Uma história de amor rodriguiana ganha um afiado desfecho envolvendo uma periquita de estimação. Esses improváveis (ou não) elementos estão no conto “Saia dessa, José!”, vencedor do concurso literário do mês de setembro da Revista Piauí. A autora, graduanda do Bacharelado em Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Déa Araujo, foi escolhida entre 73 concorrentes do desafio “Encaixe a frase”, proposto pela revista.
Aos 59 anos, Déa está realizando o sonho da segunda graduação. Formada em Odontologia, a estudante do quinto período sempre foi apaixonada por ler e escrever, mas com a correria do dia-a-dia não conseguia dedicar muito tempo a esta antiga paixão. Próxima de se aposentar, ingressou no curso de Ciências Humanas da UFJF, mas o amor por linguagens a fez prestar vestibular novamente e, em 2017, iniciar os estudos no curso de Letras.
“Eu não escreveria um texto como esse sem antes ter adquirido todo o conhecimento que obtive no ciclo básico do curso. E ainda tenho muito estudo pela frente. A aprendizagem de outra língua e sua literatura, no meu caso o inglês, também é um diferencial. Ler e escrever em outro idioma é uma experiência muito enriquecedora. É um curso que exige muita leitura e escrita. Lemos, interpretamos e analisamos vários estilos literários. Quem se aprofunda na leitura, se aprofunda também na escrita. Além disso, a área da Linguística nos leva a uma imersão na estrutura da Língua Portuguesa”, destaca.
A escritora relata ainda como o período de isolamento social contribuiu para que ela começasse a escrever mais. “Durante a pandemia, por estar mais em casa, pensei em começar a escrever novamente. Peguei poemas antigos que estavam guardados na gaveta e resolvi participar de algum concurso de poesia, mas eles não me agradavam mais. Assim, comecei a criar outras coisas, escrevi alguns poemas infantis que publico nas redes sociais e fui em busca de concursos literários até encontrar o da revista Piauí.”
O desafio
A cada mês, a revista propõe um novo desafio, no qual uma frase e um “ingrediente estranho” devem ser encaixados num texto de até cinco mil caracteres. Na edição 168, a autora precisou escrever um texto que tivesse a frase “A festa acabou, a luz apagou, o bonde não veio. E agora, José?”, de Carlos Drummond de Andrade e encaixar a palavra “periquita”.
Segundo Déa, era preciso que os elementos obrigatórios estivessem dentro de um mesmo contexto provável. “Eu tinha que encaixar as frases de maneira natural. Deitei, rabisquei antes de dormir e a história foi vindo na minha cabeça durante a noite. No dia seguinte, revisei e fui montando o texto até chegar ao produto publicado, mas a ideia estabelecida era a da noite anterior. Gostei muito do que tinha escrito e enviei o conto no último dia do prazo, com esperança de ao menos chegar entre uma das finalistas. Depois recebi uma mensagem da revista dizendo que meu texto era um dos selecionados e que eu saberia o resultado final no dia da publicação.”
Novas possibilidades
No dia 4 de setembro, ao abrir a revista, Déa encontrou o seu nome como vencedora da edição. Ela destaca que o concurso criou novas possibilidades para a escrita. “Estou redigindo outros textos e vou mandar para concursos. Quero continuar escrevendo poemas infantis e um livro de contos. O concurso me abriu caminhos para continuar nessa linha. E para quem está começando, como eu estou: ler, escrever e praticar muito. Quanto mais a gente faz, mais se aperfeiçoa. Não ter vergonha de mostrar e divulgar nosso trabalho. A valorização do que fazemos começa por nós mesmos.”
O conto vencedor
Saia dessa, José!