Clássico. Quais atributos ou qualidades tornam um autor merecedor desta alcunha? Na opinião de Fernanda Alcântara, tratam-se daqueles pensadores que “marcam muito fortemente” determinados períodos da nossa história. Professora do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), ela lançou nesta quarta-feira, 27, “Os Clássicos no Cotidiano” – segunda edição de uma obra que teve sua primeira publicação em 2007. O livro apresenta a estudantes universitários e demais leitores um pouco do trabalho dos principais nomes da sociologia.
Alcântara passeia pela bibliografia de Augusto Comte, Karl Marx, Alexis de Tocqueville, Émile Durkheim e Max Weber de uma forma bastante didática a acessível, já que além de apresentar os principais conceitos destes autores, ainda sugere filmes que têm relação com as obras e mostra como a teoria deles pode ser percebida e aplicada em nosso cotidiano. Daí o título do livro.
Na live de lançamento, a docente da UFJF-GV falou resumidamente sobre as principais contribuições de cada um desses cinco autores para as ciências sociais.
“Durkheim criou o primeiro periódico do mundo que falava só sobre sociologia. Ele institucionalizou a ciência a partir do ensino, enquanto Comte a institucionalizou a partir de seu objeto, da metodologia, da sua fundação. O Marx foi um divisor de águas. Ao invés de pensar no plano ideal, que era o que Hegel fazia, ele falou: “olhem para a materialidade da vida!”. Ele [Marx] criou um método que ninguém pensava antes: o materialismo histórico da dialética. Esse cara é um clássico porque ele repercute até hoje. O Marx é o autor mais falado no mundo inteiro, em qualquer assunto: economia, história, ciência política. O Weber, depois de Marx, revoluciona a forma como nós pensamos a ciência. Weber vai falar pela primeira vez que eu como pesquisadora não tenho que me despir dos meus valores, que existe objetividade nisso”, explicou.
Mas apesar da inegável importância de todos esses autores, fator que os levou a integrar seu livro, Alcântara deixa claro que o processo de inclusão de um nome no panteão dos clássicos também passa por “escolhas políticas”, ou seja, são institucionalizados como tal por seus seguidores. A docente cita um exemplo:
“[John Stuart] Mill, em dez anos, vendeu quatro mil livros. A Harriet Martineau, em um ano, vendeu mais de dez mil cópias. Ela é a mãe fundadora da sociologia. Escreveu sobre metodologia 60 anos antes de Durkheim. Ela é muito mais importante, era muito mais lida, era reconhecidíssima. Viajou o mundo inteiro de 1830 a 1840 para fazer pesquisa. Mas essa mulher, hoje, é apagada”, lamenta.
Além de funcionar como uma introdução de estudantes universitários, professores e de todos os interessados pelo sociologia, “Os Clássicos no Cotidiano” também aguça nosso senso crítico em relação a situações do nosso dia a dia.
“Coloquem-se na função da crítica constante. Por que é assim? O que eu posso fazer para me desvencilhar disso? O que eu posso fazer para construir um mundo sob outras roupagens, usando os clássicos e os contemporâneos para nos ajudar a enxergar coisas que a gente naturalizou e que, por miopia, não enxerga”, provoca Alcântara.