Não teve som dos aplausos ou cartazes com homenagens. Não vimos aquele gesto tradicional de lançar os capelos ao alto. Tampouco os abraços aliviados de missão cumprida. O novo coronavírus alterou profundamente o momento mais aguardado por todo estudante universitário: a colação de grau. Desde que a pandemia começou, as cerimônias de formatura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) têm acontecido de forma remota. A última delas foi na noite dessa quarta-feira, 13, e reuniu 40 formandos dos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Direito, Farmácia e Educação Física do campus de Governador Valadares.
Mas se tem uma coisa que permanece incólume ao distanciamento social provocado pela doença é aquela emoção de ouvir seu nome, fazer o juramento e receber o diploma de ensino superior. E nem mesmo quem já está na segunda graduação conseguiu ficar indiferente ao momento. “Eu confesso que foi diferente, mas fiquei muito emocionada, mesmo! Fiquei o tempo todo tentando segurar as lágrimas, mas teve uma hora em que eu acabei desabando, porque foi muito forte e emocionante a cerimônia. Quando teve o coral cantando que amanhã não será a mesma coisa mexeu muito comigo”, detalha a agora bacharela em Educação Física Mariana Bonattto.
A cerimônia virtual também foi marcante para a formanda em Farmácia e oradora Aureliane Vieira. “Hoje é um dia de muita alegria para todos nós, em que conquistamos o tão sonhado diploma. Há alguns anos, não imaginávamos como seria esse dia tão emocionante em que o nosso coração quase salta para fora do peito tomado pela emoção. Todos os desafios e conquistas nos trouxeram até aqui, de estudantes a profissionais que farão a diferença no mercado de trabalho. Saímos daqui com o dever cumprido e o saber aguçado graças aos nossos professores, que foram mais que educadores, mas sim, mestres. Nós temos orgulho de ser UFJF”, destacou em seu discurso.
A qualidade dos profissionais formados pela universidade também foi enfatizada pelo reitor Marcus Vinicius David. “Ao final desse que seria o primeiro semestre letivo de 2020, e que sofreu os atrasos provenientes da pandemia, a UFJF, nos campi de Juiz de Fora e Governador Valadares, formou quase mil estudantes. Apresentamos esses profissionais à sociedade com a certeza e a tranquilidade de um trabalho feito com todo o zelo, competência e dedicação.”
Homenagem à professora Nízia Almeida
Marcus David iniciou sei discurso na cerimônia homenageando a professora do Departamento de Nutrição do campus de Governador Valadares, Nízia Araújo Vieira Almeida, que faleceu em 1º de janeiro deste ano em decorrência da covid-19:
“Apesar de ser uma noite de festa, eu gostaria de começar fazendo um registro de solidariedade e pesar às mais de 200 mil famílias que viveram a tristeza de perder entes queridos para essa pandemia e, lamentavelmente, nesse número contamos a vida da professora Nízia. Uma perda para a nossa comunidade da UFJF, em especial a comunidade do campus de Governador Valadares. A demonstração de empatia e solidariedade a tantas vidas perdidas é um valor humanitário que nós devemos sempre preservar”, frisou.
A atuação da UFJF na pandemia
O reitor também aproveitou a oportunidade para destacar as diversas ações desempenhadas pelos dois campi no curso desta pandemia, como a realização de pesquisas, testes, trabalhos estatísticos de acompanhamento da evolução epidemiológica, produção de equipamentos de proteção individual, álcool em gel e o apoio social às comunidades mais carentes:
“Quando fomos tomados pelos grandes temores no mês de março de 2020, tivemos que tomar a dura decisão de suspender nossas atividades presenciais. E o conjunto das universidades públicas brasileiras, naquele momento, tomou uma decisão muito importante. Nós não iríamos contribuir para pandemia apenas com o nosso isolamento social, o que já seria importante. Iríamos contribuir colocando todo a nossa infraestrutura, a capacidade dos nossos pesquisadores, técnicos, professores e estudantes à disposição do enfrentamento desta pandemia. No caso da UFJF, tanto no campus de Juiz de Fora quanto no de Governador Valadares, foram inúmeras ações, junto ao poder público municipal, ao poder público estadual, a toda a população das regiões em que a nossa universidade está inserida, oferecendo, de alguma forma, mecanismos para aliviar o sofrimento e para superarmos aquela crise”, explicou.
Marcus David também aproveitou para enfatizar a importância das instituições públicas de ensino superior. “As universidades públicas são grandes vetores de desenvolvimento econômico e social para a nossa nação. É um vetor de desenvolvimento econômico quando é capaz de pegar ciência e tecnologia produzida na nossa instituição e transformar em inovação para que as empresas nacionais tenham capacidade de competição global; com a formação de profissionais altamente qualificados e com a pesquisa de alto nível que é produzida. Mas é muito importante destacar o papel que as universidades cumprem como vetor de desenvolvimento social através dos vários projetos de extensão que realizamos junto as comunidades que cercam os nossos campi. As universidades estão mudando o país quando permitiram o ingresso daqueles segmentos que antes não tinham acesso.”
É por todo esse trabalho que, segundo o reitor, a universidade precisa ser defendida. “Nós precisamos, de forma muito incisiva, defender esse importante patrimônio do desenvolvimento brasileiro que são as universidades federais. Não existe projeto de nação que possa prescindir de uma rede de universidades de qualidade como nós temos no sistema público federal. Abrir mão desse sistema é comprometer o futuro do nosso país em termos de desenvolvimento econômico e social e de um projeto civilizatório”, enfatizou.