“Vacina boa é vacina no braço” é uma das frases explicadas durante o debate com dois pesquisadores no episódio mais recente do Encontros A3, podcast vinculado à Revista A3 da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Os convidados Aripuanã Watanabe e Sandra Tibiriçá – especialistas em Virologia e em Saúde Pública, respectivamente – discutem dúvidas acerca da vacinação, abordando assuntos como a intercambialidade de vacinas e a possibilidade da aplicação de terceiras doses. O episódio “Resolvendo o dilema das vacinas” está disponível a partir desta segunda-feira, 23 de agosto, em diversos agregadores de podcasts, como Spotify, Google Podcasts, Apple Podcast, entre outros.

O que é a intercambialidade de vacinas?
Diante do cenário de escassez da vacina AstraZeneca na maioria dos municípios brasileiros, o Ministério da Saúde autorizou por meio de uma nota técnica, no último dia 14, o uso do imunizante da Pfizer/BioNTech como a segunda dose do esquema vacinal para pessoas que tomaram a primeira dose da vacina fabricada pela Fiocruz. A intercambialidade somente é permitida em situações emergenciais, como na falta de imunizantes do mesmo laboratório da primeira dose. No país, a vacinação heteróloga (quando se utiliza um imunizante diferente da primeira aplicação para completar o esquema vacinal) já era permitida no caso de grávidas e puérperas que tomaram a primeira dose de AstraZeneca antes da proibição do uso por esse grupo por parte da Anvisa.

Em entrevista ao portal da UFJF, o pesquisador especialista em Virologia, Aripuanã Watanabe, comenta sobre a intercambialidade dos imunizantes. “No caso específico da combinação da primeira dose da AstraZeneca com a segunda da Pfizer, existem estudos que demonstram a segurança da vacinação heteróloga. Por mais que algumas pesquisas indiquem uma leve queda na eficácia diante dessa combinação, o quadro não chega a ser significativo ou preocupante. O principal benefício é possibilitar a imunização completa da população na falta de doses de um laboratório, tendo em vista que a verdadeira proteção somente ocorre com o esquema vacinal completo.”

Em 18 de agosto, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela fabricação do imunizante AstraZeneca no país e principal fornecedora nacional de vacinas para Covid-19, posicionou-se oficialmente afirmando que “o quantitativo de vacinas entregues, a manutenção de entregas permanentes (22 semanas de entregas ininterruptas) e a previsão de chegada de lotes de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) nos próximos meses apontam para a manutenção da regularidade de entregas e a disponibilidade de vacinas”. A nota oficial da Fundação também indica a segurança da intercambialidade dos imunizantes, destacando que, por enquanto, não existem dados sobre a duração da resposta imune com o uso de duas vacinas diferentes.

Terceira dose em idosos e imunocomprometidos
Ao ser indagado sobre a necessidade da aplicação de uma terceira dose em idosos ou pessoas imunodeprimidas, Watanabe explica que essa é uma discussão complicada e ainda incerta. “A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou, primeiramente, vacinar países com baixa cobertura vacinal, como alguns países da África, antes de pensar em uma terceira dose. Por outro lado, eu entendo que, para alguns grupos de risco, seria válido começar a discussão sobre a terceira dose com estudos direcionados. Existem diversos fatores envolvidos e, geralmente, os idosos não costumam responder tão bem às vacinas de um modo geral. Isso não significa que as vacinas não funcionam, muito pelo contrário, mas que a proteção pode ser definitivamente melhorada.”

Segundo o virologista, várias questões acerca da vacinação em idosos estão em aberto. Como exemplo, ele cita que, até o presente momento, existem poucos estudos que determinam a duração da imunidade gerada pelas vacinas contra Covid-19 neste grupo específico da população. Enquanto isso, no debate público, é possível encontrar críticas à eficácia do imunizante Sinovac/CoronaVac em pessoas idosas. No entanto, para Watanabe, caso a decisão de aplicar a terceira dose em grupos de risco aconteça, ela deve ser administrada independentemente de qual tipo de imunizante foi tomado inicialmente.

“Acredito que essa discussão tenha surgido da história de que a CoronaVac teria eficácia menor. Entretanto, não é possível comparar a eficácia das vacinas nos estudos clínicos. Eles são realizados em situações completamente diferentes, seja em momentos diferentes da pandemia ou com populações divergentes, além de se utilizarem diferentes doses. Desta forma, no meu entendimento, caso os governos venham a optar por uma terceira dose, essa deve ser aplicada independentemente da primeira vacina tomada.”

Cobertura vacinal mundial e possíveis novas variantes
De acordo com dados do site “Our World in Data”, no dia 23 de agosto, 32,5% da população mundial recebeu, ao menos, uma dose da vacina contra a Covid-19; e somente 24,5% teria o esquema vacinal completo. Além disso, somente 1,4% da população de países mais pobres receberam, no mínimo, uma dose. Esses números demonstram que o objetivo de vacinar toda a população mundial está longe de ser alcançado atualmente. Uma nota divulgada pela OMS no dia 10 de agosto aponta que o uso de doses de reforço podem atrapalhar ainda mais a atingir um patamar elevado de imunização global.

Watanabe explica que não adianta países ricos estarem com suas populações completamente imunizadas se, ao mesmo tempo, países empobrecidos não tiverem grupos prioritários locais vacinados. Ele aponta que, nesse cenário de países com baixo índice de vacinação, existe a tendência de surgimento de novas variantes da Covid-19 – que, porventura, podem até mesmo escapar dos mecanismos de proteção das atuais vacinas. Desta forma, o pesquisador elucida que, globalmente, seria melhor que toda a população estivesse vacinada, tendo em vista que a pandemia é um evento mundial, e não individual de cada país.

Palestra ao vivo com gerente geral da Anvisa
Ao longo do podcast, a professora Sandra Tibiriçá cita o evento que mediará e contará com a apresentação do gerente geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gustavo Mendes. Trata-se da liveA importância das vacinas no combate à pandemia de Covid-19 no Brasil e no mundo”, que, além de demonstrar informações fundamentadas sobre a vacinação de uma forma acessível, também integra uma série de palestras que objetiva capacitar profissionais da Educação para o retorno das atividades presenciais. 

O evento é gratuito e aberto ao público, realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A transmissão acontece nesta terça-feira, 24 de agosto, às 18h30, transmitido pelo canal do YouTube do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 do Centro de Educação Infantil (CEI) Lídia Bencardini Maselli. Quem deseja receber certificado deve inscrever-se on-line.

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