Mayra Pereira2  docente do IAD - Foto Ismael Crispim

Mayra Pereira: “Minha pesquisa fala muito de documentos, não de instrumentos sobreviventes, pois estes são poucos” (Foto: Ismael Crispim)

Compondo a programação do XI Encontro de Musicologia Histórica, evento bienal que acompanha o Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, será lançado nesta sexta-feira, dia 22, às 16h20, o livro “Do Cravo ao Pianoforte no Rio de Janeiro – panorama de suas histórias e características até 1830”, da cravista e professora do Laboratório de Performance Historicamente Informada (Laphi), do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Mayra Pereira. O evento está sendo realizado no auditório do IAD.

O livro é uma versão da dissertação de mestrado da autora, defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2005, atualizada com os resultados de reflexões levantadas durante seu doutorado, defendido em 2013 na Unirio. “As pesquisas em fontes primárias, como arquivos e bibliotecas, começaram a ser realizadas no Brasil, em arquivos no Rio de Janeiro e em Petrópolis (RJ), e, na segunda parte, já durante o doutorado, fui para Portugal para fazer mais uma parte de levantamento desses dados, em Lisboa”, explica a autora, que trata em sua obra sobre a existência e coexistência dos cravos e pianofortes no Rio até 1830. “Minha pesquisa fala muito de documentos, não de instrumentos sobreviventes, pois estes são poucos.”

Em voga até meados do século XVIII, o cravo era considerado o mais importante instrumento de teclado da época, segundo Mayra. Para tentar acompanhar o desenvolvimento da música e dos locais onde era tocada, passou a sofrer algumas modificações em sua mecânica, dando origem ao fortepiano (ou pianoforte), ancestral do piano moderno. “O cravo é um instrumento de corda dedilhada, enquanto o pianoforte é um instrumento de corda golpeada, assim como o piano moderno.”

A autora salienta que, em toda pesquisa que se predispõe a trabalhar um período anterior à Impressão Régia e à Abertura dos Portos, em 1808, o pesquisador fica um pouco limitado. “É como se eu estivesse buscando uma agulha em um palheiro. Tive que buscar em documentos pessoais, como inventários post mortem, documentos de bens materiais da Casa Imperial, documentos alfandegários, alguns relatos de festividades e de viajantes estrangeiros que aqui estiveram. A partir de 1808, com a criação da Impressão Régia, passamos a ter os jornais, o que foi uma grande ajuda, porque fiz uma leitura integral de uma sucessão de jornais de cunho comercial, com anúncios de compra e venda.” Verifica-se, então, uma proliferação imensa dos pianos e o cravo presente até 1830. “Essa que é a surpresa. Porque acreditávamos que com a chegada dos pianos já não haveria mais tantos cravos. Portanto, essa transição dos instrumentos, ou seja, quando eles coexistem, é longa.”

Dados inéditos

Segundo a autora, o livro traz muitas informações inéditas. Uma delas é o registro mais antigo da existência de um cravo, em 1721. Outra descoberta, talvez a mais significativa, segundo ela, foi o registro mais antigo da presença de um piano histórico (fortepiano) no Rio de Janeiro, datado de 1798. A referência consta de um inventário post mortem e menciona que o instrumento foi fabricado no Rio. “Essa data corresponde a uma década antes da chegada da Corte ao Rio de Janeiro, em 1808.  Com essa evidência documental, eu desconstruo muito do que foi cristalizado na literatura até hoje, pois acreditava-se que os pianos vieram com a Corte.”

Mayra Pereira - livro Foto Divulgação

Após o lançamento no IAD, a obra estará à venda em livrarias virtuais, como Travessa, Saraiva, Livraria Cultura, entre outras (Foto: Divulgação)

LaPHI

Atualmente, no recém-criado Laboratório de Performance Historicamente Informada (Laphi), Mayra trabalha com música europeia do período barroco (séculos XVII e XVIII). Ela pretende atuar com música de câmara no primeiro semestre de cada ano e, já para o próximo semestre, está planejando trabalhar somente com alunos pianistas ou que dominam instrumentos de teclado, para abordarem exclusivamente teclados históricos, como o cravo e o órgão de câmara.

Oficina

Na programação do 27º Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, haverá no IAD – pela primeira vez na história do evento – uma oficina de fortepiano com o professor da a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS), Pedro Persone. A oficina terá início na segunda-feira, 25, e vai até  sábado, 30, das 9h às 12h. “Será uma experiência significativa para o nosso departamento, pois temos muitos alunos de piano. Agora, devido à incorporação do Pró-Música, temos três cravos e um órgão de câmara, portanto, os alunos estão tendo contato com os instrumentos históricos de teclado, precursores do piano. Com essa oficina, eles poderão experimentar seus repertórios em um instrumento original, para o qual as peças que eles tocam, sobretudo, as do período clássico, foram compostas”, expressa Mayra.

Sobre o Encontro de Musicologia Histórica, que esse ano abordará o tema “Do colonial à Belle Époque: contribuições para o conhecimento da musicologia luso-brasileira”, a professora acredita ser “um ganho para os pesquisadores, músicos e estudantes de música, pois traz as pesquisas mais atuais da área. Houve uma circulação muito grande de músicos entre Portugal e Brasil no período abordado nesta edição. Muitos músicos portugueses vieram por causa da Família Real, trazendo suas tendências e estilos, as quais influenciaram os movimentos musicais daqui.”

Outras informações: (32) 2102-3964 (Pró-reitoria de Cultura-UFJF)