“Se você tivesse a oportunidade de conversar com uma poetisa, o que você perguntaria”? Foi assim que a professora Moema Mendes começou a mediação da mesa “Poesia Contemporânea: quatro autoras”, que aconteceu às 20h da última sexta-feira, dia 17, na I Bienal do Livro de Juiz de Fora. Nada mais adequado ao momento, já que, ao redor dela – e como o próprio nome do evento sugere – estavam quatro notáveis poetisas da cidade: Juliana Gervason, autora de “Perdoe-me tanto laquê” (Bartlebee); Laura Assis, de “Depois de rasgar os mapas” (Aquela Editora); Anelise Freitas, cujo livro de estreia, de 2011, é “Vaca contemplativa em terreno baldio (Aquela Editora); e Prisca Agustoni, que tem em “A neve ilícita” (Nankin) um de seus destaques.
Moema – que aliás fez questão de se declarar “apenas leitora” – mostrou que aquela seria uma noite especial. Ao invés de apresentar as convidadas da maneira tradicional, preferiu declamar os poemas que considera mais marcantes de cada uma – intervalados por aplausos e sorrisos, por parte da plateia – e, em seguida, passar a palavra a elas. Juliana Gervason foi a primeira a se apresentar. “Comecei a escrever com 7 anos e essa vai ser minha maior e melhor biografia, independentemente do currículo ou quaisquer títulos acadêmicos. Com 7 anos eu escrevi que Juliana era uma menina que adorava escrever, mas que tinha (e continua tendo) uma paixão especial por poesia. Foi assim que eu me defini.”
As autoras também relataram um pouco sobre o processo de produção de suas obras e da relação com o público. Laura Assis se considera “desorganizada”: “Quase tudo que eu faço é uma bagunça. Sou muito indisciplinada. Escrevo pouco e é até difícil, para mim, terminar um poema. Até achar o poema dentro daquilo que eu penso – e pode ser que muita coisa vire um poema de apenas quatro versos – é um processo bastante caótico.”
Já Prisca Agustoni, que nasceu e construiu carreira acadêmica na Suíça e hoje leciona na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mostrou-se mais introspectiva. “Escrever é uma mistura de inspiração e algo que toca, de alguma forma, a sensibilidade. Eu funciono muito por imagem, pelo visual. Mas não é apenas inspiração; tem que haver trabalho, para que, em certo ponto, minha voz interna encontre o ponto certo entre o dizer e o não dizer, entre o revelar e o não relevar. Creio ser, este, um processo muito íntimo.”
E assim fluiu a noite toda: entre os poemas e a fala sempre sensível das poetisas – e os aplausos, é claro – cada autora foi contando um pouco mais sobre sua experiência com a arte da poesia e o público A mestranda do Programa de Pós-graduação em Estudos Literários da UFJF, Anelise Freitas, afirmou que iniciativas como esta fortalecem o papel da mulher, não apenas na literatura, mas na produção intelectual, como um todo. “Queria agradecer às minhas alunas, que hoje fazem questão de perguntar ‘onde estão as mulheres na literatura’? Na minha época de estudante, eu não tinha essa sensibilidade. É importante estarmos aqui, porque, de certo modo, ficou a cargo da mulher falar do feminino, enquanto o homem fala do universal.”
A I Bienal do Livro de Juiz de Fora termina no domingo, dia 19.