Focado em trabalhar a empatia, o Núcleo de Mediação da Faculdade de Direito organizou evento voltado para a sensibilidade (Foto: Géssica Leine)

Focado em trabalhar a empatia, o Núcleo de Mediação da Faculdade de Direito organizou evento “A arte do encontro através do diálogo” (Foto: Géssica Leine)

Aprimorar o campo de visão é tarefa difícil, que requer coragem para quebrar uma zona de pensamento (e conforto) e ouvir o outro em busca de solucionar problemas. Com o intuito de criar situações para que as pessoas se coloquem no lugar das outras, o Núcleo de Mediação da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) organizou evento para trabalhar a sensibilidade e um novo olhar, fazendo com que questões conflitantes possam ser resolvidas pelo diálogo.

Na abertura do evento “A arte do encontro através do diálogo”, na última segunda-feira, 18, o anfiteatro João Carriço reuniu um público diverso, formado professores, filósofos, estudantes de Direito e pessoas interessadas na resolução de conflitos. O objetivo era a discussão de ideias e o trabalho da empatia. Na primeira palestra, as arte-educadoras Rejane Granato e Lílian Gil mostraram a experiência do Museu da Empatia de Londres, onde o visitante passa por dinâmicas como, por exemplo, calçar os sapatos de outras pessoas e ouvir suas histórias enquanto caminha com os calçados nos pés.

Após a palestra, os participantes tiveram a oportunidade de vivenciar experiências de imersão. Receberam um áudio em seus celulares e um texto e foram convidados a circular pelo Parque Halfeld, enquanto ouviam e refletiam sobre o material recebido. Ao final do tempo estipulado, eles deveriam formar duplas para trocar ideias sobre o tema abordado e se imaginar no lugar do outro.

No segundo dia, terça-feira, 19, o professor de arquitetura Frederico Braida da UFJF trouxe em sua palestra um estudo sobre as galerias da cidade, abordadas como um espaço que, muitas vezes, é pensado só como uma via de acesso, mas se transforma num ambiente de encontro e convivência com o diferente. “Muitas vezes a gente olha pra cidade como um amontoado de edifícios, precisamos olhar também como um espaço de relação entre pessoas e, nesse sentido, a comunicação entra pra construir mais uma dimensão dessa cidade”, aponta Braida. “O espaço urbano é um ambiente onde a gente emite sinais e mensagens e as outras pessoas vão interpretando”.

Participantes participaram de diversas dinâmicas que incentivavam a sensibilidade e preocupação com o próximo (Foto: Géssica Leine)

Participantes participaram de diversas dinâmicas que incentivavam a sensibilidade e preocupação com o próximo (Foto: Géssica Leine)

Após a palestra, o professor propôs uma dinâmica onde os participantes visitaram algumas galerias do centro da cidade e, com os seus celulares, registraram interações cotidianas entre as pessoas. Para a advogada Jéssica Gomes Dias, essa foi uma experiência bem construtiva. “Eu já tinha uma experiência de interação com as galerias, pois sempre foram um ponto de encontro para meu avô e meu tio, um momento em que eles olhavam o movimento, conversavam e distraíam. Agora, observando, a gente percebe que muita gente para, conversa, toma um café. Essa vivência me fez sair da minha zona de conforto e observar mais as pessoas, como elas se comportam, como estão se sentindo, e isso me fez sair da minha zona individual e expandir meu conhecimento a respeito da cidade e seus habitantes”.

Em outra dinâmica, o psicólogo e palhaço Rodrigo Bastos procurou a partir de elementos da psicologia e da utilização do humor apresentar uma palestra sobre a importância da comunicação não verbal e a necessidade de fazer com que profissionais e alunos, especialmente pessoas que trabalham com a fala em suas profissões busquem conhecer essa comunicação que não se dá pela fala. “Muitas pessoas não se atêm para o fato de que a comunicação não se da só no campo da fala. Estudos evidenciam que a fala é apenas um dos processos de comunicação e que a comunicação não verbal em muitos dos casos é muito maior quantitativamente e qualitativamente”.

A abordagem sobre as camadas da comunicação e do diálogo trazida nas palestras é, para a estudante de Direito Júlia Braga, o que enriquece na participação no evento. “O evento foi muito enriquecedor e propôs uma visão muito diferente de como devemos enxergar o outro e compreender as relações e conflitos dentro da cidade. Vou valorizar mais o diálogo e procurar melhor minhas relações, mesmo com pessoas desconhecidas, em pequenos encontros do dia a dia”.

Profissionais, como a fisioterapeuta Ana Paula Carvalho, protagonizaram palestras sobre inclusão,

Profissionais protagonizaram palestras sobre diálogo, inclusão, humor e novos olhares sobre o cotidiano (Foto: Géssica Leine)

Já a fisioterapeuta Ana Paula Carvalho trouxe o tema “Um mundo de tantos mundos”, utilizando como dinâmica o goalball, uma modalidade esportiva originariamente concebida para a prática de pessoas com deficiência visual, onde o objetivo é, de olhos vendados, utilizando o tato e a audição, marcar gols na equipe adversária. Encerrando o evento, o músico Dudu Lima propôs a percepção do mundo através do som, explicando a linguagem da improvisação musical.

Conflitos

Perguntado sobre a falta de diálogo em outras esferas sociais, especialmente na política, o professor da Faculdade de Direito da UFJF e organizador do evento, Fernando Guilhon, falou sobre a teoria do conflito, aplicada no contexto político atual do Brasil: “Com mais profundidade, o conflito é considerado pelos estudiosos como algo muito válido para a sociedade, porque ele indica os pontos que devem ser objeto de melhoria. Se tem um problema, é porque ali deve ser melhorado. E quando as partes ao invés de aproveitar esse espaço de conflito pra aprimorar e conseguir atingir uma solução interessante com respeito à posição e interesses das partes, elas acabam fortalecendo suas posições e entrando num conflito maior, e daí não sai uma solução.”

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