Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) avalia a correlação entre o déficit cognitivo e a perda neural retinada em pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL), o chamado pré-Alzheimer. A pesquisa, desenvolvida pelo professor de Oftalmologia, da Faculdade de Medicina, Leonardo Provetti Cunha, foi premiada pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), principal entidade representativa da especialidade no país.
Na primeira etapa do estudo iniciado em 2015, o grupo descobriu que, além de um comprometimento do cérebro, a doença de Alzheimer afeta também o neurônio da retina e, dessa forma, o nervo óptico. Na fase atual, o desafio foi estudar pacientes que apresentam déficit cognitivo leve, com quadro de distúrbio de memória, o que diz respeito ao estágio intermediário entre o envelhecimento normal e a doença de Alzheimer. A avaliação foi feita por meio do exame de tomografia de coerência óptica (TCO) para medir a espessura da retina e de suas camadas internas em pacientes com CCL. Os valores obtidos foram comparados às medidas do grupo controle, formado por pessoas com idade e sexo semelhantes aos doentes, mas que não apresentavam a doença. Foi verificado, ainda, se havia correlação entre os valores da espessura da retina, obtidos pela TCO, e os valores dos testes cognitivos, fundamentais no diagnóstico e acompanhamento dos pacientes.
O professor explica que “os resultados revelaram que a espessura das camadas internas (mais especificamente da camada de células ganglionares) estavam reduzidas nos pacientes com CCL quando comparadas aos controles. Essa situação mostra que estes pacientes apresentavam acometimento das camadas internas da retina de forma semelhante à apresentada pelos pacientes com Doença de Alzheimer, mas em menor intensidade”. Além disto, a redução da espessura da camada de células ganglionares apresentou uma correlação significativa com a intensidade do déficit cognitivo. “Quanto maior a intensidade do déficit cognitivo, maior a redução da espessura da camada de células ganglionares”, esclarece Cunha.
Sobre a aplicação da pesquisa, Cunha indica que “através de um exame do fundo de olho, é possível detectar alterações que se assemelham à doença de Alzheimer, o que pode servir como um biomarcador da doença e permitindo que tratamentos possam ser instituídos nesta fase, na tentativa de impedir que a doença progrida para formas mais graves de demência”.
O trabalho foi aceito também para publicação na “Alzheimer’s & Dementia: Diagnosis, Assessment & Disease Monitoring”, revista internacional com grande fator de impacto. Além disso, Cunha conta que colaborações estão sendo feitas no sentido de criar protocolos internacionais direcionados a avaliar o papel de novas tecnologias, como a Tomografia de Coerência Óptica de Alta Resolução nas Doenças Neurodegenerativas, em especial na Doença de Alzheimer. Essas diretrizes são coordenadas por um grupo internacional de especialistas com apoio da Alzheimer’s Association, organização de saúde voluntária norte-americana sem fins lucrativos que concentra esforços no atendimento, apoio e a pesquisas na doença de Alzheimer.
O trabalho desenvolvido dá continuidade à pesquisa de 2015, sobre a relação entre a perda neural na retina e o Alzheimer, estudada pelos professores Leonardo Provetti Cunha, Ana Laura Maciel Almeida e Leopoldo Antonio Pires.