O 3º Festival “Bela, Cientista e do Bar”, que levou mulheres pesquisadoras ao longo do mês de março para apresentarem suas pesquisas no bistrô Arteria, em Juiz de Fora, teve como vencedoras duas pesquisadoras do PPGCOM-UFJF, Carla Baldutti e Carla Ramalho.
Mestre em Comunicação, na linha de pesquisa Mídias e Processos Sociais, a jornalista e atual doutoranda na UFF, Carla Ramalho, explica que conhecia o projeto Pint of Science (Festival nacional de ciência, com periodicidade anual, que tem como objetivo explicar para a população, de maneira descontraída e didática, como a Ciência funciona, bem como suas novas descobertas, estabelecendo um canal direto de conversa entre pesquisador e público), que deu origem ao Ciência ao Bar, por meio de “alguns encontros que tinham sido realizados em diferentes universidades, sempre com a proposta de levar a ciência para os mais diversos lugares e mostrar que ela pode fazer parte de nossas vidas de um jeito leve, descontraído, e igualmente importante”. Entretanto, a doutoranda não conhecia a experiência voltada apenas para as pesquisadoras. “Na realidade, quando o edital do concurso ‘Bela, Cientista e do Bar’ foi aberto, eu fui marcada nas redes sociais por várias amigas e amigos, e por isso decidi me inscrever”, revela. E acrescenta: “de cara já adorei a proposta do nome do evento e de valorizar a ciência que é produzida por mulheres. No encontro, falamos um pouco das dificuldades enfrentadas por nós, pesquisadoras, seja no ambiente institucional onde essa ciência é produzida, mas também pela sociedade que muitas vezes não nos enxerga ocupando esse lugar do pensamento crítico, de especialistas, e mesmo de cientistas”, desabafa Carla Ramalho.
A mestranda do PPGCOM-UFJF, integrante da linha de pesquisa Competência Midiática, Estética e Temporalidade, Carla Baldutti, compartilha da mesma opinião ao argumentar que o concurso “é muito importante por valorizar a produção científica só de mulheres”. Para ela, “vivemos em uma sociedade machista e a necessidade de eventos como esse mostra que as oportunidades ainda não são iguais mesmo com tantas conquistas das mulheres”. Por isso, destaca a importância de sua participação por tratar-se de um evento que levanta questões como feminismo e empoderamento das mulheres. Carla Baldutti explica que se inscreveu no concurso por querer dar visibilidade à sua pesquisa, voltada para a acessibilidade para surdos, “mas que vem sendo deixada de lado há muitos anos”, destaca.
Por causa da pandemia e da consequente necessidade de isolamento social, as atividades presenciais do concurso dos dias 18 e 25 de março foram canceladas. Apenas a edição do dia 16, em que Carla Ramalho fez a sua apresentação, aconteceu no Arteria, bar de Juiz de Fora em que o evento foi realizado. Sobre o desafio de explicar para um público leigo, em apenas cinco minutos, um trabalho acadêmico complexo, a egressa do PPGCOM-UFJF conta: “No meu caso, tentei levar o público a pensar se eles conheciam o que era uma prisão, e quantos tinham de fato visitado uma.Como a grande maioria sabia o que era, mas nunca tinha visitado, os levei a refletir sobre como muito do que eles entendiam por ‘prisão’ e ‘presidiários’ estava ligado à representação midiática desse espaço. Assim, contei como minha pesquisa procurou entender a relação entre o telejornalismo e a leitura social que é feita das pessoas em privação de liberdade, relatando meus resultados e minha experiência em um projeto social em duas penitenciárias de Juiz de Fora”, revela Carla Ramalho. A jornalista revela que a reação do público foi positiva: “depois do fim da apresentação, muitas pessoas quiseram conversar mais comigo ou me mandaram mensagem nas redes sociais”.
Já no caso da mestranda Carla Baldutti essa interação não foi possível, já que a apresentação precisou ser realizada à distância, por vídeo, sem a participação do público, seguindo critérios estipulados no edital. A mestranda conta que os responsáveis pelo evento relataram que o título do seu trabalho – “Rádio para surdos” – despertou a curiosidade de muitas pessoas. Para ela, o que despertou interesse foi “a forma que mostrei a TV sem som, como exemplo de transmissão de uma notícia que deixa a comunidade surda sem informação por não oferecer legenda nem intérprete”.
Carla Baldutti destaca, ainda, que todas as participantes saíram vencedoras do concurso por mostrarem que “somos pesquisadoras e não vamos parar”. Segundo ela, “é muita felicidade poder divulgar um tema que eu estudo para todos. Essa pesquisa é muito importante pois a questão dos surdos envolve a comunidade, decisões políticas, aplicação de leis; então é um tema que precisa ser amplamente debatido e ter a viabilidade de inclusão testada em todos os veículos, principalmente nas concessões públicas. O acesso à informação pelos meios de Comunicação é um direito de todos”, finaliza.
Carla Ramalho também comemora: “pra mim foi um grande prazer ser uma das premiadas, sobretudo por conseguir mostrar que a minha pesquisa, com todas as suas características (da área de Ciências Sociais Aplicadas, com todas as questões sociais complexas), apontou caminhos que colaboram para o enfrentamento do problema, fazendo uso do pensamento crítico e da reflexão, como toda boa pesquisa científica”.
O Concurso de Divulgação Científica “Bela, Cientista e do Bar” tem como objetivo a democratização da pesquisa científica das mulheres e a divulgação dos estudos para além da universidade. Anualmente, o evento convida mulheres interessadas em divulgar ciência a promoverem suas pesquisas científicas de quaisquer áreas do conhecimento para um público leigo, sem perder o aspecto científico da pesquisa.