Os transtornos mentais se caracterizam por anormalidade, sofrimento e comprometimento psicológico ou mental e, em algum momento da vida, eles afetam cerca de 20% da população mundial. Há duas décadas, o Brasil começou uma reforma psiquiátrica que evita as internações e procura fazer o tratamento em Centros de Atenção Psicossocial (Caps), que foram implantados no país em 1986. Eles foram criados para a ressocialização de usuários de hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em Juiz de Fora, o Caps Casa Viva atende cerca de 40 usuários diariamente e conta com o auxílio do projeto de extensão “Todo mundo tem um pouco”, da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Coordenada pela professora Teresa Cristina Soares, a iniciativa faz parte da disciplina Enfermagem e Saúde Mental e tem como objetivo inserir o usuário na sociedade. De acordo com a docente, no início, as atividades abrangiam apenas as consultas de enfermagem. Mas, hoje, o projeto conta com quatro oficinas: salão de beleza, consultas de enfermagem, caminhada cultural e artesanato.
A professora destaca que o salão surgiu porque, na maioria das vezes, o doente mental não tem uma preocupação com sua higiene pessoal. “Essa é uma oficina de autocuidado, que visa a ajudar o usuário a aprender a cuidar de si.” Já nas consultas, são realizadas avaliações que competem ao enfermeiro. “Realizamos um exame clínico. Se alguma anormalidade for detectada, encaminhamos esse paciente para um especialista.” Na caminhada cultural, uma vez por semana, os usuários participam de um evento que esteja sendo realizado na cidade. Já na oficina de artesanato, o foco é trabalhar as habilidades que os usuários possuem e desenvolver as de maior dificuldade.
As oficinas funcionam ao mesmo tempo, a fim de que os usuários possam escolher o que querem fazer. “A intenção é dar liberdade para o paciente fazer suas escolhas”, comenta a professora. Além dessas atividades, os acadêmicos que auxiliam nos trabalhos conversam com os usuários sobre temas como dengue, HIV, febre amarela, entre outros.
Segundo Teresa, para os dez alunos que atuam no Caps, fazer parte da equipe gera aprendizado. “No campo de saúde mental, não existe outro trabalho parecido como o realizado aqui. Por isso, é de suma importância que os alunos conheçam o funcionamento do centro e como é o trabalho que desenvolvemos.” Para Fernanda Bertocchi, que cursa o sétimo período de enfermagem, o mais importante de integrar o projeto é aprender a lidar com as diferenças. “Nós realizamos um processo de socialização com os pacientes. As oficinas são ferramentas essenciais para isso, pois é um espaço aberto. Eles abordam assuntos que, provavelmente, não falariam em consultas médicas.” Além disso, Fernanda ressalta que estar atuando no Caps é um ponto positivo para quem deseja trabalhar com saúde mental e também para quem se deparar no futuro com algum caso de transtorno psíquico.
Já a estudante do sétimo período de enfermagem Laís Moreira entrou para a equipe há quatro meses e se surpreendeu com o funcionamento do local. “Eu tinha uma ideia diferente de como era o trabalho. Participando das atividades, descobri que o cuidado com os usuários é algo prazeroso.” Para o estudante Wallace Hadade, também do sétimo período, participar das atividades no Caps foi mais do que aprendizado. “Para mim foi uma queda de preconceitos. Convivendo com essas pessoas eu percebi o quanto o profissional da enfermagem pode fazer para ajudar.”