“Com a dilapidação da palavra ainda existe espaço para o poeta nos dias atuais?”. Foi com esse questionamento que o poeta e professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Edmilson Pereira, iniciou o debate sobre poesia e literatura que aconteceu durante mesa-redonda no sábado, dia 18, na I Bienal do Livro de Juiz de Fora. As discussões sobre o cenário da poesia moderna e do processo criativo dos autores atuais também contou com a participação do tradutor, poeta e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), Paulo Henrique Britto, e com o escritor Iacyr Anderson de Freitas.
Com perguntas que não demandavam respostas simples, as discussões da mesa-redonda trataram de diversos entraves do cenário atual da poesia moderna, além de buscar trazer à tona aspectos poucos discutidos fora do meio produtivo. Entre a troca de ideias feita pelos membros da mesa, poesias escritas por eles foram lidas para elucidar o debate.
Quando questionado sobre o perfil do escritor contemporâneo de poesia, Britto ressaltou o grande criticismo que os autores têm com os próprios trabalhos atualmente mas, segundo ele, essa marca é o que traz grande parte da inspiração para a própria escrita. “O poeta moderno desconfia sempre do que ele mesmo faz, principalmente quando o assunto é a própria língua e formas. O interessante é que esse crítico interno é também um inspirador da produção do poeta atual.”
Concordando com a ideia, o escritor Iacyr dividiu com o publico como funciona o seu método de produção, sendo que um dos poemas lidos por ele na noite de sábado, demorou 16 anos para ser publicado. “Eu sempre escrevo uma poesia e deixo ela na gaveta por, no mínimo, um período de três a cinco anos. Faço isso porque quando eu pegar aquele texto novamente ele vai ser estranho para mim, então, dessa forma, vou ter um senso crítico sobre ele antes de publicar.”
Papel do professor e da escola
Outra discussão levantada durante os trabalhos foi sobre o papel do professor e da escola para a formação de novos leitores para o gênero da poesia. Para Britto, o educador tem papel fundamental na construção de novos leitores, “principalmente aquele que trabalha com primário, porque nesse período é possível fazer com que o aluno tome gosto pela leitura da poesia”. O problema do modelo atual no sistema de ensino brasileiro, segundo Iacyr, é que a literatura é vista como “um apêndice da língua, enquanto na verdade é a literatura que transcende a linguagem”, sendo que isso faz com que o aluno não valorize os gêneros literários durante a sua trajetória acadêmica.
Foi abordando a pouca valorização do grande publico para com o gênero da poesia no cenário nacional, que o professor da UFJF, Edmilson Pereira, encerrou as discussões da noite, ressaltando a dificuldade que existe para se viver da escrita no Brasil, mas afirmando que o publico que acompanha as publicações é fiel. “A divulgação acontece quase que de maneira natural, porque o leitor da poesia é aquele que sempre demanda mais e sempre é fiel aos escritores que gosta de ler.”
A I Bienal do Livro de Juiz de Fora termina neste domingo. Confira a programação