Igor Santos*
14 de setembro, 6h. É o começo de um longo dia (que termina com um final feliz). Logo mais, à noite, vamos apresentar o espetáculo “Sementes de Paixão”, sobre as origens do autor, diretor e homem de teatro Paschoal Carlos Magno. A primeira parada é o Forum da Cultura, a casa do Grupo Divulgação há 47 anos. É hora de transportar o material necessário para o espetáculo no teatro municipal com o nome do homenageado. Tablados, figurinos, cadeiras, bancos… Muitos elementos, mas devido ao costume, a tarefa termina rapidamente.
Começa assim o desfecho de um trabalho de seis semanas, mais uma surpresa dentre tantas outras em um ano atípico. Uma boa surpresa. Contar, no teatro que leva o seu nome, o ambiente familiar em que se dá a gênese de Paschoal Carlos Magno, o homem que acreditou no estudante e modificou a história do teatro brasileiro. E assim, ter a oportunidade de pisar no palco prometido ao próprio Paschoal, pelo prefeito Mello Reis, em récita do espetáculo “Nem Tudo Está Azul no País Azul”, de Gabriela Rabelo, apresentado pelo Grupo Divulgação, no ano de 1979.
Como se vê, é um momento especial para nós. E logo após a alegria da boa notícia, começa o trabalho. José Luiz Ribeiro se debruça em leituras sobre o amigo Paschoal, de tantos projetos em comum e telefonemas nas madrugadas. Nós atores, recebemos o texto em porções e íamos descobrindo com curiosidade, cada cena e cada personagem que apareciam.
Das leituras de mesa, vamos aos ensaios, primeiro na sala de corpo no Forum da Cultura e depois, finalmente, no teatro do velho casarão. O espetáculo se torna cada vez mais palpável e com o passar dos dias, surge também a tensão que precede a estreia. Nos fins de semana, é a hora de fazer a produção da peça (junto também com a do espetáculo infantil, agora em cartaz). Sábados e domingos reservados para preparar os figurinos, retirados do acervo do grupo. Um momento de encontro para os atores, ao descobrir o aspecto visual desses personagens que nos habitam há semanas e o que o diretor pensou para cada um deles.
Mas, voltemos ao dia 14 de novembro. Depois de um café da manhã, voltamos ao Teatro Paschoal Carlos Magno. A magnitude do local causa (im)pressão. Mas o trabalho não para. Hora de passar a ferro, mais uma vez, os figurinos transportados em malões. Na complexa tarefa de afinar a luz de um espaço até então desconhecido, se dedica o diretor-autor-ator. A atividade demanda esforço e tempo, mas ainda conseguimos repassar trechos da peça tão ensaiada.
Pouco depois das 19h, a cortina se abre. O espetáculo se desenvolve de maneira rápida. Público atento, tudo corre bem. E ao final, quando as luzes se acendem e os personagens se despedem de nós, a emoção toma conta. Foi um espetáculo bem-sucedido. E então, o prefeito Antônio Almas sobe ao palco e nos concede o título de Patrimônio Imaterial de Juiz de Fora.
Chega a vez de José Luiz falar. Uma fala de agradecimento, mas sem deixar de chamar atenção ao tempo presente. É preciso lutar. O momento atual pode ser desanimador aos artistas. Mas a luta vale a pena e ela segue.
* jornalista e ator do Grupo Divulgação