Um empresário sofre um acidente após o jatinho em que viajava cair nas proximidades do Aeroporto da Serrinha, em Juiz de Fora. Após o ocorrido, uma jornalista passa a investigar o caso, em torno do qual há um mistério a ser descoberto. A partir da profissional, uma sucessão de personagens se apresentam em “Sete mentiras e uma verdade”, novo romance do professor Rodrigo Barbosa, da Faculdade de Comunicação (Facom). O livro será lançado nesta quinta-feira, 25, às 19h, na Cantina do Bexiga no bairro São Mateus.
Após concluir seu primeiro romance, “O homem que não sabia contar histórias” (2012, finalista do Prêmio São Paulo de Literatura), a discussão sobre a presença das verdades e das mentiras nas narrativas (inclusive as pessoais) passou a fazer parte das reflexões do escritor. A partir desses questionamentos, a nova obra aprofunda o tema.
Além do empresário e da jornalista, estão entrelaçadas as histórias e narrativas de outros personagens. Fazem parte do desfile tipos como um professor apaixonado, um homem de teatro, uma assessora de comunicação e um compositor – em cada uma dessas personas, há um pouco do autor.
Barbosa, enquanto professor na UFJF, também acumula experiência como jornalista, com passagem por veículos como o jornal Folha de São Paulo. O autor já atuou como secretário de Comunicação e Cultura de Juiz de Fora, bem como gestor de Comunicação da UFJF. Como letrista, as composições de Barbosa foram gravadas por parceiros respeitados como Márcio Ithaboray e Márcio Hallack, e intérpretes renomados, como Milton Nascimento e Lúdica Música.
“Há elementos de vivências, circunstâncias, desafios, obstáculos na vida, que todos os personagens vivem e que têm muita relação com experiências que eu tive”, conta. O simbolismo e a magia do número sete (o livro tem sete personas diferentes) também ajudou a inspirar o autor. “Tem um antigo ditado que diz que ‘sete é conta de mentiroso’”, brinca.
Um livro para os “desmoronados”
A protagonista do livro, Jaiane Rosa, é jornalista, mulher negra e de origem suburbana. Como define a sinopse da obra, “sua presença e identidade desafiam padrões tradicionais da imprensa e da política, em tempos de mudanças no processo de produção e difusão de informação”. Jaiane trabalha em uma revista e no portal de notícias vinculado ao título. Por meio de sua apuração, ela leva o leitor a descobrir os fatos ocultos em torno do acidente. Nesse percurso, Barbosa define que se apresentam “um conjunto de desafios que se colocam a todos aqueles que se propõem a produzir narrativas sobre a realidade, que são os jornalistas”.
Entre esses desafios, questões atuais da atuação jornalística, como a proliferação de fake news e a luta pela relevância em meio a blogs e outras páginas. “Essa personagem está, justamente, no momento da história em que essa atividade é tão questionada, enfrenta tantos desafios, no sentido de estar em um ambiente onde todos produzem narrativas, todos são jornalistas, contam histórias. Ela está escrevendo sobre o acontecimento e disputa a audiência com esses outros narradores”, observa Barbosa.
O processo de pesquisa e escrita do romance compõe o doutorado de Rodrigo Barbosa em Estudos Literários, pela Universidade Federal Fluminense (UFF), concluído em 2018. Caminho em que o escritor passou por “desmoronamentos”, que o levaram a um questionamento sobre a conclusão da obra. Esse momento de crise foi marcado por abalos sofridos pelo o que Barbosa chama de “pilares de sua formação”: o Jornalismo, a Política e a Arte.
“O Jornalismo enfrentando esse bombardeio de discussões sobre credibilidade, o contexto das notícias falsas, a perda de relevância. A política vivendo toda a crise iniciada em 2013, depois da eleição do Trump, esse avanço da extrema direita no mundo, inclusive no Brasil. Além de caminhos nos quais eu mesmo acreditei, se revelando também promíscuos e cedendo a práticas pouco éticas. E a Arte, caminhando para uma perda de qualidade, indo muito mais pro entretenimento do que para a reflexão. Tudo isso me deu uma ‘porrada’”, explica.
Após muitas reflexões e conversas, o escritor chegou à conclusão de que sim, valeria a pena dividir as aflições com outros “desmoronados”, pessoas que “poderiam, eventualmente, estar vivenciando perplexidades como a minha, poderia ter leitores interessados. E também seria uma maneira de eu organizar melhor, dentro da ficção, essas minhas angústias. A crise se transformou em um livro”.
“Sete mentiras e uma verdade” está em pré-venda no site da Editora Patuá. Pessoas que comprarem o livro antes do lançamento poderão recebê-lo autografado após o lançamento, que será nesta quinta, a partir das 19h, na Cantina do Bexiga. O restaurante fica localizado na Rua Oswaldo Aranha, 380, Bairro São Mateus. Em 10 de junho será a vez de o livro ser lançado na “A Feira do Livro”, em São Paulo.
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