A pró-reitora de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Cláudia Mayorga, foi a convidada na noite desta quarta-feira, 27, do III Congresso de Extensão e da V Mostra de Ações de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A pesquisadora, que é doutora em Psicologia Social pela Universidade Complutense de Madri (Espanha), ministrou a palestra “Princípios e Metodologias: limites e possibilidades da extensão universitária na modalidade remota”.
A atividade foi mediada pela pró-reitora de Extensão da UFJF, Ana Lívia Coimbra. Mayorga é professora do Departamento de Psicologia da UFMG e do Programa de Pós-graduação em Psicologia. Coordena o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão Conexões de Saberes da mesma instituição. Atualmente também integra a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, além de coordenar a Cátedra Itinerante em Direitos Humanos da Asociación de Universidades del Grupo Montevideo.
“Existem pessoas que estão em condições muito mais vulnerabilizadas do que a nossa. Isso não significa deixar de debater a situação das universidades, mas ter consciência da gravidade desta conjuntura”, pontuou Mayorga na abertura da atividade.
A pró-reitora da UFMG ressaltou a necessidade de reinvenção das universidades, para atuação no contexto de pandemia. “São momentos muito intensos de reflexão por conta dessa conjuntura. O convite é para reflexão, para o diálogo, para pensar o que é a extensão universitária neste contexto ou o que será a extensão após a pandemia. Nesse sentido, precisamos de eventos como este. Voltar ou não voltar às atividades? Sim ou não? Apenas coletivamente poderemos encontrar respostas para essas questões.”
Pandemia e seus impactos
Na avaliação de Mayorga, a pandemia de Covid-19 tem consequências em todas as dimensões da vida social: trabalho, educação, economia, convivência, lazer, sexualidade, desenvolvimento das crianças, dos jovens, projetos de vida.
“Somos uma sociedade marcada por uma relação ampliada com o futuro, mesmo que seja futuro de curto prazo. Nesse sentido, a pandemia nos convoca para um reposicionamento, precisamos pensar o presente. O Brasil é um país marcado por uma história colonial, por violências e autoritarismos, ou seja, por inúmeras desigualdades. A pandemia vem acirrar essa situação.”
“Somos uma sociedade marcada por uma relação ampliada com o futuro, mesmo que seja futuro de curto prazo. Nesse sentido, a pandemia nos convoca para um reposicionamento”
Em relação às desigualdades sociais, a pesquisadora salientou ainda as dúvidas da população brasileira acerca da distribuição da vacina e as dificuldades para cumprimento das medidas sanitárias básicas.
“Sabemos que medidas como o isolamento social e a ampliação das práticas de higiene não podem ser seguidas por todos os grupos. Temos a população em situação de rua, temos a população encarcerada, temos a população indígena, os quilombolas. Além disso, o confinamento para alguns, como a comunidade LGBT, pode significar ter que lidar com situações de violência. Nomear os grupos vulnerabilizados é importante.”
Metodologias e tecnologias remotas
Mayorga ressaltou os avanços das atividades extensionistas nos últimos anos. “Como a extensão pode contribuir neste contexto, sendo que também está submetida às medidas do isolamento social? Atualmente, a extensão é muito ativa em todas as regiões do país. Tem uma capilaridade junto à sociedade em diversas áreas: cultura, educação, saúde, tecnologia, comunicação, dentre outras. Essa inserção das universidades, via extensão, é uma realidade.”
Na avaliação da pró-reitora, o debate sobre o uso das tecnologias é anterior à pandemia.
“As universidades todas estão se repensando para lidar com o contexto de pandemia. O debate sobre o uso das metodologias e tecnologias remotas na formação é anterior à Covid-19. As posições mais críticas, de quase recusa, enfatizam a acentuação do individualismo, a desvalorização do humano, a ampliação do controle de alguns sobre outros. Por outro lado, há a defesa dessas práticas como geradoras de emancipação e de algo que possibilita alcançar e conectar mais pessoas em diferentes locais do mundo.”
Os desafios da extensão na atual conjuntura
Ainda conforme Mayorga, é preciso que a extensão universitária continue atuando e fazendo uso das tecnologias neste contexto. “A extensão é a irmã caçula do ensino e da pesquisa, e tem desempenhado um papel importante junto à sociedade. Nasce com uma perspectiva mais assistencialista, muito ancorada numa relação da Universidade com a sociedade muito unidirecional, reproduzindo uma hierarquia entre saberes. Essa perspectiva tem sido problematizada e transformada, especialmente, com a criação do Fórum Nacional de Extensão.”
“Não existe saída única. Precisamos olhar de forma crítica para as tecnologias, mas compreendendo que podem possibilitar algum tipo de interação fora da perspectiva do controle”
Para a pesquisadora, a mudança é devida à ideia de fortalecimento dos direitos da população e da perspectiva de ampliação do diálogo entre a Universidade e os outros setores da sociedade.
“Os sujeitos não estão passivos nessa relação. A presença nos territórios foi fundamental para a construção dessa relação dialógica. Não existe saída única. Precisamos olhar de forma crítica para as tecnologias, mas compreendendo que podem possibilitar algum tipo de interação fora da perspectiva do controle. Precisamos buscar experiências criativas, lançar mão da criatividade. E evitar ideias reducionistas. Devemos nos perguntar: essa atividade permite uma relação dialógica, como, até onde vai, quais as limitações, como pensar em formas de tentar superar as perdas do isolamento?”
Divulgação das práticas e ações de extensão
As atividades do III Congresso de Extensão e da V Mostra de Ações de Extensão vão até o dia 29. Ambos os eventos têm por objetivo proporcionar espaços destinados à troca de saberes, integração e produção coletiva de conhecimentos, assim como à divulgação das práticas e ações de extensão desenvolvidas nos dois campi da UFJF. Esta é a primeira vez que Congresso e Mostra têm programação simultânea em Juiz de Fora e Governador Valadares.
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