O Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção em Tabagismo (Cipit) completa dez anos de atividades no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) neste mês de dezembro de 2022. O grupo implementa ações de prevenção, tratamento e controle do tabagismo, além de realizar pesquisas sobre o tema.
Segundo a médica pneumologista e chefe da Unidade de Gestão de Pós-Graduação, Ensino Técnico e Extensão do HU, Lígia Menezes do Amaral, diversas conquistas foram alcançadas nesses dez anos. A médica, que também é professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFJF, destaca o treinamento de residentes em abordagem motivacional e tratamento do tabagismo que, posteriormente, levam o conhecimento adquirido no Centro ao serviço público e empresas privadas. Além disso, ela cita o desenvolvimento e aplicação de protocolo pioneiro de tratamento ao paciente tabagista hospitalizado – referência para outros hospitais do país – e a construção de parcerias com instituições de ensino internacionais de pesquisa em tabagismo.
A equipe multidisciplinar do Cipit atua em cinco eixos: preventivo (atividades de promoção da saúde voltadas aos trabalhadores e usuários do HU por meio de ações como campanhas e grupos de educação em saúde); assistencial (intervenções direcionadas a pacientes hospitalizados na Unidade Santa Catarina); ambientes sem tabaco (ações que garantam o cumprimento das legislações que restringem o uso de tabaco em lugares fechados); ensino/extensão (participação de alunos de graduação de diversos cursos em Saúde); e pesquisa/pós-graduação (como um dos eixos da Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto, o Cipit contribui na formação dos residentes de Pneumologia, além de pesquisas acadêmicas).
Aprendizado enriquecedor
O psicólogo Vitor Souza passou pelo Cipit quando foi residente em Saúde do Adulto no HU. Em atuação junto a pacientes fumantes internados, o profissional fez triagem, avaliação e entrevista motivacional, além de intervenções com ex-pacientes por telefone, meses após a alta hospitalar. Para o profissional, a orientação de preceptores experientes gerou um aprendizado enriquecedor.
“O tema é de suma importância, pois o Brasil ainda apresenta um alto índice de fumantes. Acredito que todos os profissionais da área da Saúde deveriam estar preparados para atuar com essa população, não apenas com o agravo já instaurado em decorrência do tabaco ou com grupos de fumantes, mas também com ações de prevenção. Foi importante aprender com a entrevista motivacional, além de poder entender melhor os mecanismos de vício e fissura”, reflete.
Atualmente, Vitor Souza trabalha como psicólogo da saúde no terceiro setor (instituições privadas de utilidade pública com origem na sociedade civil) e em uma empresa privada de Juiz de Fora, onde desenvolveu, junto com a equipe médica e a direção, projeto de um grupo de apoio para colaboradores fumantes que desejam parar de fumar.
Ação complementar a pacientes fumantes
O projeto de extensão Livres do Tabaco, da Faculdade de Medicina, é outro exemplo da junção entre ensino, pesquisa e assistência. A iniciativa funciona como uma ação complementar ao Cipit e atua no acolhimento a pacientes fumantes ambulatoriais do HU Santa Catarina e do HU Dom Bosco.
A equipe é formada por estagiários aprovados em bolsas de pesquisa e projeto de extensão, alunos do Internato e residentes de Cardiologia e Pneumologia do HU. De forma contínua e sistemática, os graduandos fazem rodízio na assistência e no acompanhamento de reuniões presenciais e on-line, acompanhamento longitudinal dos grupos e tutoria via WhatsApp.
De acordo com a coordenadora do projeto e professora do Departamento de Internato, Arise Galil, a intervenção híbrida, com a união de atendimento presencial e telemedicina, tem tido boa aceitabilidade entre os pacientes. “Também temos tido uma grande participação de todos os ambulatórios e serviços do HU, de onde os pacientes têm sido encaminhados por todos os serviços.”
Ainda na avaliação da docente, o investimento em projetos e programas destinados a ajudar pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) a pararem de fumar é um “custo-efetivo”, já que o tabagismo está entre as principais causas de infarto agudo do miocárdio no Brasil.
“O trabalho é credenciado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) e, por conta disso, é capaz de fornecer medicações específicas para o tratamento. Acredito que estamos vencendo a cada dia a luta contra o tabagismo. O Brasil tem sido considerado nos últimos anos um dos países com maior êxito, tornando-se modelo para outros serviços ao redor do mundo. Algumas dificuldades surgiram no período de pandemia com maior confinamento, mas já está melhorando”, analisa.
Para entrarem em contato com o projeto, pacientes com doenças crônicas e maiores de 18 anos podem encaminhar nome completo e telefone para o e-mail livresdotabacoufjf@gmail.com ou enviar mensagem para a equipe pelo perfil do projeto no Instagram. Profissionais da saúde interessados em acompanhar o trabalho do Livres do Tabaco também podem fazer contato.