Antes dos prédios do campus da Universidade Federal de Juiz de Fora o que se via eram as pastagens e plantações do antigo sítio Martelos. Para que a cidade universitária pudesse ser construída, foi preciso terraplanar a área deixando o terreno estéril, ácido e impróprio para cultivo. Com a finalidade de conter problemas de erosão e arborização foram plantados no campus bambus e Pinus, que é a árvore predominante no local e resistente a esse tipo de solo.
Em 2003, a UFJF sofreu com alguns problemas relacionados ao Pinus e a administração da Universidade sentiu a necessidade de criar o projeto “Manejo da Flora do Campus da UFJF e da Região”. “Ocorreu uma chuva muito forte e as folhas entupiram as calhas”, conta o professor Daniel Pimenta, um dos responsáveis pela iniciativa.
O projeto começou com o intuito de levantar todas as plantas arbóreas existentes e planejar intervenções para o controle da arborização no campus. Com a construção do Jardim Sensorial e a aquisição de parte da mata do Krambeck para a implantação do Jardim Botânico, o projeto foi ampliado.
O Pinus e a Universidade
Considerado como um dos símbolos da UFJF, o Pinus é uma espécie invasora das regiões temperadas da América do Norte. “Essa árvore invade as nossas áreas naturais. Ela é capaz de colonizar esses ambientes e competir com a vegetação nativa”, explica o professor Fabrício Carvalho, um dos responsáveis pelo projeto.
Com o passar do tempo, houve recuperação gradativa da vegetação nativa em alguns lugares do campus, como a área verde próxima ao Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e à concha acústica. Segundo o professor Daniel Pimenta, isso se deve a um fenômeno chamado dispersão. “É um processo natural. O vento ou mesmo o passarinho traz a semente.”
Segundo o estudante Breno Moreira, que está desenvolvendo sua monografia sobre a área verde do ICB, o Pinus, embora ainda tenha forte dominância na composição do local, está em processo de exclusão da comunidade com a chegada das árvores nativas. “Ela não está se perpetuando e a tendência é que, daqui a dez ou 20 anos, essa espécie tenha sua dominância reduzida e as nativas passem a dominar.” O estudante também aponta que a recuperação da mata nativa proporciona atrativos, ao melhorar o clima e servir de abrigo e alimento para animais como aves e micos.
Jardim Botânico
Em agosto de 2009, o projeto foi ampliado com a compra do sítio Malícia, que compõe uma das três partes da Mata do Krambeck, destinada à criação do Jardim Botânico. Atualmente, a comissão de implantação desenvolve uma proposta de intervenção, que prevê a construção de prédios e trilhas para visitação, além da implantação de coleções. “Estamos finalizando isso para enviar a proposta para alteração de área. Só falta passar pelo órgão competente”, conta Daniel Pimenta, um dos membros dessa comissão.
Enquanto as obras não começam no local, os alunos da graduação realizam um levantamento do que há na área. Dentro do terreno, existem estudos para avaliar a mata. Um deles foi a dissertação de mestrado defendida por Cassiano Fonseca. O estudante realizou a Fitossociologia da área, uma técnica em que é medida a “saúde da mata”. Assim, foi possível detectar quais comunidades arbóreas são dominantes e quais tendem a sumir com o tempo. Estudos como este podem ser usados em futuros programas de restauração da flora da região. “Podemos elaborar um arranjo baseado nas espécies dominantes”, explica Fonseca.
Outro trabalho importante sobre o Jardim Botânico foi a dissertação de Bruno Esteves. O estudo levou em conta as comunidades dos bairros Santa Terezinha, Nossa Senhora das Graças, Eldorado, Alto Eldorado e Vista Alegre, que mantêm uma interface direta com o Jardim Botânico.
Durante o trabalho, foi realizada pesquisa em 400 residências, para saber quais as plantas medicinais mais usadas pelas comunidades no entorno do Jardim Botânico. O diagnóstico resultou em 25 plantas que foram confrontadas com a literatura científica e, dentre elas, 16 coincidiam com o conhecimento científico. “As pessoas diziam que o boldo faz bem para o fígado e que o assapeixe é indicado para problemas pulmonares. Nós comprovamos isso cientificamente”, conta Esteves.
Essa pesquisa faz parte de um trabalho para a implantação de um horto
medicinal comunitário dentro do Jardim Botânico. “A proposta tem como
objetivo um resgate do conhecimento popular, ao mesmo tempo que
favorece a conservação do espaço verde”, explica o estudante.
Jardim Sensorial
No Jardim Sensorial, localizado no campus, a interação com a população também é um dos objetivos. Em fase de conclusão das obras, o local será um espaço aberto ao público, onde acontecerão visitas guiadas por monitores. De acordo com a bolsista Juçara Marques, os elementos e as plantas serão agrupados e selecionados para intensificar as experiências sensoriais, principalmente aquelas sem o auxílio da visão. “Muitas vezes, no jardim sensorial você privilegia o tato e o olfato. Por isso, escolhemos certos vegetais que tenham mais acentuados os aspectos táteis e os aromas”, esclarece.