Dados divulgados pelo Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF) preocupam. Segundo a pesquisa, mais de 25% dos estudantes que terminam o ensino fundamental são analfabetos funcionais. Um dado ainda mais preocupante é que 4% não atingem níveis básicos de alfabetização. Esse elevado número indica que, mesmo após completar as etapas básicas de ensino, muitos alunos saem sem aprender realmente o que deveriam, o que revela uma deficiência no sistema de ensino brasileiro.
Detectado esse problema, a professora Luciane Manera desenvolveu o projeto “Formação Inicial e Continuada de Professoras Alfabetizadoras”, que busca desenvolver um trabalho de capacitação dos professores, para que eles possam alfabetizar as crianças de uma forma lúdica. A iniciativa usa métodos diferentes dos tradicionais. “Buscamos incentivar as crianças na prática da leitura, com o uso de elementos que estão no dia a dia delas. Não há uma receita para isso, mas esse método é um ponto de partida”, explica Luciane.
Para que o objetivo seja alcançado, a metodologia de trabalho é pautada no processo reflexivo. A docente diz que não quer ensinar aos professores como alfabetizar, mas levá-los a refletir sobre qual é a melhor forma. “Pretendemos que eles analisem as práticas usadas em sala de aula, assim como a relação com os alunos.”
Umas das professoras que atuará no projeto em 2013 é Zaine Mattos, que atua há mais de 20 anos na rede pública municipal de Juiz de Fora. Para ela, lecionar para crianças exige aprofundamento contínuo. “A alfabetização nos demanda um repensar cotidiano da prática, o que nos impulsiona a uma procura constante por novas discussões teóricas para o domínio da prática”, afirma Zaine, que há dez anos trabalha com o primeiro ano do ensino fundamental.
Incentivo
A iniciativa foi aprovada pelo edital 2013 do Programa de Extensão Universitária (Proext) do Ministério da Educação e receberá R$ 50.000 de incentivo. Integrarão a equipe, cinco professores, cinco bolsistas e o grupo de pesquisa Alfabetize.
O grupo de docentes foi escolhido a partir de seleção que contou com 25 candidatas, todas da rede municipal. “Foi quase um vestibular. Houve uma demanda muito grande e isso foi muito interessante para o projeto”, conta Luciane.
As bolsistas, estudantes de pedagogia, atuarão em três frentes. Das 12 horas que cumprirão por semana, passarão quatro na escola, aprendendo e ajudando as professoras, outras quatro na Universidade, onde desenvolverão material didático, como cartazes e jogos, e as restantes em uma reunião semanal com o grupo de alfabetização, ao qual já estão incorporadas. Posteriormente, o projeto atuará junto à instituição Aldeia Infantil SOS, na qual as estudantes trabalharão com 50 crianças.
Piloto
Previsto para começar em 2013, o projeto teve uma experiência piloto neste ano. Há quatro meses, foi criada na Escola Municipal Vereador Marcos Freesz, no bairro Eldorado, uma atividade voluntária. Com três meses de funcionamento, praticamente todas as crianças do colégio já haviam sido alfabetizadas. Um fato que tem motivado os familiares dos alunos. “Recebemos um bilhete de uma mãe, que nos agradeceu por termos ajudado sua filha a escrever e estimulado nela o prazer de ler em casa”, conta Luciane.