Com um tom descontraído e prendendo a atenção de todos os presentes no auditório da I Bienal do livro na manhã dessa sexta-feira, 17, o escritor Vinícius Grossos, que também é estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realizou um bate-papo sobre o processo de escrita e os desafios para a publicação no mercado editorial no Brasil. Para o debate também estiveram presente a agente literária, Flávia Mayrink, e o escritor e editor, Luiz André Gama.
Com 23 anos e três livros já publicados (“A Sereia Negra”, “O Garoto Quase Atropelado” e “1+1”) Vinícius Grossos dividiu suas experiências pessoais e profissionais no mercado da escrita, com o objetivo de inspirar novos escritores e também tirar a curiosidade daqueles que não imaginam como funciona o meio editorial no país. “Eu sempre escrevi por prazer e diversão e, por isso, desde pequeno sabia que queria ser um escritor. Mas a gente nunca imagina que para publicar um livro do zero os desafios sejam tão grandes”, contou Vinícius na abertura da conversa.
Desde 2014 no mercado editorial do país, Vinícius teve seu primeiro livro, “A Sereia Negra”, publicado de forma independente. Com a repercussão da primeira obra e um incansável trabalho de divulgação em feiras literárias do país, foi só no segundo livro que o autor conseguiu uma editora para o processo de divulgação e venda. “Eu gosto de contar para quem me pergunta que a parte fácil de produzir um livro é quando você senta para escrever ele, porque o difícil mesmo é correr atrás de gente para divulgar, fazer o marketing nas redes sociais, viajar o país para levar a obra e todo o processo pós-produção. Esse sim é bem trabalhoso”.
Com seu último livro lançado há menos de um mês em parceria com o escritor Augusto Alvarenga, Vinícius destacou durante toda a conversa o papel fundamental que as redes sociais têm para o sucesso de um autor nos moldes atuais do mercado. “A internet e as redes sociais são fundamentais para um escritor se tornar bem sucedido no meio editorial”, contou ele. Segundo Vinícius com grandes demandas de blogs especializados em literatura, fãs espalhados por todo o país e a necessidade de produzir conteúdo novo em tempo praticamente real, o mundo virtual permite que um escritor se mantenha presente o tempo inteiro nessas diversas áreas, o que pode ser decisivo para o sucesso ou não de determinada obra ou autor.
Mas independentemente do trabalho ou mesmo de uma crítica pouco positiva de alguém, Vinícius compartilhou com os ouvintes que o mais gratificante nessa carreira de escritor é o feedback que ele recebe dos seus fãs e leitores com o lançamento de seus livros. “É uma coisa incrível você saber que tudo aquilo que você pensou e escreveu tocou de alguma maneira uma pessoa que parou para ler seu livro. Os retornos carinhosos, presentes, autógrafos e conversas são o que eu mais gosto nisso tudo”.
A escola e a formação de novos escritores.
Durante o bate-papo um dos temas que entrou em discussão foi à importância da escola e das universidades no incentivo da escrita e leitura dos alunos. O autor Vinícius Grossos contou que no seu caso quem deu o incentivo inicial para a sua carreira foi sua professora de literatura, no terceiro ano. “Eu escrevia capítulos de um livro e passava para os meus amigos lerem, até que um dia essa professora pegou eles e me chamou para conversar. Achei que ia tomar uma bronca, mas no fim das contas ela queria era elogiar o meu trabalho”.
Para a agente literária, Flávia Mayrink, o papel da escola na formação de escritores e leitores de qualidade “é fundamental e essencial”. Segundo ela, o modelo de abordagem da literatura já está mudando nos últimos anos, o que pode significar um avanço nesse sentido. “Hoje as escolas já não estão mais resistentes a inserir a literatura juvenil, como a produzida pelo Vinicius, nos programas curriculares. Você tem escolas que obviamente abordam os clássicos da nossa literatura, mas não descartam a produção atual, o que incentiva o aluno e o escritor”, explica a agente literária.
No mesmo sentido, o editor e escritor, André Luiz Gama, defende que a escola é o espaço que vai formar os leitores e escritores do futuro. “Com o avanço desenfreado da tecnologia, o livro compete espaço com a televisão, o videogame e a internet, então a escola é um espaço que tem que valorizar o poder mágico do ler e escrever, para que o estudante tome o gosto pela leitura e não a veja como algo chato no seu dia-a-dia.”, concluiu André Luiz.