O grupo de pesquisadores, coordenado pelo professor Mário Vicente Riccio Filho, foi premiado internacionalmente devido à publicação de um artigo na revista Ground Improvement, que trata sobre técnicas de melhoramento de solos do tipo mole. A pesquisa, realizada durante os últimos dez anos, tendo como campo experimental a região da zona oeste do Rio de Janeiro, observa, analisa e propõe maneiras de construir sobre solos conhecidos popularmente como brejo ou pântano.
O prêmio Telford Premium Prize foi concedido pelo Institution of Civil Engineers (ICE) de Londres para o artigo Site investigation and performance of radial deep consolidation grouting in soft soil. A previsão de entrega do prêmio é dia 15 de outubro de 2021 na sede do ICE na Inglaterra.
Esse é o segundo prêmio recebido por Riccio pelo Instituto de Engenheiros Civis do Reino Unido. Em 2018, um dos artigos resultantes da tese de doutorado orientada pelo professor Marcio Almeida (COPPE/UFRJ) e Riccio recebeu o prêmio Mokshagundam Visvesvaraya Award, também concedido pelo ICE. O pesquisador da UFJF tem estudado várias técnicas de melhoramento de solo, desde de 2009, juntamente com pesquisador Marcio Almeida, que coordena o grupo de estudos nesta temática.
Em entrevista realizada virtualmente, o professor Mário Riccio comenta sobre a falta de aplicação de técnicas de engenharia de pavimentos tanto para implantação quanto para reparos em grande parte das vias públicas de Juiz de Fora. O professor comenta que existem muitas técnicas disponíveis na área geotécnica, mas que se não forem aplicadas há uma perda no desempenho das obras. Comenta ainda a satisfação por receber o segundo prêmio do ICE e da importância desse reconhecimento para a continuidade de pesquisas científicas na UFJF.
Portal UFJF: Recentemente, acompanhamos pela imprensa a entrega da reforma do asfalto do bairro Parque das Águas. No entanto, logo após a inauguração da obra, a pavimentação cedeu. Pelos seus estudos, essa questão pode ser explicada devido ao tipo de solo mole da cidade de Juiz de Fora?
Mário Riccio: Não. Em Juiz de Fora é possível observar regiões que ocorrem esse tipo de solo mole; áreas de baixada como o Rio Paraibuna, por exemplo. Entrando, no caso específico da pavimentação, isso não está relacionado ao tipo de solo mole. O grande problema da pavimentação em JF é que, historicamente, no município se constrói um pavimento que não leva em consideração, em grande parte dos casos, as subcamadas que compõe e estruturam o pavimento (camadas compactadas). Em grande parte das vias públicas as normas técnicas não são seguidas, em sua totalidade, na construção desses pavimentos. Exatamente por esse motivo, as obras têm pouca durabilidade/vida útil. Quando se fala em pavimentação, é comum que se pense apenas na camada de asfalto, todavia a drenagem de água e as subcamadas estruturantes também são fatores que se mal executados geram consequências para a destruição desse tipo de obra, como no exemplo citado.
Portal UFJF: Como vocês receberam a notícia da premiação? De alguma forma, já esperavam esse tipo de reconhecimento?
Mário Riccio: É muito gratificante ter um reconhecimento de institutos tão sérios e respeitados por um trabalho realizado por tanto tempo. Essas premiações envolvem pessoas do mundo inteiro. Sabemos que não basta só a quantidade, é preciso analisar e melhorar muito na qualidade das nossas pesquisas. Foi interessante realizar o trabalho com a equipe espalhada pelo Brasil, sendo que fizemos tudo de forma remota.
Portal UFJF: Qual é a importância dessa premiação para a instituição em um período de tantos cortes orçamentários e ataques à ciência?
Mário Riccio: A importância para a UFJF, e para a faculdade de Engenharia Civil da qual eu faço parte, é mostrar para a sociedade a qualidade e maturidade do corpo docente da Instituição. O mestrado é novo na engenharia, inclusive, estamos batalhando para também conseguir abrir um Programa de doutorado na Engenharia Civil. Dessa forma, a premiação do artigo auxilia na divulgação de trabalhos de pesquisa para os alunos da própria Universidade, assim como para a população regional. Com isso, caminhos são abertos para conseguirmos recursos de manutenção pelos canais de fomento à pesquisa como a CAPES e a FAPEMIG.
Os autores do artigo são: Mario Riccio, Alessandro Cirone, Márcio Almeida, Tatiana Rodrigues e Daniel Faria.