A presença em um grande clube do futebol brasileiro representa o sonho de muita gente. Para quem lutou contra os preconceitos até alcançar este sonho, representa ainda mais. É o caso da ex-aluna do curso de Educação Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Bárbara Bepler, que atualmente é preparadora física do time sub-18 feminino do Cruzeiro Esporte Clube.
Natural de Pinheiral (RJ), Bárbara sempre se interessou por futebol e, com 8 anos já treinava na escolinha de futebol da cidade. Única garota no meio dos meninos, Bárbara precisava se destacar em sua turma. Para jogar com outras meninas, a alternativa foi seguir para Volta Redonda (RJ), município mais próximo que contava com turmas de futebol feminino. Eram duas viagens por semana para jogar e, como não haviam outras meninas de sua idade na turma, Bárbara precisou se superar, uma vez que era a única com 10 anos em meio às colegas, de 16.
“O projeto se revela importante para mim além das quatro linhas, pois se tornou um exemplo em todos os aspectos da minha vida”
Com o tempo, destacou-se na modalidade e, na adolescência, sua habilidade chamou a atenção de outros clubes. As oportunidades fizeram com que Bárbara tivesse que optar entre o futebol ou o ingresso em curso superior e a decisão acabou pendendo para o lado acadêmico. “Como em 2009 a perspectiva do futebol feminino era muito ruim, pois só o estado de São Paulo tinha uma estrutura um pouco melhor, eu preferi focar nos estudos e seguir para a UFJF. Era o que parecia mais estável à época”, afirma a preparadora física.
Futebol UFJF
No curso de Educação Física, Bárbara pôde entrar em contato com o projeto de extensão “Futebol UFJF”, no qual participou como estagiária das equipes sub-17, sub-15 e sub-13, no entanto, teve uma atuação mais efetiva com a iniciativa de futsal feminino, criada em 2017. Na modalidade, Bárbara foi treinadora, cuidando da parte tática, dos treinamentos e até mesmo atuando como atleta em alguns momentos.
A experiência no Futebol UFJF foi um dos diferenciais na vida de Bárbara, que começou a encarar o esporte de outra maneira. “O projeto se tornou importante para mim além das quatro linhas, pois se tornou um exemplo em todos os aspectos da minha vida. Foi onde me formei como profissional e pessoa. As oportunidades oferecidas pelo projeto são transformadoras.”
O coordenador do Futebol UFJF e professor da Faculdade de Educação Física e Desportos (Faefid), Marcelo Mattos, sempre enxergou em Bárbara um exemplo para as garotas que começam no esporte. “Finalmente o futebol feminino está passando por um processo de maior destaque para a categoria. Casos como o da Bárbara, que vem quebrando um machismo que ainda existe muito no Brasil, só demonstram como é possível superar suas próprias barreiras.”
Para a pró-reitora de extensão, Ana Lívia Coimbra, Bárbara representa a participação feminina crescente no esporte. “A presença dela no Cruzeiro mostra como um projeto de extensão possibilita o acesso aos direitos, principalmente ligados ao esporte. Este é um exemplo de como estão sendo quebrados modelos que historicamente excluíam as mulheres das práticas esportivas que eram consideradas exclusivamente masculinas.”
Em entrevista ao Portal UFJF, Bárbara contou sobre o atual panorama do futebol feminino, as perspectivas da categoria e seu trabalho atual como preparadora física no Cruzeiro.
Portal UFJF – Como é estar em um clube de projeção nacional como o Cruzeiro?
– Bárbara Bepler – Estar no Cruzeiro hoje é um sonho de criança realizado. Foi um passo enorme para a minha carreira e para a minha vida, pois sempre foi um desejo meu fomentar o futebol feminino e trabalhar com mulheres. As propostas do clube são muito boas. Os profissionais são excelentes, tanto os ligados ao time profissional quanto às categorias de base. Temos demonstrado que o Cruzeiro chegou para ocupar um espaço entre os grandes times do Brasil.
– Como você enxerga o futuro do futebol feminino? Há expectativa de melhora para o esporte?
– Sim, há uma perspectiva de melhora para o esporte. Acredito que nós temos uma oportunidade real de ocupar o local que conquistamos no cenário esportivo e que nos é de direito. Há muito preconceito no sentido de que mulher não deve jogar bola, de que não devemos estar ocupando este espaço, pois o futebol é feito pelo e para o homem. Devagarzinho nós estamos diminuindo essa concepção machista, principalmente com as crianças. Precisamos ter paciência e continuar lutando por nossos direitos, por condições de trabalhos dignas, uma remuneração justa e que condiza com os dados e o trabalho investido.
– Como você vê a divulgação hoje do futebol feminino, logo após uma copa do mundo de futebol feminino que ficou marcada como a maior de todos os tempos? O que ainda é preciso mudar, tanto na divulgação quanta na equidade das categorias?
– A copa do mundo mostrou que nós temos gente que se interessa e quer jogar futebol. Nós fizemos recentemente aqui no Cruzeiro uma peneira para o sub-18 e tivemos mais de 800 meninas inscritas. Não faltam garotas que gostam, que acompanham e que têm o sonho de seguir carreira no esporte. Um ponto que eu debato muito é quando afirmam que o futebol feminino é ‘muito feio’. A questão é, por que temos essa perspectiva? Isso só acontece porque as meninas não têm uma categoria de base estabelecida para aprenderem os fundamentos corretamente. Nós não queremos ficar nas sombras dos homens.
Outras informações: (32) 2102-3292 – Educação Física e Desportos (Faefid)