Abordar a história de elementos arquitetônicos étnicos sob um olhar descolonial é um dos norteadores da conversa proposta pela live do projeto Take Over da Casa Vogue Brasil, que será realizada nesta quinta-feira, dia 3. A convidada para discutir a temática “A influência das culturas árabe e africana em revestimentos”, junto com a colunista Lilian Santos, é a mestre em Ambiente Construído e arquiteta e urbanista egressa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Miriam Dias. A transmissão será feita pelo Instagram, às 18h. Os interessados podem acompanhar acessando o link.
O reconhecimento de elementos que foram introduzidos na construção da arquitetura brasileira pela influência africana e de outras culturas é uma das maneiras de dar luz sobre a história do país, demonstrando o papel identitário na pluralidade de referências. Miriam destaca alguns elementos do dia a dia que fazem parte dessa influência como os azulejos, adobes (material usado na construção civil, antecessor do tijolo de barro), muxarabis (estrutura em fechamento em forma de treliça, têm como origem a cultura árabe, chegaram ao Brasil por influência dos malês) e os cobogós (como um tijolo vazado).
“O nosso país possui uma arquitetura eclética, com traços de diversas nações. É importante que se conheça a história e as particularidades dos elementos que juntos, formam hoje a nossa forma de pensar a arquitetura. Não se trata de ir em busca de outras culturas, mas de conhecer outros olhares sobre os caminhos que nos trouxeram até aqui, para que um dia possamos entender todos os aspectos que compõem a identidade da arquitetura brasileira. É preciso conhecer o passado para entender o presente e assim poder com clareza projetar o futuro”, afirma.
Miriam Dias é técnica-administrativa em educação na UFJF, atuando no Laboratório de Conforto Ambiental e Sustentabilidade, desenvolvendo pesquisas nas áreas de Conforto Ambiental, Ecologia Sonora, Eficiência Energética e Representação Gráfica Digital. A arquiteta explica que o compartilhamento de conhecimentos sobre as origens da arquitetura rememoram a história nacional, fazendo com os erros do passado sejam revisados, impactando nas habitações e na sociedade como um todo.
O convite para a live foi feito pela arquiteta e colunista da Casa Vogue Lilian Santos, que gerencia o blog Revestindo a Casa, para encerrar as atividades do Take Over. Essa é a primeira vez que Miriam participa das lives do projeto, mas havia sido entrevistada anteriormente pela revista abordando as influências de muçulmanos escravizados na arquitetura brasileira.
A pesquisadora menciona a importância dos negros na noção arquitetônica de espaços residenciais como a cozinha: “Ao fazer uma pesquisa sobre a evolução das cozinhas, me deparei com o quanto os africanos escravizados influenciaram a arquitetura brasileira, ao contrário do que dizem a maioria dos livros, que descartam totalmente essa possibilidade ao restringir a participação do negro como sendo parte da mobília ou das instalações prediais, pois era ele quem carregava a água, que tirava o esgoto, que segurava a vela, etc.”
Para ela, é importante compartilhar esse conhecimento por meio de técnicas simples, eficientes e ao alcance de todos. “Quebramos o estigma de que boas soluções arquitetônicas devem atender somente as moradias e bairros de elite ou, por assim dizer, da alta sociedade, sendo que é papel do arquiteto pensar a cidade de forma democrática, sustentável e eficaz”, complementa.