“Ver coisas, ver pessoas na sua diversidade, ver, rever, ver, rever / O olho armado me dava e continua a me dar força para a vida”. Extraído do livro “A idade do serrote”, de Murilo Mendes, esse fragmento do texto do poeta é a inspiração do artista plástico Guilherme Melich para a individual “O olho a(r)mado”, que inaugura a programação de agosto no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Pinturas em óleo sobre tela e desenhos em grafite, carvão e nanquim sobre papel compõem a série de retratos que homenageia a visão do escritor juiz-forano que rompeu barreiras e ampliou seu mundo com relações que o projetaram muito além de seu próprio tempo.
Em cartaz na galeria Retratos-relâmpago a partir de sexta-feira, dia 3, a mostra – que será inaugurada às 20h, com entrada franca -, e que ficará aberta ao público até 15 de setembro, revela ao público a paixão de Melich pelo universo de Murilo Mendes. “Essa expressão, Olhar armado, vem dessa frase que traduz uma atitude perante o mundo e diz muito sobre a produção do poeta, assim como de minha própria prática com a pintura. Decidi por a letra (r) em suspensão, pois além do olhar armado voltado para o mundo, essa exposição faz menção ao círculo de convivência e amizade de Murilo. Então, é também sobre outro tipo de olhar, o olhar amado”, observa.
A exposição pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 9h às 18h, sendo que aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h. Entre os 34 retratos em óleo sobre tela estão os de Murilo Mendes; Arpad Szenes; Carlos Bracher; Flávio de Carvalho; Alberto da Veiga Guignard; Ismael Nery; Nívea Bracher; Candido Portinari; Reis Júnior; Vieira da Silva; e Pedro Guedes. A mostra ainda inclui um autorretrato intitulado “Reflexo”. Segundo Frederico Lopes, dialogar com o acervo de artes plásticas do poeta apresenta inúmeras potencialidades e desafios. “Ao lançar-se na rede de sociabilidades do poeta, Guilherme Melich nos convida para um olhar mais atento sobre o legado deixado por Murilo e pelos artistas que o retrataram”.
Potência autônoma
Desde que começou a estudar artes visuais na UFJF, o Mamm sempre foi referência para Guilherme Melich, tendo sido o museu que mais frequentou, não apenas pela proximidade física mas, sobretudo, pelo fascínio por algumas peças específicas em seu acervo, principalmente, os retratos de Murilo Mendes por Flávio de Carvalho, e o de seu grande amigo Ismael Nery, pintado por Alberto da Veiga Guignard. “Meu principal desafio ao desenvolver essa série foi produzir retratos que fizessem jus às figuras de cada artista, mas que, ao mesmo tempo, tivessem uma potência autônoma, ou seja, que fossem boas pinturas, independente de quem estivesse sendo retratado.”
Ao pesquisar pelos artistas que retratam o poeta, as maiores alegrias de Melich foram, primeiro, descobrir mais sobre a obra de Vieira da Silva, que considera uma figura sensacional, com uma pintura estarrecedora; segundo, descobrir que Nívea Bracher estava entre tais artistas. “Dos pintores/pintoras de Juiz de Fora, Nívea é minha maior referência e fonte de inspiração. A qualidade de seu desenho e a carga de sua pintura mexem demais comigo. Adoraria tê-la conhecido em vida, mas como não foi possível, o faço através da pintura.”
O eu resgatado
“Ter cursado Artes na UFJF mudou minha vida. Vejo a entrada no curso como um marco. Foi onde fiz grandes e valiosos amigos, e onde tive o contato introdutório com as artes visuais. Desde que me formei, em 2008, mantenho minha produção artística, mas sempre passando por altos e baixos. Houve períodos em que não conseguia pintar mais nada, como se a vontade tivesse se esgotado”, conta, lembrando que duas pessoas sempre chamaram sua atenção de volta para o que seria o seu “eu-pintor”. Foram elas o músico Big Charles e sua antiga professora, agora amiga, Priscilla de Paula. “Sempre que os encontrava me perguntavam: e aí, está pintando? Pode parecer bobeira, mas perceber que seu trabalho é importante ou relevante para mais alguém, além de si mesmo, permite romper uma bolha existencial e sentir algum tipo de conexão com o mundo.”
O Mamm fica localizado na Rua Benjamin Constant 790, no Centro da cidade.
Outras informações: (32) 2102-3964 (Pró-reitoria de Cultura-UFJF)
(32) 3229-9070 (Mamm-UFJF)