Quatorze alunos e alunas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) receberam uma boa notícia na noite desta quarta, 28. A Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Proae) divulgou o resultado final do processo seletivo para ocupação de vagas na Moradia Estudantil. No total, inscreveram-se 58 estudantes.
O coordenador da Moradia Estudantil, Frederico Freire Rosa, explica que o último edital foi publicado em 2019, devido à suspensão das atividades presenciais na Universidade. “Agora, com a vacinação já avançada e o retorno das aulas no campus, a retomada dos editais e do acesso de novos moradores é um importante reforço nas políticas de permanência da Instituição e representa, para muitos dos nossos discentes, a chance decisiva de permaneceram na UFJF e concretizarem o sonho de se formarem.”
A fala do representante da Proae é corroborada por alguém que vivenciado de perto a importância da Moradia Estudantil. Luana Vieira Rodrigues, de 25 anos, entregou as chaves de seu quarto no dia 12 de setembro, depois de cinco anos como residente na Moradia e com um diploma do curso de Licenciatura em Matemática nas mãos. Ela é natural da cidade de Conselheiro Lafaiete e os pais não teriam condições financeiras de mantê-la em Juiz de Fora.
“Minha mãe é auxiliar em uma escola infantil, recebendo menos de um salário mínimo, e meu pai trabalhava na zona rural de Leopoldina. Quando vim para a cidade, fui morar com parentes e trabalhava. Saía de casa às 8h, chegava na faculdade às 18h e voltava para casa às 23h. Era muito cansativo, mal conseguia assistir às aulas, o que afetou meu rendimento. Já estava quase desistindo e voltando para Lafaiete quando vi o primeiro edital da Moradia Estudantil aberto”, conta Luana, que foi uma das primeiras estudantes a serem beneficiadas pelo programa, em 2017.
Como funciona o ciclo da Moradia?
Segundo Freire Rosa, os critérios mais relevantes para o ingresso na Moradia Estudantil são socioeconômicos, ou seja, o projeto deve atender os estudantes que dependem dessa estrutura para conseguirem permanecer na UFJF. Ele ressalta que, infelizmente, as vagas são limitadas e que, por isso, nem todos que precisam são beneficiados. No entanto, a Proae oferece outros tipos de bolsas e auxílios e é possível concorrer às vagas sempre que os editais são lançados.
“Ao ingressar na Moradia, o aluno tem um pouco mais que o tempo médio do curso para concluir a graduação. Como eles também contam com a gratuidade no Restaurante Universitário (RU) para realizar suas refeições, precisam comprovar que estão avançando rumo à conclusão do curso e também que a condição socioeconômica de seu grupo familiar não se alterou”, informa.
Luana se formou dentro do tempo médio do curso de Matemática. Ela lembra que passava o dia todo no campus. “Tomava café, almoçava e jantava na UFJF. Saía de casa às 7h da manhã e só voltava às 18h, quando terminavam minhas aulas”. A rotina incluía a divisão de quarto com outra colega, bem como a organização das dependências da Moradia. “Porém, a minha preocupação era estudar. Claro que existem os problemas de convivência. São pessoas de diferentes lugares dividindo um mesmo espaço. Mas ali a gente se sente seguro. Esse lugar transformou a minha história”.
E foi pensando nisso que Luana deixou um bilhete para a nova moradora que irá ocupar o seu quarto. Um gesto que, para Freire Rosa, representa o sentimento de que a Proae tem caminhado na direção certa. “Cada estudante que reside na Moradia, cada um que tem acesso às políticas de assistência estudantil e que consegue se formar significa a materialização da vitória de um processo de democratização das universidades públicas e da emancipação do nosso povo através da educação”.
A expectativa de quem está chegando
Raquel Souza França, de 18 anos, começou a estudar na UFJF em abril deste ano. Ela será uma das novas alunas atendidas pela Moradia. Nascida em Porteirinha, município com pouco mais de 35 mil habitantes próximo ao estado da Bahia, Raquel conta que a mãe a criou sozinha e que não teria condições de sustentá-la em Juiz de Fora.
“Trabalhei durante todo o ensino médio, juntei dinheiro e me mudei para cá. Fiquei sabendo da Moradia Estudantil e, com ela, não vou mais pagar aluguel. Talvez, ainda consiga mandar um pouco de dinheiro para ajudar minha mãe, visto que ela me ajudou com o pouco que tinha. A Moradia vai ser tudo pra mim!”, ressalta a jovem estudante da Faculdade de Direito.
Para aqueles que estão chegando, o coordenador da Moradia destaca que a Proae ainda conta com uma equipe de psicólogos, pedagogos e assistentes sociais para realizar o acompanhamento e prestar suporte. “Sabemos o quanto é difícil estar em uma universidade pública, vir para uma cidade desconhecida, ficar longe da família e dos amigos e, por vezes, não conseguir visitá-los nos períodos de férias e recessos, dividir quarto e conviver com tantas pessoas diferentes. São muitos os desafios. Por isso, temos investido na infraestrutura da Moradia, que, inclusive, é um projeto muito recente. Mas seguimos batalhando pela manutenção das políticas de assistência estudantil, mesmo diante do sufocamento financeiro imposto às universidades”.
Confira o resultado final do processo seletivo.
Outras informações: moradia.proae@ufjf.br.