo para tentar resolver problemas enfrentados por eles. “Ao participar da ação, o adolescente ganhará a possibilidade de uma consulta médica especializada e de contar com ações educativas mais efetivas.” A professora de dança da escola, Tatiana Almeida, ressalta que o objetivo de usar a arte é despertar interesse nos alunos. “Todos adolescentes têm informação, mas eu acredito que ela não seja trabalhada corretamente. Por isso, nossa intenção é lidar com o conhecimento dos alunos de forma diferente, provocando-os.”
Aprendizado
Para a acadêmica do sétimo período de Medicina, Priscilla Gasparetto, atuar no projeto é uma possibilidade de iniciar uma discussão sobre saúde fora da faculdade. “É de suma importância que nós, futuros médicos, aprendamos a lidar com os problemas que os adolescentes enfrentam e pensemos em saúde de forma mais global.”
Já para o estudante Marcos Negretto, a intenção de estar na equipe não é só aprender, mas aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula. “Queremos abordar saúde com os alunos, verificando as particularidades de cada um deles.” O universitário ainda enfatiza que a extensão possibilitou o seu trabalho em prol da sociedade. “Ao participar dos trabalhos, vi onde eu posso aplicar a medicina. Além disso, trabalhar com adolescentes é prazeroso, porque eles são um público peculiar e exigente.”
O estudante do quarto período de Artes e Design, René Loui, faz parte da Companhia Ekilíbrio desde 2003 e integrou o projeto de extensão em 2009. “A minha relação com a iniciativa começou com o espetáculo “Maria João”. Após assistir à peça, fiquei tocado e me interessei pela temática. Hoje, percebo que a dança é utilizada como forma de sensibilizar as pessoas.”