Estudante do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora (IAD-UFJF), Francisco Brandão abre, na próxima quinta-feira 9 de junho, às 19h, sua primeira exposição, Crisálidas, que será realizada na Galeria Renato de Almeida do Centro Cultural Pró-Música/UFJF. A mostra propõe uma interação com o público, o qual poderá compartilhar das emoções e vivências do artista – permeadas de conflitos pessoais e aspectos religiosos – além de promover uma reflexão sobre o processo de cicatrização das dores humanas. A mostra será antecedida de uma intervenção urbana, que se conecta com a experiência da obra na galeria. A exposição fica em cartaz até 26 de junho, de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, na Galeria Renato de Almeida, Centro Cultural Pró-Música/UFJF. (Av. Rio Branco, nº 2329, Centro). A entrada é franca.
Brandão toma como referência para seu trabalho artistas como Lygia Clark, Hélio Oiticica e Cildo Meireles, que introduzem o espectador na obra. Também bebe na fonte de Lucio Fontana, que rasgava a tela para criar e demonstrar o espaço e o tempo. O jovem artista está muito satisfeito em poder expor pela primeira vez seu trabalho ao público em um espaço da própria instituição onde estuda há três anos. Ele foi selecionado através de edital lançado pela Pró-Reitoria de Cultura da UFJF para ocupação artística de galerias vinculadas à Universidade.
Ex-Votos
Na madrugada que antecede a abertura da exposição, o artista irá distribuir 20 mil penas de gesso, confeccionadas uma a uma por ele, em um corredor pela Rua Halfeld, no Centro da cidade. Elas se estenderão como um tapete de Corpus Christi, como penitência e agradecimento ao dom e à graça recebidos. Depois as penas ocuparão o espaço da tela Ex-Votos, na Galeria Renato de Almeida, podendo ser manipuladas pelos espectadores, que podem recolhê-las do chão e inseri-las na tela.
A expressão “ex-votos” vem do latim e significa “o voto realizado”; é uma prática milenar, presente na igreja católica e em outras culturas, muito difundida no Brasil no período da colonização. “As penas são uma busca da santidade; a sacralidade simbólica existente em plumas e asas em geral ocupa o imaginário inicial do trabalho. Toda a filosofia punitiva e de glória na qual cresci e fui introduzido, e que vimos percorrer a história humana, busca se fazer presente na história deste trabalho”, explica Brandão. Ele destaca que a temática religiosa costura sua trajetória. “Ela está presente em todos os aspectos da minha vida – a descrença e a crença, os impasses da vivência familiar religiosa reverberam em minha educação e formação, até mesmo em trabalhos com conteúdo erótico”.
Crisálidas
Um suporte para pintura adquirido pelo artista em 2014 foi destruído pelo mesmo devido ao sentimento de inaptidão ao tentar realizar um trabalho mais tradicional. Em outro momento, Francisco passou a identificar na recuperação da tela – costurando-a com uma linha branca e criando uma espécie de cicatrizes com pérolas plásticas – uma forma de ressignificá-la espacialmente, ao mesmo tempo em que expurgava suas memórias, criando uma alegoria da própria dor. Um relógio vem coroar o esforço de todo o trabalho. Segundo o artista, “foram momentos difíceis e calados. Sozinho, tudo se fez com o tempo. Todas as mudanças internas que busquei nesse momento da vida aconteciam sorrateiramente e dentro de casa. O relógio branco relembra o tempo e a força empenhados em fechar as cicatrizes”. Ao todo, ele levou cerca de sete meses para produzir as telas e mais de um ano para confeccionar as penas de gesso.
Sofá de pérolas
O sofá, normalmente objeto voltado ao conforto, recebe outro significado na exposição. Francisco Brandão pretende que, ao interagir com a obra, o espectador sinta o desconforto do processo de cicatrização humana, representado pelas pérolas. O móvel é uma repartição da tela Crisálidas, que se propõe a transmutar de suporte a mesma técnica empregada para a construção da tela-escultura. O sofá foi adquirido pelos pais do artista quando se casaram e possui dois revestimentos: o primeiro, feito há mais de 20 anos com uma estampa xadrez, veio a ser encoberto, após a separação do casal, por um tecido de tom gelo que amenizava as lembranças guardadas pelo tecido antigo. Quando Francisco se mudou para Juiz de Fora, o sofá veio junto, não mais com a aparência da infância. “É como se eu estampasse a tela Crisálidas nele, para que o espectador, ao se sentar, usufrua sensorialmente da história contada na tela”, destaca.
Outras informações: (32) 3218-0336 (Centro Cultural Pró-Música)