Resgatar e valorizar a história dos moradores do bairro Dom Bosco por meio de produções culturais. Esse é o objetivo do projeto de extensão “Comunicação, Memória e Ação Cultural” da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A iniciativa, coordenada pelo professor da Faculdade de Comunicação Social Bruno Fuser, é desenvolvida em parceria com as professoras Josimara Delgado e Salete Cunha.
A ideia surgiu de uma experiência no exterior, na qual Fuser acompanhou de perto um projeto de inclusão sócio-digital na comunidade da Catalunha, em Barcelona. De volta a Juiz de Fora, o professor trouxe na bagagem a vontade de desenvolver alguma ação em comunidades carentes. Com a intermediação da professora Josimara, o docente conheceu o trabalho desenvolvido no grupo espírita Semente. “Foi uma forma de se chegar ao bairro com uma visão interdisciplinar, por meio da memória, da cultura e do grupo Semente, que desenvolve trabalho com a comunidade há cerca de 30 anos”, explica.
O projeto é realizado por meio de entrevistas, produções de vídeos, oficinas fotográficas e exposições, buscando sempre a participação dos moradores de uma forma que reafirme a memória e a identidade do bairro, além de promover a interação entre jovens e idosos. Desde 2008, foram produzidos 11 vídeos pelos participantes das atividades.
Além disso, a ação tem interface com a pesquisa acadêmica, que visa à reflexão crítica sobre as produções. “É um estudo sobre comunicação e cultura. Queremos saber que visão de cultura eles pregam, qual é a identidade desses jovens e idosos nessas atividades”. O resultado das pesquisas foi transformado em artigos e apresentado em vários congressos.
A iniciativa, criada em 2008, envolve cerca de cem moradores. O trabalho é desenvolvido por uma equipe de 15 pessoas, entre bolsistas e professores, e conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), com incentivo de R$ 49,8 mil.
Comunidade receptiva
Embora tenha causado certa estranheza a princípio, a equipe do projeto foi recebida por uma comunidade receptiva e disposta a participar das atividades, como declara Fuser. “Eles têm sido receptivos, muito abertos a contar suas experiências, a discutirem sobre a suas vidas e a mostrarem suas memórias”.
Uma das moradoras participantes é Maria das Graças Morais, 55 anos, que frequenta as atividades do grupo Semente, parceiro do projeto. A cozinheira ensinou uma receita de pé-de-moleque em um dos vídeos produzidos. “Foi maravilhoso. Eu nunca imaginei aparecer no vídeo. Fiquei emocionada”. Segundo ela, a iniciativa agradou a comunidade e ajudou a mostrar o Dom Bosco de uma outra forma. “É importante porque mostra as coisas boas do nosso bairro e faz com que outras pessoas conheçam a comunidade.”
Para o bolsista do projeto Marcos Oliveira, esse contato estabelecido com os moradores é positivo. “Foi bom estabelecer laços afetivos com pessoas de uma realidade que não é a minha. Sempre enriquece, principalmente, no aspecto de quebrar certos estereótipos que chegam da mídia e de outras pessoas.”
Novas perspectivas
A iniciativa “Comunicação, Memória e Ação Cultural” entra em nova fase a partir deste ano. A ação encerra suas atividades de produção para dar lugar à difusão dos trabalhos, como explica Fuser. “É o mesmo projeto, mas com novas perspectivas. Iremos divulgar e potencializar tanto a produção intelectual e objetiva, quanto a produção cultural.”
O projeto, que passa a se chamar “Comunicação, Memória e Ação Cultural: novas perspectivas”, foi contemplado pelo Programa Pesquisador Mineiro (PPM) da Fapemig com R$ 48 mil. Para Fuser, essa continuidade do trabalho será importante para a comunidade do bairro se reconhecer e se sentir valorizada. “Nós já temos conteúdo publicado na internet, mas com pouca divulgação. Então, minha prioridade é tentar disponibilizar essa produção para eles de uma maneira ampla.”
O material será disponibilizado por meio de DVDs, a serem distribuídos no grupo Semente, na Associação dos Amigos do Noivo (Aban), na escola municipal do bairro e para alguns líderes comunitários. O acervo também será distribuído em outros pontos da cidade. “Isso contribui para que a sociedade, de uma maneira geral, visualize o bairro sem preconceitos e, também, ajude a comunidade.”
Durante os dois anos de atividades foi realizada uma exposição com o material produzido na oficina de fotografia, que contou com a participação de oito jovens. As fotos foram expostas no grupo Semente, na Aban, na Igreja de São Mateus e na Casa de Cultura. Houve também uma mostra de cinema, chamada “Rua em cena”, na qual os primeiros vídeos produzidos foram exibidos para os moradores. Atualmente, as produções audiovisuais podem ser encontradas na internet, no endereço www.youtube.com/memoriaeacaocultural.