O combate ao tabagismo tornou-se uma questão de saúde pública há anos, tanto nacional quanto internacionalmente. Com resultados exitosos, o Brasil conseguiu a redução de 40% da população fumante, o que configura a política brasileira como referência mundial neste quesito. Ainda assim, são cerca de 18 milhões de fumantes no país – e, inseridos esta parcela da população, há aqueles que optam por marcas mais baratas, consumindo cigarros falsificados que são facilmente encontrados no mercado.
Em cigarros ilegais, a presença de metais pesados pode ser de duas a cinco vezes maior do que em cigarros legalizados
Em 2018, o mercado ilegal de cigarros alcançou uma marca inédita: segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 54% de todos os cigarros vendidos no país são ilegais. Devido à ilegalidade, os produtos não seguem as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e são mais nocivos à saúde humana do que os cigarros lícitos. Apesar da relevância do caso para a saúde pública, o tema ainda está sendo explorado pela comunidade científica em busca de mais informações. Interessado em estudar a composição dos cigarros não legalizados, o doutorando Thalles Lisboa, ligado ao Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), dedicou sua pesquisa a investigar a presença de metais pesados na constituição do produto.
O estudante é orientado e co-orientado pelos professores Rafael Arromba de Sousa e Renato Matos, respectivamente. Junto a eles, o doutorando desenvolveu um processo utilizando diferentes técnicas, aprovadas por rigores internacionais, para observar e obter resultados quantitativos, antes desconhecidos, sobre a presença de metais nesses produtos, revelando mais informações sobre os riscos para a população.
Resultados já obtidos
A pesquisa está em andamento e é dedicada à investigação da quantidade de chumbo, cromo, cobre e cádmio na composição dos cigarros ilegais. Em entrevista, o doutorando Thalles Lisboa e o seu orientador, Rafael de Sousa, explicam que essas substâncias também estão presentes nos cigarros lícitos, ainda que em quantidades menores. No entanto, a pesquisa constatou que, no caso dos cigarros ilegais, a presença desses metais pode ser de duas a cinco vezes maior.
Todas as doze amostras de cigarros avaliadas apresentaram algum tipo de metal pesado em quantidades alarmantes, segundo os pesquisadores. A quantidade em microgramas presentes nos cigarros estudados pela pesquisa constataram, de acordo com parâmetros químicos, níveis extremamente tóxicos para o corpo humano. Os estudos desenvolvidos no doutorado obtiveram de 80% a 111% de precisão.
O processo científico
O processo científico feito pelos pesquisadores é baseado na comparação entre a pré-queima e a pós-queima do cigarro. Posteriormente, é realizado um balanço de massa entre as duas partes e comparada a presença dos metais pesados em ambas. Por meio desse processo, é possível descobrir a quantidade de metais pesados presente na fumaça, no filtro, nas cinzas, no próprio tabaco e o quanto pode ter sido absorvido pelos pulmões no fumante – que é o principal foco do estudo.
O tempo de tragada do fumante, o intervalo entre tragadas e o volume de fumaça ingerido também são parâmetros considerados para definir a quantidade de metais na fumaça. A referência utilizada é a bioacessibilidade, ou seja, a disponibilidade do pulmão para absorver determinado nível de fumaça. Para realizar os experimentos, é seguido um parâmetro internacional que consiste em desenvolver a chamada solução de Gamble, que conta com os mesmos componentes químicos da membrana pulmonar. Dessa forma, a solução se comporta como o pulmão humano ao reagir com a fumaça do cigarro e as suas substâncias.
Outras informações:
(32) 2102-3309 (Programa de Pós-graduação em Química)
Artigo “Determinação simultânea de cádmio, chumbo e cobre nas partes constituintes dos cigarros ilegais”
Artigo “Níveis de cromo no tabaco, filtro e cinza de cigarros de marcas ilícitas comercializadas no Brasil”