Plástico, gasolina, querosene, óleo diesel e outros derivados que compõem produtos como maquiagem, tecidos, asfalto e remédios nos dão a dimensão da importância do petróleo para o funcionamento da sociedade atual. Por esta relevância, antes de entrar no mercado, é necessário rigoroso controle de qualidade.
Uma pesquisa realizada pela aluna de Doutorado em Química pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Júlia Tristão do Carmo Rocha, procura caracterizar os derivados do petróleo de forma mais rápida e econômica. O projeto faz parte do Núcleo de Competências em Química do Petróleo (NCQP) e recebe financiamento da Petrobras, que se une no empenho e interesse na redução no tempo de análise e avaliação do material utilizado na pesquisa. Segundo a pesquisa de Júlia, um processo de avaliação que levaria meses pode, no futuro, ser feito em minutos.
“O mercado do petróleo tem pressa”
O petróleo resulta da decomposição de restos orgânicos animais e vegetais, logo, apresenta características diferentes. Pode ser classificado em termos de extra-leve a extra-pesado, aspecto determinado por sua densidade. Um petróleo caracterizado como leve terá mais derivados de maior uso comercial, como a gasolina, enquanto o pesado pode apresentar uma quantidade maior de resíduos não destiláveis. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o Brasil produz, em sua maioria, petróleo médio e pesado.
Antes de ser comercializado, o petróleo deve ser avaliado e caracterizado para adaptação de seus derivados ao mercado e à legislação. A pesquisa realizada por Júlia tem como objetivo principal redução de tempo e custo na determinação das propriedades das frações de petróleo. “Hoje, o mercado do petróleo tem pressa. Você precisa conhecer o seu petróleo antes de refiná-lo e, às vezes, leva-se meses para esse processo. A indústria hoje não quer esperar esse tempo”, explica a doutoranda.
Através da quimiometria, um método estatístico associado à espectroscopia (uma forma de obter dados a partir da incidência de radiação na amostra), é possível denominar as propriedades do derivado do petróleo de maneira tão eficiente quanto os métodos clássicos. Segundo a pesquisadora, o levantamento de dados através do processo testado necessita apenas de 2 ml de amostra, com resultados disponíveis em cerca de cinco minutos.
O professor Marcone Augusto Leal de Oliveira, responsável pelo projeto na UFJF e orientador de Júlia, explica que, para a pesquisa, são utilizadas amostras que já passaram pelos métodos clássicos de avaliação, chamados de “análises de bancadas”. Os dados obtidos previamente são utilizados para comparar com os do estudo, como explica Marcone no áudio abaixo:
O projeto conta com a parceria das universidades federais de Juiz de Fora, do Espírito Santo (UFES), Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As amostras de derivados do petróleo a serem utilizadas no estudo são fornecidas pelo Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes).
Outras alternativas
No dia 8 de abril, Júlia Tristão apresentou a palestra “Destilação Simulada de Petróleo Bruto”, para a disciplina de “Seminários” do Doutorado em Química da UFJF. A destilação simulada consiste em outro processo de redução de tempo, mas analisa diretamente o petróleo para definir “perfis de destilação”, ou seja, o ponto de ebulição para obter cada derivado.
A indústria petrolífera utiliza um método tradicional, conhecido como Curva PEV (Ponto de Ebulição Verdadeiro), para avaliar o petróleo e estimar o rendimento de seus derivados. A destilação simulada (SimDis), através da técnica de cromatografia gasosa, vem como um processo alternativo, já que fornece dados de destilação semelhantes ao da Curva PEV.
Para análises pelo método de SimDis, são usadas amostras em menor quantidade, além do tempo e custo também serem inferiores em relação à Curva PEV. A única desvantagem é que, justamente por usar pouca medida de petróleo, não são adquiridas amostras de seus destilados para pesquisas posteriores.