Foi-se o tempo em que envelhecer era sinônimo de idoso em casa, de pijamas e cuidando dos netos. Atualmente, o cenário é outro: pessoas chegando à terceira idade com uma vida ativa e independente. Em Juiz de Fora, esse grupo encontra no projeto de extensão “Incentivo à Participação Sociocultural” um estímulo para se integrar às atividades culturais da cidade. A iniciativa é coordenada pela professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Sandra Arbex.
Voltado a todos os idosos atendidos pelo Polo Interdisciplinar na Área de Envelhecimento, na Casa de Cultura da Universidade, o projeto tem como objetivo principal inserir a terceira idade nos eventos locais, de forma a resgatar seu papel na sociedade. “Queremos facilitar o acesso para que eles participem das atividades promovidas pelo município como qualquer outra geração, evitando que fiquem renegados a segundo plano”, afirma Sandra.
As atividades consistem em visitas guiadas a museus, exposições, teatros e viagens a municípios vizinhos. Além da realização de manifestações artísticas dos idosos, como apresentação de corais e dança. As ações seguem o calendário de eventos da cidade e são escolhidas a partir da demanda dos próprios idosos. Entre os lugares visitados estão o planetário da UFJF, o Museu de Arte Murilo Mendes e o Museu da Moeda. Segundo a bolsista Carla Lage, responsável por acompanhar e programar os passeios, a iniciativa é mais do que um simples turismo. “Não é só lazer. É sair daqui com um grupo que você conhece, ir a um local diferente e contribuir com aquela visita. Você vai levar a vivência do dia a dia e em troca receberá a experiência daquele momento.”
Para a psicóloga e voluntária Maria de Fátima Furiati, o fato de ser uma atividade em grupo estimula o idoso a querer participar desses eventos. “Isoladamente é difícil uma pessoa sair de casa. Ter coragem, por exemplo, para visitar obras de arte. Em grupo, tem outra conotação.”
A iniciativa também contribui para a integração de pessoas da mesma idade e com interesses em comum, de forma a estabelecer laços de amizade. “Você cria relações culturais, mostra um pouco de você, mas também tem um conhecimento do outro, que irá contribuir na sua vivência”, ressalta Carla.
O idoso nos dias de hoje
De acordo com Sandra, o projeto possui uma boa receptividade entre os participantes. “Eles gostam de estar presentes, porque não querem perder nada. Gostam da companhia, de encontrar os amigos e de ser bem recebidos.” Essa vontade de participar reflete a mudança de concepção do próprio idoso e da sociedade sobre o processo de envelhecimento. “Pelo que eu vejo, são idosos ativos, que querem a todo o momento aprender alguma coisa. Gostam de ser independentes”, garante a bolsista.
Um exemplo disso é Olinda Sixel, 65 anos. A idosa já fez diversos cursos, como capoeira, natação, inglês, informática e ioga. Atualmente, ocupa o tempo livre contracenando em peças de teatro. Olinda também adora viajar e fazer amizades. Hábitos esses aflorados pelo projeto. “Isso aqui é um remédio para os idosos que ficam dentro de casa. Eu falo que a minha vida era um portão de ferro, com corrente grossa. No projeto, consegui abrir e sair para o mundo.”
A idosa é frequentadora assídua do projeto desde 1991. Ela procurou o polo em função de problemas familiares e por se sentir sozinha. Na iniciativa, além de amizades, encontrou a cura para seus males. “O projeto traz uma compreensão e uma aceitação da vida. Abre a nossa mente. Se eu não tivesse conhecido a iniciativa, hoje poderia estar internada em uma clínica.”