Durante os 50 anos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), milhares de pessoas foram beneficiadas em projetos destinados à comunidade. Dentre essas, algumas descobriram talentos até então desconhecidos, que foram determinantes em suas escolhas ao longo da vida.
É o caso de Márcia Bonfá, que pensava em ser médica pediátrica, quando, aos 7 anos, conheceu o projeto de ginástica rítmica da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid). Na época, sua avó, bibliotecária da Faefid, buscava a neta todos os dias na escola e levava para a Universidade, onde a menina tinha contato com uma variedade de esportes. Incentivada pela professora Elenice Faccion, coordenadora do projeto em 1991, passou a frequentar as aulas de ginástica rítmica. “Logo me encantei com o esporte que me proporcionou muitas alegrias, contribuiu para minha formação pessoal e me fez desenvolver senso de compromisso, dedicação e disciplina.”
O que para muitas crianças não passava de brincadeira, para Márcia era assunto de gente grande. A pequena ginasta participou de campeonatos estaduais e nacionais e viajou para Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba. “Ficava triste quando minha avó ou minha mãe se atrasavam para me levar aos treinos. Queria sempre chegar na hora certa, se possível um pouco antes. Já as viagens eram uma oportunidade de estar em contato com profissionais talentosos. As competições eram um incentivo para continuar treinando firme.”
Após quatro anos participando do projeto, o talento de Márcia foi descoberto por uma professora que convidou a menina para aprender balé em um estúdio de dança da cidade. Aos 14 anos, já estava ensinando balé em escolinhas infantis. A bailarina formou-se em Educação Física e hoje, aos 26 anos, é professora no estúdio onde aprendeu a técnica. “Sou realizada com o balé. O projeto de extensão foi o pontapé inicial na minha carreira. Adoro ginástica e estaria praticando até hoje, mas infelizmente não é uma modalidade muito valorizada no Brasil. As técnicas que aprendi na ginástica, assim como o conceito de disciplina e persistência, ajudam-me a ensinar meus alunos no balé.”
Da plateia para o palco
Assim como a ginástica rítmica, outras atividades são capazes de despertar interesse, como o teatro. Aos 7 anos, Tiago Vitor assistiu à primeira peça teatral, estrelada pela “Escola de Espectador”, projeto extensionista que apresenta peças teatrais gratuitas para a comunidade. Empolgado com a nova descoberta, correu para casa, ansioso para relatar aos irmãos mais velhos o que assistiu no palco. “Naquele dia não senti vontade imediata de fazer teatro, mas voltei modificado para casa.”
A semente do teatro estava plantada, e, cinco anos depois, o menino retornou ao Forum da Cultura com intenção de aprender a arte. Tomou gosto pela atividade, tornou-se ator e passou a se apresentar com o Grupo Divulgação na “Escola de Espectador”. Hoje, aos 26 anos, conta que sempre esteve no palco por prazer. “Devoção é a palavra que resume quem atua nesse tipo de projeto. É você amar o que faz acima de tudo e saber que tem o poder de modificar as pessoas.”
Vitor diz que a experiência foi fundamental para sua formação profissional e pessoal. “É um aprendizado constante. O teatro me deixou mais questionador, ajudou-me em entrevistas de empregos, a falar em público e a expor minhas ideias no trabalho.” Após ser selecionado para trabalhar em um banco, Vitor teve que deixar a Faculdade de Letras, começou a cursar Administração e não se apresenta no palco com a mesma frequência de antes. Mas nem com todos esses compromissos se desligou do teatro. “Sempre que tenho tempo, estou presente na produção, na portaria, panfletando ou confeccionando os cartazes. Onde estiverem precisando de mim, estarei lá para apoiar.”