A visão do ser humano se desenvolve durante os primeiros anos de crescimento, por isso é fundamental que os cuidados comecem cedo. Muitas crianças apresentam dificuldade na escola e, em alguns casos, o motivo está relacionado a um problema na visão. Por isso, as consultas de rotina se tornam importantes. Se um profissional examinar a acuidade visual de uma criança entre três e seis anos, há chances de que o problema seja sanado.
Pensando nisso, a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em parceria com a Secretaria de Educação do município, desenvolve um projeto de extensão que realiza exames para a detecção de acuidade visual em crianças que estejam cursando o ensino infantil.
A iniciativa, coordenada pelo professor Márcio Sotto Maior, tem como objetivo diagnosticar alguma anormalidade para, posteriormente, fazer o tratamento adequado. O professor destaca que a importância do projeto é verificar se a criança está desenvolvendo uma situação patológica, chamada de angliopia, que consiste no não desenvolvimento de um dos olhos. “Se detectada até os seis anos de idade, há chances de cura. Se passar dessa faixa etária, o problema não é corrigido e a visão pode ficar comprometida.”
De acordo com Sotto Maior, o diferencial do projeto é que ele faz o diagnóstico do problema enquanto há tempo para realizar o tratamento. O teste é feito tapando um olho da criança e mostrando para ela a tabela de Snellen que fica, em média, a cinco metros de distância. Se a visualização dos dois olhos for igual, ela está desenvolvendo a visão normalmente. Porém, de acordo com o professor, existem casos de crianças que possuem 100% de visão em um olho e 5% no outro. Além da angliopia, outros problemas comuns diagnosticados nas crianças são hipermetropia, miopia e estrabismo.
A equipe conta com um bolsista e 14 voluntários. Para o professor, a importância dos acadêmicos participarem dos trabalhos é que, além de desenvolverem a atividade médica, eles passam a se preocupar com o lado social da medicina. Já para as pessoas atendidas, a importância se restringe à facilidade de se ter acesso ao teste.
Para visitar as escolas, é necessário que a equipe de acadêmicos tenha autorização da Secretaria Municipal de Saúde, da diretoria da escola e dos responsáveis pelas crianças. Quando alguma doença é detectada, é feito um encaminhamento para um setor de oftalmologia para que o problema possa ser tratado adequadamente. O bolsista Flávio Penna cursa o décimo período de medicina e integra a equipe desde 2009. “Entrei na faculdade pensando em trabalhar com oftalmologia e esse projeto me aproximou da área. Para mim, o mais importante é o contato com doenças que podem se prevenidas e corrigidas.”
Saulo Martins, estudante do nono período de medicina, faz parte da equipe há dois anos e destaca que participar da iniciativa é uma forma de ver como é o cotidiano do profissional. “Ver como o trabalho funciona vai me ajudar no mercado, principalmente se eu for seguir a área de oftalmologia.” Já Uiara Ribeiro, estudante do nono período de medicina, faz parte do projeto há dez meses. Para ela, o mais importante da iniciativa é que os alunos podem retribuir para a sociedade o aprendizado adquirido. “Aqui lidamos diretamente com as pessoas, adquirimos experiências e transmitimos conhecimentos. Isso é fundamental para o trabalho do médico.”
Em cada escola são atendidos aproximadamente 80 alunos. As visitas são feitas mensalmente ou a cada dois meses. Em dezembro, a Escola Municipal Professor Carlos Alberto Marques, localizada no bairro São Pedro, foi visitada pela equipe. Para a diretora da escola, Patrícia Mello, a iniciativa é de suma importância para a escola. “Deveriam existir mais projetos da Universidade voltados para os colégios, pois temos crianças muito carentes, que não tem condições financeiras de procurarem um especialista. Com o apoio da UFJF, eles ganharam a oportunidade de fazer um exame gratuito e de qualidade.” Patrícia também destaca que os acadêmicos fazem um excelente trabalho. “Eles são atenciosos, responsáveis e muito competentes.”