Aparente serenidade de Maxwell Andrade e Neuza Reis esconde rotina de medo e incerteza. (Foto: Sebastião Junior)

Não se engane com os semblantes de Maxwell Andrade e Neuza Reis. A aparente serenidade dos dois moradores de Barão de Cocais esconde uma rotina de constante insegurança desde o anúncio de um possível rompimento da barragem da Vale na cidade. O servidor público e a guia turística participaram do 4º Seminário Integrado do Rio Doce, que acontece desde a última quarta-feira, 6, em Governador Valadares. Pelo menos quatro professores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) atuaram em painéis ou grupos de diálogos que discutiram os quatro anos do desastre de Mariana e os rumos da atividade mineradora no país.

Bráulio Magalhães e Luciana Tasse, ambos do Departamento de Direito do campus GV, foram os motivadores de uma atividade realizada na última quinta-feira, 7, e que abordou, entre outros temas, as responsabilidades civil, administrativa e criminal, a importância da organização e mobilização dos territórios atingidos e a relação entre desastre, poder, direito e ética.

Para Bráulio Magalhães, é necessário discutir com mais vigor as dimensões da tragédia em Valadares. (Foto: Sebastião Junior)

Para Magalhães, o seminário “é um espaço para a universidade se posicionar e trazer de forma mais vigorosa alguns conceitos científicos que precisam ser enquadrados nas instituições”. Na opinião dele, o Judiciário e o Ministério Público ainda estão “muito restritos a procedimento e rito jurídicos muito limitadores da complexidade que envolve os danos causados às pessoas”.O docente destacou ainda que o evento é uma “forma de vocalizar o alcance do desastre” na região. “Temos projetado ou dito pouco a respeito disso, como se fosse algo secundário, mas é muito grave tudo o que tem acontecido com Valadares”, frisou.

Na tarde desta sexta-feira, 8, último dia de programação, foi a vez de outro professor do campus coordenar uma atividade. No painel sobre a qualidade da água, Ângelo Leite Denadai falou sobre a Política Nacional dos Recursos Hídricos, a composição e características da água do Rio Doce após receber os rejeitos da barragem de Mariana, além de tratar de questões ambientais, dos peixes e dos impactos diretos e indiretos na saúde dos moradores da região.

Ângelo Denadai conduziu painel sobre qualidade da água pós-desastre de Mariana. (Foto: Dante Rodrigues)

O docente reconhece que o tema é restrito, e que devido ao alto custo operacional para análise da qualidade da água, poucas instituições estão se dedicando a esses estudos. Por isso, o evento desta semana foi importante, uma vez possibilitou a essas instituições apresentar mais esclarecimentos aos atingidos.

Além dos três professores da UFJF-GV, um docente do campus sede também integrou o seminário. Bruno Milanez faz parte do grupo de pesquisa Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade (PoEMAS), e participou, na noite da última quinta-feira, 7,de um painel que tratou basicamente das estratégias corporativas da Vale.

A quarta edição do Seminário Integrado do Rio Doce reuniu pesquisadores do campus Valadares e de Juiz de Fora da UFJF. (Foto: Sebastião Junior)

O Seminário Integrado do Rio Doce é uma parceria entre a Universidade do Vale do Rio Doce (Univale), Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Fórum Permanente da Bacia do Rio Doce, Ministério Público de Minas Gerais, universidades federais de Juiz de Fora (UFJF), Ouro Preto (Ufop) e Viçosa (UFV), além de organizações públicas e do terceiro setor. Esta edição foi a segunda a contar com uma atuação mais ativa da UFJF-GV na sua organização e concepção. A participação do campus tem um objetivo: contribuir para a reparação dos danos, evitar que tragédias com a de Mariana e Brumadinho se repitam e melhorar a qualidade de vida dos atingidos, que, conforme afirma Maxwell Andrade, não tem sido nada fácil.

“Quando você tem um caso de rompimento – sendo frio nas palavras – aconteceu, terminou. Nós estamos lá há nove meses na iminência de acontecer. O medo continua, a apreensão continua, os planos futuros param. Você não sabe se pode fazer uma reforma na sua casa, pois corre o risco da lama vir e destruir tudo. Você praticamente para no tempo esperando acontecer algo pior. E isso te destrói”, lamentou.