Devido à carência de um ensino que valorize a diversidade e reconheça as diferenças de alunos com deficiência, o diretor do Centro de Ciências da UFJF e professor de química do Colégio de Aplicação João XXIII, Eloi Teixeira, criou o projeto “O ensino de química para alunos surdos: construindo novas possibilidades”, que busca abrir espaço para que esses estudantes possam ter acesso a um ensino mais direcionado, que valorize as suas potencialidades e respeite os seus limites.
O Centro de Ciências recebe visitas de escolas para conhecerem as instalações e os projetos desenvolvidos no local. O interesse de trabalhar com alunos surdos foi despertado por meio do contato com uma aluna deficiente auditiva, que visitou a exposição “Cadê a Química?”, exposta há um ano e meio. “A estudante ficou deslumbrada com a exposição por ser muito visual e concreta, características que facilitam sua interpretação. A mãe dela, motivada com o aprendizado adquirido pela filha durante a visita, me procurou, propondo um trabalho nessa área”, comenta Teixeira.
O projeto foi criado em 2012 e tem o objetivo de possibilitar o ensino da química de forma concreta. Para o docente, tudo aquilo que é visto em sala de aula é feito de forma experimental, através do uso de recursos didáticos visuais e atividades práticas em laboratórios, contribuindo para a redução das dificuldades dos alunos com a terminologia e símbolos específicos da química. Atualmente, a iniciativa conta com a participação de quatro estudantes e, no próximo ano, o coordenador pretende expandir a turma.
Teixeira reúne-se com o voluntário do projeto, Vinícius Carvalho, semanalmente, para programar as aulas. As atividades contam com o acompanhamento das intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) da UFJF. A linguagem de Libras não apresenta a terminologia usada na química, o que se torna um desafio para os envolvidos no projeto. O docente também lembra que, com a implantação do curso superior em Libras na UFJF, o projeto poderá contar com mais profissionais da área, o que é essencial para o desenvolvimento das atividades.
Recém-formado em química, Carvalho acredita que a iniciativa contribuiu para a autoavaliação de sua profissão. “Aprendemos a ter um olhar mais aguçado a partir do material que construímos, uma vez que tudo para eles é muito sensível. O contato com o projeto me acrescenta muito, gerando maior reflexão sobre a minha própria prática.”
O resultado positivo alcançado pela iniciativa do Centro de Ciências serviu de inspiração para o campus de Juiz de Fora do Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais. Ao longo deste ano, o Instituto tem oferecido aulas de física a partir dos mesmos princípios adotados no Centro de Ciências.
De acordo com o coordenador, a inclusão, seja de deficientes auditivos ou visuais é necessária, desde que o aluno esteja efetivamente incluído no contexto e recebendo a devida atenção. “Nosso projeto busca exatamente isso. Procuramos incluir o aluno de forma efetiva, fazendo com que ele entenda a química como os demais alunos, para que eles possam acompanhar o aprendizado e sentir-se realmente incluídos na turma.”