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Professoras do PPGCOM/UFJF fazem parte de estudo global que revela cenário de “Jornalismo Sob Pressão”

O Worlds of Journalism Study (WJS) é um projeto acadêmico colaborativo que atua unindo pesquisadores de todo o mundo para investigar o cenário das práticas jornalísticas contemporâneas. Neste ano, foram publicados os resultados da terceira onda do estudo, que contemplou dados de mais de 32 mil profissionais em 75 países, coletados e analisados por uma rede de mais de 300 pesquisadores.

As professoras do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF (PPGCOM/UFJF), Iluska Coutinho e Kérley Winques, fizeram parte da pesquisa que analisou os dados do cenário brasileiro. O programa também foi representado na autoria de um dos capítulos do relatório final, sobre plataformas midiáticas, formatos e culturas de notícias, com a professora Kérley Winques.

Compreendendo os novos desafios do jornalismo mundial

O relatório com os dados da terceira onda evidenciam um momento crítico de transformações e riscos nas práticas jornalísticas contemporâneas, especialmente em relação à precarização trabalhista, as novas ameaças no ambiente digital e os desafios éticos que perpassam esse cenário de pressão e tensão.

Entre os principais achados da investigação, estão o perfil em transformação de jornalistas, caracterizado por profissionais maduros e de alta qualificação profissional. Questões de gênero, no entanto, são destacadas em relação à atuação de jornalistas mulheres que, apesar de representarem maioria nas redações em 30 países analisados, ainda são minoria na atuação jornalística global e enfrentam dificuldades marcantes especialmente em regiões como a Ásia e o Oriente Médio. Sobre a atuação desses profissionais nas redações, o perfil generalista foi o que ganhou mais destaque, abarcando cerca de dois terços dos profissionais que participaram do estudo e relataram a cobertura de múltiplos tópicos, em detrimento da especialização.

As condições econômicas da profissão são outro pilar do estudo, que evidencia uma fragilidade da economia no setor. O relatório aponta para o crescimento na atuação de jornalistas como freelancers ou em trabalhos de meio período em mais de um quarto da categoria, especialmente na América Latina. Um dos fatores que contribuem para este cenário foi identificado como a baixa remuneração desses profissionais, que passam a buscar uma segunda fonte de renda.

A pesquisa evidenciou, ainda, que as ameaças aos jornalistas se transformaram nos últimos anos. Da violência física às ameaças psicológicas e digitais, os relatos dos profissionais destacaram a circulação de discursos de ódio, humilhação pública e descrédito do trabalho jornalístico, evidenciando um cenário de crise multifacetado.

Os dilemas éticos nas redações e a utilização de novas tecnologias também foram elementos de destaque no estudo. A investigação evidenciou que a maioria dos jornalistas defendem que os padrões éticos devem ser universais e inegociáveis e que as transformações tecnológicas continuam a redefinir as rotinas produtivas. A utilização de mídias digitais para apuração e distribuição de conteúdos foi relatada como central por dois terços dos profissionais que participaram da pesquisa, que também destacaram os usos de recursos de inteligência artificial nos processos de produção nas redações – aspectos que foram analisados como perspectivas em ascensão no jornalismo mundial.

A ascensão dos modelos híbridos

Embora websites e mídias sociais sejam as plataformas midiáticas mais utilizadas no cenário brasileiro, segundo dados da pesquisa, o estudo revela que o jornalismo mundial está em um estado híbrido, formando um ecossistema complexo no qual valores jornalísticos tradicionais coexistem com novas lógicas de plataformas digitais e algoritmos.

A professora Kérley Winques, do PPGCOM/UFJF, destaca que o capítulo Media Platforms, Formats, and News Cultures, do qual é co-autora, mostra como a terceira fase do estudo aprofunda de forma substancial a compreensão sobre os ambientes midiáticos e a atuação jornalística.

A seção evidencia a centralidade do digital a partir de questões relacionadas às plataformas de distribuição, formatos e culturas organizacionais, permitindo observar novas configurações das práticas jornalísticas nesse ecossistema ainda recente.

A professora destaca o protagonismo de websites, mídias sociais, meio impresso e aplicativos de notícias como as principais plataformas de comunicação, além de reforçar o predomínio do texto como formato mais utilizado e a ascensão de conteúdos multimídia, de forma desigual, no cenário global. Aproximando essas novas perspectivas trazidas pelo estudo ao contexto brasileiro, Kérley Winques afirma que:

​​“esses achados ajudam a iluminar tensões já conhecidas: de um lado, a forte dependência das plataformas para distribuição e visibilidade; de outro, as limitações estruturais que dificultam a adoção plena de formatos inovadores e estratégias próprias de circulação. O estudo evidencia que, embora estejamos inseridos nas dinâmicas globais da plataformização, seguimos enfrentando assimetrias que impactam tanto a autonomia editorial quanto as condições de inovação no jornalismo.”

Confira a pesquisa completa no Worlds of Journalism Study Report (abre em nova janela).

Veja também os Dados sobre o Brasil (abre em nova janela).