Uma dissertação de mestrado analisa como jovens inseridos em contextos de criminalidade de um bairro periférico são impactados pelos discursos midiáticos que os apresentam como protagonistas da violência urbana. A pesquisa foi realizada pela psicóloga Camila Marques Silva Daher, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Camila explica que no trajeto da pesquisa realizou grupos de discussão nos quais foram apresentados trechos de notícias a sete jovens entre 14 e 16 anos de idade, com o objetivo de promover debates e diálogos entre a mídia e os participantes. Ela esclarece, ainda, que o estudo se baseou em uma metodologia participativa e dialogada, o que significa que foi construído em conjunto com os jovens e com as especificidades da comunidade. Desta maneira, a psicóloga acredita ser possível valorizar o saber popular e abordar questões que podem colaborar com a realidade daquele território.
A pesquisadora destaca que, a partir dos diálogos propostos, foram identificados efeitos de uma violência midiática, ou seja, práticas que violentam e silenciam as individualidades e vozes desses sujeitos. Segundo Camila, estas práticas se refletem nas experiências cotidianas dos jovens, marcadas por provações, limitações, humilhação, agressão, preconceito e violência policial.
Contudo, o estudo mostra que, mesmo diante de dificuldades estruturais, os participantes revelaram possuir uma visão crítica, criando formas de resistir e de se identificar com mídias alternativas e outros discursos não-hegemônicos. “É um estudo que faz refletir sobre os cenários que nos são apresentados pelo discurso midiático hegemônico supostamente desinteressado. Compreender o papel social da mídia, é algo importante para rompermos com práticas de opressão, posicionamentos e opiniões que simplificam questões complexas”, pontua a psicóloga.
O professor orientador, Fernando Santana de Paiva, ressalta a importância da dissertação, uma vez que contribui para chamar atenção em relação aos efeitos que os discursos midiáticos sobre a violência podem produzir na vida de sujeitos e grupos sociais subalternizados. Além disso, Fernando considera que, por meio da metodologia desenvolvida, a pesquisa pode favorecer ações que contribuam na produção de resistências e no fortalecimento psicopolítico destes jovens. “A intersecção entre a criminalização da pobreza e o racismo são componentes muito evidentes na sociedade brasileira e encontram espaço de vocalização na produção de reportagens que fortalecem o estereótipo e o preconceito”, completa o professor.
Contatos:
Camila Marques Silva Daher – (Mestranda):
camila-daher@hotmail.com
Fernando Santana de Paiva – (Orientador):
fernandosantana.paiva@yahoo.com.br
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Fernando Santana Paiva – Orientador (UFJF)
Profª. Drª. Luciana Ferreira Barcellos – Coorientadora (UFSJ)
Prof. Dr. Paulo Cesar Pontes Fraga – (UFJF)
Profª. Drª. Fernanda Mendes Lages Ribeiro – (FIOCRUZ, IBMR, UFRJ)
Outras informações: (32) 2102-6321 – Programa de Pós-Graduação em Psicologia