O projeto “Atenção interdisciplinar aos pacientes em controle de hanseníase”, desenvolvido no Hospital Universitário (HU), atua desde 2003 no sentido de minimizar o estigma e o preconceito ocasionado, principalmente, pela falta de informação da população com relação à doença.
A ação extensionista, coordenada pela professora Auta Iselina, é desenvolvida pelo setor de serviço social do HU e pela equipe multiprofissional do Centro de Referência em Reabilitação e Tratamento da Hanseníase da Zona da Mata. Através de atendimentos individuais e de grupos de educação em saúde, os pacientes e familiares trocam e discutem informações sobre os aspectos clínicos e sociais relacionados à doença. O projeto também oferece um grupo mensal em que profissionais, pacientes e seus familiares discutem temas ligados a hanseníase.
Informação e tratamento
Enquanto os pacientes estão nas salas de espera do HU, a equipe faz uma abordagem, dá informações gerais sobre a hanseníase e distribui material educativo. Ao longo da semana, é feita uma reunião em que os profissionais discutem a respeito da preparação das dinâmicas e da metodologia a ser desenvolvida nas reuniões mensais que acontecem, sempre, na última quarta-feira do mês. Além disso, os pacientes são atendidos individualmente no laboratório do HU, localizado na unidade do bairro Dom Bosco. Lá, eles recebem tratamento adequado e os remédios são distribuídos gratuitamente.
Segundo a assistente social Anna Cláudia Alves, grande parte dos pacientes com hanseníase não tem informações sobre a doença e ainda sofre com o preconceito. “A maioria dos usuários que chega aqui ainda acredita que deve mudar o seu estilo de vida, separar seus objetos e se afastar das pessoas. Só com o decorrer do tratamento, depois que obtêm mais informações e têm um apoio psicológico, é que eles passam a enxergar a doença de outra forma”, declara Anna Cláudia, que faz parte da equipe do projeto.
Ela ainda ressalta a dificuldade que os profissionais de saúde, na maioria das vezes, encontram em fazer o diagnóstico correto da hanseníase. “Os pacientes assistidos no ambulatório relatam que buscaram atendimento em outros lugares, logo nos primeiros sintomas, porém, em várias ocasiões, os profissionais não souberam diagnosticar corretamente”.
O representante de vendas Cláudio Antônio Lopez, paciente do ambulatório, conta que ao receber o diagnóstico, sentiu medo de sair nas ruas antes de obter informações sobre a doença. Em tratamento há um ano, Lopez conta que a espera pelo diagnóstico foi angustiante. “Para mim, foi mais difícil enfrentar o período em que ainda não tinha certeza que portava hanseníase do que a fase do meu tratamento”.
Recuperação da autoestima
Segundo a psicóloga Letícia Campos, esse tipo de iniciativa é fundamental, uma vez que fornece ao paciente um apoio biopsicossocial, ou seja, o ser humano é visto como um todo, não priorizando um aspecto em detrimento ao outro. “Quando se fala em tratamento, automaticamente pensamos em medicamentos, mas ele vai além disso. É preciso levar em conta os aspectos sociais, psicológicos e emocionais do paciente”, afirma Letícia, que integra a equipe do projeto.
A psicóloga ressalta como o trabalho de esclarecimento e o apoio emocional é importante para o resgate da autoestima do paciente, muitas vezes abalada pelo preconceito ou até mesmo por sequelas e deformidades físicas. “O histórico da hanseníase, quando ainda era denominada lepra e não tinha cura, está muito arraigado na história de vida dos pacientes. Por isso, é muito importante trabalhar as representações da doença e da morte que pairam em torno de quem vive essa experiência”.
A dona de casa Sílvia Melo, frequentadora assídua das reuniões mensais no HU, passou pelo tratamento da hanseníase e hoje está curada. Otimista, Sílvia diz que no início do tratamento ficou muito deprimida, mas com o apoio da família e o esclarecimento dos profissionais, recuperou a alegria de viver e venceu a doença e o preconceito. “Depois de entender que a hanseníase tinha cura e que não era mais chamada de lepra, passei a enxergar o tratamento com outros olhos. As reuniões me ajudaram muito nessa caminhada. Hoje, estou mais esclarecida com relação à doença.”
Sintomas e tratamento
A hanseníase pode ser transmitida por contato físico, mas é normalmente propagada pelas vias aéreas, após o contato prolongado com a pessoa doente que não esteja em tratamento. Os principais sintomas são manchas brancas ou avermelhadas dormentes, dor nos nervos dos braços e das mãos, formigamentos, caroços no corpo, ausência de dor em casos de queimaduras ou cortes. O tratamento pode durar de seis meses a dois anos e é feito com medicação específica.
Outras informações 4009-5393