O Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora promove nesta quinta-feira, 19 de novembro, das 18h às 20h, o evento on-line Humanidades digitais: problemas e métodos. Organizado pelo pesquisador João Queiroz, da UFJF, em parceria com Angelo Loula, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o evento é aberto ao público e pode ser acessado pela plataforma Meet.
O Portal de Notícias da Imagem Institucional da UFJF conversou com o pesquisador João Queiroz sobre o tema do evento.
Portal: Você coordena o grupo de pesquisa Iconicity Research Group, com trabalhados em uma área relativamente nova de investigação: Humanidades Digitais (HD). Você pode definir esta área?
João Queiroz: Este campo ou domínio, de pesquisa e investigação, consolida-se em todo mundo na última década. Ele surge por meio da introdução de ferramentas computacionais nas artes e nas ciências humanas. É claro que isso já vinha sendo feito há décadas, já institucionalmente sua fundação é bem recente. É uma área inter/multi/transdisciplinar.
Por meio dela, diversos problemas científicos e acadêmicos em humanidades são tratados com protocolos e procedimentos computacionais, alguns bastante sofisticados. Muitas vezes estes procedimentos são, como se costuma dizer, “intensivos”, em termos de processamento de grande quantidade de dados; em termos metodológicos, usando técnicas computacionais recentemente desenvolvidas; e em termos de visualização de informação.
Portal: Como e quando a área surge?
JQ: Precisamente em 2005, com a criação da “Alliance of Digital Humanities Organizations” (ADHO), uma junção da “Association for Computers in the Humanities” e da “Association for Literary and Linguistic Computing” e em 2006 surge a “National Endowment for the Humanities” (NeH). Trata-se de algo muito recente, se pensarmos em uma escala de história das ciências. Nos últimos dez anos, apareceram muitos jornais e revistas, conferências científicas, editais dedicados a projetos e a novas ideias, prêmios e festivais e diversos centros e programas de pesquisa em todo mundo ligados à área. Embora muito nova, tem tido um forte protagonismo nas universidades mais importantes da Europa, Ásia e Estados Unidos. Isso ainda não aconteceu entre nós. Ainda estamos iniciando.
Portal: Há uma resistência para aderir à uma área tão nova? Quais seriam as razões para isso?
JQ: Há um sentimento, já instalado, em diversas ciências humanas, de que precisaremos modificar nossas ferramentas de investigação, nossos tool-kits, de forma muito dramática, nos próximos anos. Teremos que incorporar novos métodos digitais, tanto às estruturas departamentais e disciplinares existentes, quanto aos nossos hábitos, como professores e pesquisadores. Isso implica em uma revisão de infraestruturas, de currículos e especializações. Hábitos são difíceis de mudar, porque são padrões estáveis de ação, disposição para ação.
Há resistência em muitos níveis — do apoio a práticas interdisciplinares, para as quais se olha sempre com alguma desconfiança, a atividades mais colaborativas. As colaborações ainda são tratadas nas humanidades como estranhos padrões de criatividade, de prestígio muito duvidoso. Exemplo disso é o baixo número de trabalhos coautorais, em comparação com muitas ciências experimentais e empíricas.
Portal: Nesta semana, você e o pesquisador Angelo Loula organizam este evento de Humanidades Digitais pelo PPGCOM-UFJF e organizam uma seção em outro evento, em Buenos Aires. Há duas semanas, apresentaram trabalho no Nordic Digital Humanities /(DHN2020), na Noruega. Fale-nos um pouco sobre o que tem desenvolvido.
JQ: O Iconicity Research Group, que coordeno na UFJF, desde 2014, tem desenvolvido diversos projetos de Humanidades Digitais e mostrado os resultados em muitos eventos. A plataforma commens.org, por exemplo, é hoje um dos principais sistemas de referência e consulta sobre a obra do filósofo e matemático C.S.Peirce. Desenvolvemos este projeto em colaboração com a Universidade de Helsinque, por meio de dois pesquisadores desta universidade — Mats Bergman e Sami Paavola. Este último inclusive já esteve conosco, na UFJF, há poucos anos, falando sobre ‘criatividade’ em arte, filosofia e ciência.
Nos últimos anos, tenho colaborado intensamente com Angelo Loula, que é professor do departamento de Ciências Exatas, da UEFS, e foi pesquisador pos-doc no PPGCOM-UFJF, entre outubro de 2019 e outubro de 2020. Dois dos projetos mais recentes que desenvolvemos incluem um sistema de mineração de estruturas de versificação na prosa em língua portuguesa (MIVES), e um sistema computacional de geração de poesia verbal versificada, também em língua portuguesa (PROPOE).
Basicamente, o MIVES procura, acha e classifica versos de muitos tipos no texto em prosa. O PROPOE usa os versos escandidos pelo MIVES e constrói poemas versificados de muitos padrões e estruturas. O MIVES foi projeto de mestrado de Ricardo Carvalho; o PROPOE foi projeto de Ana Cleyge. São os resultados desses projetos que iremos apresentar no evento desta desta quinta, 19 de novembro, das 18h às 20h e na Argentina, na sexta. Também serão mostrados os resultados iniciais de uma investigação que recém-começamos no grupo, com Augusto Saúde e Lilian Moreira, envolvendo teoria de grafos e análise de redes, no domínio dos estudos de tradução.