O uso de teste rápido par diagnóstico da Covid-19 tem ganhado força no Brasil desde o início deste mês de abril, com a chegada ao território nacional dos primeiros kits para realização deste tipo de exame.
Mais rápido e prático do que o exame convencional – o resultado sai em 30 minutos e não exige uma estrutura laboratorial – o teste é mais uma estratégia de enfrentamento à doença, que até esta terça-feira, 21, já contaminou 43.079 e matou mais de 2.700 pessoas no país.
Apesar das vantagens, o método possui algumas limitações e precisa ser realizado no momento certo para ter eficiência.
Na entrevista a seguir, as imunologistas e professoras do campus Governador Valadares da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF-GV), Alda Maria Soares Silveira e Sandra Bertelli Ribeiro de Castro explicam como funciona o teste rápido, sua eficiência, precisão e importância neste momento de pandemia.
Como funcionam os testes rápidos para diagnóstico do novo coronavírus?
Geralmente, quando nos referimos aos testes rápidos estamos falando de testes imunocromatográficos, que de fato começaram a ser comercializados mais amplamente na década de oitenta. Foram desenvolvidos principalmente para aplicação em locais onde não existe uma estrutura laboratorial adequada, por isso devem ser de fácil execução, podendo ser realizados em uma unidade de saúde, em locais mais remotos ou, em alguns casos, nas residências, facilitando o acesso do cidadão ao diagnóstico. A apresentação do teste rápido geralmente é em um dispositivo plástico (cassete) contendo a fita reativa, onde os reagentes são fixados, o material para a coleta do material biológico e o diluente acompanham alguns testes. As amostras analisadas podem variar: sangue de punção digital, sangue total, soro ou plasma de coleta de sangue venoso, fluido oral, urina entre outros dependendo do objetivo do teste adquirido.
Qual a precisão deste tipo de exame?
A sensibilidade corresponde a proporção de verdadeiros positivos em um determinado teste. Por exemplo, se um determinado teste tem 90% de sensibilidade, quer dizer que de 100 pessoas verdadeiramente positivas, 90 serão detectadas, mas 10 indivíduos não serão detectados (falso-negativo). Na prática, a consequência de um teste com baixa sensibilidade é que indivíduos falsos-negativos permanecerão potenciais transmissores para outras pessoas, pois desconhecem sua verdadeira condição, além de não receberem a assistência correta. A especificidade diagnóstica de um teste é baseada na proporção de pessoas que não tem a infecção ou não tiveram a infecção, e apresentam resultado não reagente. Utilizando o raciocínio anterior, se um determinado teste tem 95% de especificidade, significa que de 100 pessoas ele conseguiu verificar que 95 são não reagentes, porém cinco indivíduos acreditarão que possuem ou já tiveram a doença (falso-positivo). Isto acontece geralmente por reações cruzadas com outras infecções.
Em quanto tempo sai o resultado do diagnóstico nos testes rápidos?
Na maioria das vezes, a leitura e interpretação do resultado devem ser feitas entre 10 a 30 minutos após a execução do teste. Entretanto, é importante ressaltar que o tempo entre execução e leitura pode variar de acordo com a empresa fornecedora do kit.
É necessário um profissional da área de saúde para realizá-lo?
Embora alguns testes rápidos para determinados diagnósticos possam ser executados por pessoas em sua própria residência, o teste rápido para diagnóstico da covid-19 dever ser realizado por profissional da saúde devidamente capacitado.
Qual as vantagens do teste rápido em comparação com os exames laboratoriais para detecção da covid-19?
As vantagens consistem na fácil execução, não exigir uma estrutura laboratorial complexa, podem ser executados facilmente por profissional da saúde capacitado e o resultado liberado entre 10 a 30 minutos após a execução do procedimento. Desta forma os testes rápidos para verificação de anticorpos podem facilitar o rastreamento dos contatos, vigilância sorológica local, regional, estadual e nacional, ou seja, um levantamento epidemiológico, o rastreio de pessoas assintomáticas e a identificação de quem já teve contato com o vírus e, portanto, pode ser imune – se houver de fato imunidade protetora gerada. Mas a exclusão do diagnóstico de covid-19 não deve ser feita apenas com avaliação de resultados de testes rápidos, pois no caso de um estágio inicial da infecção, falsos negativos são esperados, em razão da ausência ou de baixos níveis dos anticorpos na amostra.
Em qual estágio da doença deve ser realizado?
Os testes rápidos para verificação de anticorpos não são recomendados para a confirmação diagnóstica de pessoas com sintomas de início recente, sendo indicados para pacientes com tempo de evolução superior a oito dias. De acordo com uma nota técnica do Ministério da Saúde, a produção de anticorpos à infecção por SARS-CoV-2 pode variar entre indivíduos, podendo começar a aparecer entre 7 a 11 dias após a exposição ao vírus. Por isso, o teste para verificação de anticorpos pode não ser útil no cenário agudo da doença.
Na hipótese de toda a população brasileira ser submetida ao teste rápido, isso garantiria uma flexibilização das medidas de isolamento horizontal?
Geralmente, a presença de anticorpos do tipo IgG após uma infecção pode indicar uma possível resistência ao patógeno, o que poderia estabelecer a ideia de um indivíduo que foi imunizado. Entretanto, nem sempre este padrão protetor é observado para todas as infecções, por isto é importante ter cautela nesta afirmação. Se partirmos da premissa de que esta IgG circulante contra antígeno do SARS-CoV-2 será eficiente para a imunização, ocorre um fortalecimento da ideia de que este indivíduo possa retornar as suas atividades. Entretanto, é importante ressaltar que a infecção por SARS-CoV-2 ainda é muito recente, logo, existem muitos fatores que precisam ser esclarecidos em relação a esta resposta imunológica, durabilidade, capacidade protetora mediante a possibilidade de reinfecção, entre outros fatores. Por isto, a importância no investimento de pesquisas para acompanhamento da Covid-19 tanto na sua progressão, como em relação ao acompanhamento da reposta imunológica dos pacientes que se recuperaram da infecção pelo SARS-CoV-2.