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Projeto de extensão desenvolve ações de conscientização sobre o câncer de mama

Professora Simone Carvalho explicando sobre o autoexame na sala de espera

Uma das doenças mais temida entre as mulheres é o câncer de mama, seja por causa de sua morbidade ou pelo fato de envolver aspectos culturais, emocionais e físico. A falta de informação aliado ao diagnóstico tardio pode levar, muita das vezes, ao óbito. Pensando nisso, em 2001, um grupo de profissionais multidisciplinares se reuniram para criar o projeto de extensão “De peito aberto: Programa de Prevenção e Acompanhamento Integrado no Câncer de Mama”, com o objetivo de conscientizar sobre esse tipo de câncer e sobre a importância da prevenção. A ideia deu tão certo, que hoje o programa conta com a participação de 25 acadêmicos e docentes dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Serviço Social e Psicologia, e atende, em média, 50 mulheres por mês no Hospital Universitário (HU/CAS).
De acordo com a Coordenadora do projeto, Professora Simone Meira Carvalho, a iniciativa consiste em dar uma assistência integral às mulheres, independente de elas terem tido o câncer de mama ou não. “A gente tenta dar um suporte a essas mulheres e segurança aos seus familiares. Ao mesmo tempo em que desmistificamos esse olhar a respeito do câncer”, declara. E para cumprir com esse propósito são realizadas diversas atividades, tais como: acolhimento, sala de espera, assistência individualizada e o Grupo de Apoio Integrado (GAI).
O acolhimento é feito logo após a paciente ser consultada no ambulatório de mastologia do HU/CAS. Ela é encaminhada para outra sala, onde um ou dois acadêmicos entram em ação para esclarecer eventuais dúvidas. “É um espaço de escuta para essa mulher. Para saber se ela entendeu tudo o que foi dito ou se ela deseja falar sobre algum medo”, ressalta Simone. Através do acolhimento muitas pacientes já são encaminhadas para a assistência individualizada, para o grupo de fisioterapia e/ou para o GAI.
O Grupo de Apoio Integrado é uma das ações mais abrangentes e que envolve todas as áreas. Acontece de 15 em 15 dias e reúne mulheres, que tiveram alguma patologia mamária, familiares e pessoas convidadas, para discutirem sobre diversos assuntos envolvendo a saúde da mulher. “Nós tratamos desde direito da pessoa com câncer até assuntos relacionados ao climatério”, informa a professora. De acordo ainda com Simone, a participação em grupo é importante para as mulheres verem que não estão sozinhas e que existem outras pessoas que superaram a doença.

O acolhimento é uma das ações desenvolvidas pelo programa

Uma terceira atividade é a realização da sala de espera nos diversos ambulatórios do HU/CAS. Normalmente realizado às quartas-feiras, a ação acontece no momento em que as pessoas aguardam atendimento e busca divulgar o projeto, informar sobre o câncer de mama e a realização do autoexame. Segundo a coordenadora do programa, no início pensava-se que a sala de espera teria pouca participação das pessoas. Entretanto, à medida que foram promovendo essa abordagem, o efeito foi outro: homens e mulheres participando ativamente. Para Simone, isso é resultado de uma mudança de pensamento. “Antes não podíamos nem citar a palavra ‘câncer’, pois era a doença maligna, contagiosa. Hoje, nós estamos conseguindo mudar esse quadro”, explica.
Para que todas as ações estejam à disposição das mulheres de forma integrada, são feitas, semanalmente, reuniões com a equipe, onde estudos de casos, metodologia de trabalho, artigos a respeito do câncer de mama são discutidos. Para Simone o encontro é de suma importância, já que a interdisciplinaridade é o grande desafio a ser enfrentado. “É importante as reuniões para gente entender e respeitar o trabalho do outro profissional, inclusive conhecer. E a partir daí montar ações em conjunto para poder dar uma assistência melhor”, enfatiza.
Foi o trabalho interdisciplinar que levou a estudante do curso de Enfermagem da UFJF, Marciele Moreira, a participar do programa. “Eu percebi que era a oportunidade deu entrar em contato com outros profissionais. Além de fazer coisas mais abrangentes, que ajudam na minha formação, como a sala de espera e o próprio acolhimento,” declara. A estudante que atua há dois anos nas atividades, relata sobre a relação entre a teoria e a prática: “Você poder ter a teoria e a prática é muito melhor. Uma coisa é você estudar, outra coisa é você ver o que realmente acontece com essas mulheres”.
Buscando alavancar ainda mais o projeto, a equipe está desenvolvendo uma pesquisa sobre o câncer de mama, para a sociedade entender melhor o assunto e saber sobre o projeto. Além de motivar mais os profissionais a terem um olhar interdisciplinar.
Outras ações, como novas montagens de salas de espera, também estão sendo trabalhadas. “Nós estamos fazendo vídeos, DVDs para serem exibidos na sala de espera. Para termos um ambiente mais didático”, anuncia a coordenadora Simone. Do mesmo modo, iniciativas voltadas para os profissionais serão desenvolvidas. O intuito é saber sobre suas dificuldades e suas vivências com as pacientes que tiveram a doença. “A gente costuma muito olhar o usuário e não dar voz ao profissional”, esclarece Simone.

Um atendimento diferenciado

Há oito meses a professora aposentada, Lúcia Helena da Silva, manifestou o câncer de mama e teve que fazer a mastectomia. A partir do diagnóstico, Lúcia procurou diversos profissionais da área da saúde para fazer o tratamento pós-operatório, mas por causa do alto preço não foi possível. Foi então que soube do projeto pela irmã, que também teve câncer de mama, e procurou o serviço oferecido pelo HU/CAS. “Coloquei meu nome na lista de espera e acabei conseguindo. Comecei a fazer fisioterapia e a participar do grupo de apoio”, explica.
Depois que passou a participar do programa, Lúcia conseguiu voltar a sua vida normal. Recuperou a autoestima e o movimento do braço direito. “Como eu fui mastectomizada, não conseguia mexer com o braço direito. O acompanhamento, o tratamento, a fisioterapia, tudo isso me ajudou. Eu era uma pessoa muito depressiva e hoje sou uma pessoa ‘pra cima’. Aprendi a conviver com tudo e ver que eu não tenho nada”, relata. Ainda de acordo com Lúcia, sua vida teria outro rumo se não fosse o programa. “Eu estaria na minha cama, deitada, deprimida e sem me movimentar”.
Sobre a qualidade do serviço prestado, a paciente é só elogios. “Os profissionais e os acadêmicos são ótimos. Poderia dizer que é um tratamento ‘vip’, de alta qualidade. Coisa que a gente não vê em outro lugar.”

Outras informações sobre o projeto: depeitoaberto@yahoo.com.br