Os pais sabem que escovar dente é uma rotina saudável e que deve ser iniciada nos primeiros anos de vida de seus filhos. No entanto, o que alguns podem não ter conhecimento é de que a preocupação com a saúde bucal dos bebês deve começar já na gestação, quando os hábitos da mãe influenciam o seu desenvolvimento. Pensando nisso, foi criado o projeto de extensão “Só-Riso – Atenção Materno-Infantil”, coordenado pela professora da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Rosangela Almeida. A iniciativa visa ao tratamento preventivo e curativo de gestantes e de crianças de zero a cinco anos.
De acordo com Rosangela, o projeto é voltado para um público que, normalmente, tem dificuldade de ser atendido. A gestante, por estar cercada de mitos e crenças, tanto por parte do profissional quanto da mulher; e as crianças, por estarem em uma faixa etária que requer cuidados e atenção especial, o que impede de serem atendidas em clínicas comuns. “Essas chegariam aos cinco anos com uma necessidade de tratamento odontológico muito grave. Com isso, o profissional atuaria quando ela já estivesse com dor e com alguma doença bucal.”
A iniciativa desenvolve atividades clínicas preventivas e de tratamento na Faculdade de Odontologia, além de promover orientações individuais a gestantes e aos pais. “São informações sobre hábitos alimentares, escovação, formação dos dentes e, no caso das gestantes, as repercussões que sua saúde bucal pode ter na saúde do seu filho”, relata a professora.
Os pacientes são encaminhados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A duração e a periodicidade no projeto variam de acordo com a particularidade de cada um. No caso das crianças, assim que elas atingem uma maturidade emocional e comunicativa são encaminhadas para a clínica de odontopediatria, cujo tratamento também é oferecido pela UFJF.
O trabalho conta com a colaboração de uma equipe de profissionais, composta por professores, bolsistas e voluntários. As atividades são acompanhadas de perto pelos pais, que não só levam seus filhos, como podem ficar presentes durante toda a consulta.
Profissional Especializado
Além de servir à comunidade, o projeto atende a uma demanda dos próprios alunos, já que o curso não possui disciplinas relacionadas à odontologia para bebês, o que pode vir a interferir na área de abrangência dos futuros profissionais. “Os tópicos abordados nesse campo de atuação não são, às vezes, completamente ministrado nas aulas teóricas e na parte prática da graduação. Então, você não pode pedir para um estudante atender a uma criança de um ano, pois há particularidades nesse atendimento que não são facilitados em uma clínica-escola”, explica Rosangela.
Por isso, a experiência no Só-Riso torna-se um diferencial na vida acadêmica dos universitários participantes. É o caso da bolsista Evelyn Teixeira, que pretende seguir a área de odontopediatria e encontrou na iniciativa o embasamento que precisava. “Pra quem gosta de crianças e da área, a ação extensionista oferece uma base completa. Você aprende a como lidar com elas, os tratamentos necessários, os cuidados, as doenças e como orientar os pais. É muito bom.”
O projeto tem interface com ensino e pesquisa, nos quais os bolsistas recebem uma fundamentação teórica. Sob a orientação de professores, são realizados grupos de estudos, com discussões de artigos e de assuntos recentes, referentes ao tratamento destinado a esse público alvo.
Evelyn, que está no décimo período da faculdade, se diz satisfeita com o aprendizado. Para ela, participar do projeto é gratificante, não só no campo profissional, como no pessoal. “É excelente. Sinto meu lado materno até mais aflorado. As atividades estimulam isso em você.”
Sorrindo à toa
A iniciativa, criada em 1999, tem obtido resultados satisfatórios. “Hoje, temos crianças de dois anos que não apresentam doenças bucais porque suas mães foram orientadas enquanto gestantes. A gente vê o resultado daquele conhecimento teórico na prática.”
Ainda de acordo com Rosangela, é visível a mudança de hábito na comunidade atendida. A prova disso é a dona de casa Elaine Moraes, que traz sua filha Ana Clara, de dois anos, para ser acompanhada pelo projeto. “Atualmente, tenho o hábito de cortar os doces. Com isso, tenho mais responsabilidade na escovação dos dentes dela.”
Além de Ana Clara, a moradora do bairro São Pedro traz sua outra filha, de 13 anos, para ser tratada na iniciativa. “Quando trouxe a Raquel, os dentes de leite dela não haviam caído. Então eles arrancaram e colocaram aparelho. Se não fosse o projeto, eu não iria saber e ela teria os permanentes comprometidos.”
A relação da família Moraes com os projetos de extensão da Faculdade de Odontologia já é de longa data. A dona de casa conta que soube da iniciativa com o seu irmão, que fazia tratamento dentário na época em que o prédio do curso se localizava na rua Espírito Santo. Hoje, além das filhas, a própria Elaine faz tratamento na faculdade. E, segundo ela, é difícil imaginar como seria sua vida se não existisse esse tratamento gratuito. “Tenho só a agradecer. Como não trabalho, seria muito difícil pagar um dentista. Com isso, poderia até comprometer os meus dentes e os das minhas meninas.”
Casos como o da moradora do São Pedro servem para mostrar à Rosangela, que o projeto está no caminho certo. “O plano futuro é que tudo que nós pudermos fazer em graduação gere um retorno para a comunidade. Esperamos que mais pessoas possam ser atendidas. Quem sabe por meio de uma parceria com iniciativas de outras áreas”, diz a coordenadora.
Local de atendimento
Sala de Clínica nº 06 – Faculdade de Odontologia – Campus
Horário: Segundas e quartas, das 13h às 17h
Outras informações: (32) 2102-3856/3858
Confira a galeria de fotos do projeto: