Da esquerda para a direita: professora Elisabeth Murilho da Silva, mestrando Paulo de Oliveira Rodrigues Junior, professora Maria Claudia Bonadio e professora Adriana Tulio Baggio (foto: arquivo pessoal)

O caráter histórico do Miss Brasil Gay em Juiz de Fora e as narrativas construídas pela mídia local sobre a solenidade motivaram o acadêmico Paulo de Oliveira Rodrigues Junior a investigar as projeções sociais, as concepções sobre feminilidade e como a imprensa relata as identidades gays e trans durante o concurso que acontece desde o ano de 1977. A dissertação foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens.

A pesquisa “Montações, glamour e existências: diálogos entre o ‘Miss Brasil Gay Juiz de Fora’ e homossexualidades a partir do vestuário entre 1977 a 2018” analisou as notícias divulgadas pelos jornais: Diário Mercantil, Diário da Tarde, Tribuna da Tarde e Tribuna de Minas. Com as teorias de gênero e sexualidade, assim como, com a cultura visual acessada a partir das fotografias e entrevistas veiculadas nos jornais e vídeos disponibilizados no YouTube, visou compreender como as identidades foram tratadas e sendo constituídas pela mídia, uma vez que não são consideradas como intrínsecas ao ser humano, mas como construções sociais.

“Notamos as estratégias elaboradas para projetar socialmente esses sujeitos, por meio das concepções sobre feminilidade e a composição da mesma a partir de ‘montações’ – incluindo roupas, adereços, maquiagem, cabelos, constituídos especialmente por elementos associados ao luxo e ao glamour. A partir das construções imagéticas das misses, procuramos compreender como os símbolos e signos de feminilidade, que permeiam as imagens reverberadas pelas mídias, se estabelecem como norteadores sobre o que é ser mulher para as participantes do concurso”, explica Rodrigues Júnior.

O pesquisador analisou a atmosfera do concurso, a partir dos seguintes pontos: entender como a mídia trata estes sujeitos nas reportagens e a construção deles por meio de uma escrita jornalística; e,  discutir a roupa como uma agenciadora de resistências à imagem heteronormativa com signos e símbolos de feminilidade que interagem com estes sujeitos, construindo uma possibilidade de fuga das normativas do gênero e sexualidade.

“Quando criança, eu passava as férias em Juiz de Fora e já no mês de julho os burburinhos começavam. Achava fantástico que as pessoas poderiam se expressar livremente como bem entendiam – pelo menos nesta data”, conta o pesquisador sobre as motivações para iniciar a pesquisa. Em 2013, teve a oportunidade de ir ao evento e ficou impressionado com as apresentações. “Fiquei deslumbrado com aquelas misses ‘barrocas’, naquele glamour  todo. Contudo, fiquei intrigado com alguns trajes que, para mim, diziam algo para além da beleza. Era uma forma de expressarem seus modos de entender o mundo. Deste modo, no mestrado, tive a oportunidade de investigar as produções estéticas destas misses e traçar alguns caminhos sobre como elas se construíam.”

Sobre as contribuições da pesquisa para a sociedade, Rodrigues Júnior aponta a importância de trazer à superfície os fragmentos da história da comunidade LGBTQ+, para além dos grandes centros e de narrativas que coloquem estes sujeitos como passivos a toda estrutura dominante. “Costuro, juntamente a outros pesquisadores, uma história do Miss Brasil Gay que perdura há mais de 40 anos na cidade de Juiz de Fora e ilustra um grupo, que na sua criatividade, acabou por denunciar e contestar as incoerências do sistema, deixando vestígios para entendermos que certas verdades sobre o gênero e a sexualidade foram ficções criadas para atender determinados fins ideológicos e hoje precisam ser deixadas para trás se queremos uma sociedade mais igual e livre.“

Segundo a professora orientadora, Maria Claudia Bonadio, há algumas particularidades relevantes sobre a pesquisa, entre elas: impacto de visibilidade a nível local e nacional para a comunidade LGBTQ+;  incentivo ao turismo local; e o fato de os trajes ganharem centralidade e a atenção do público. “Há pelo menos dois momentos, onde as roupas são destaque: durante os desfiles dos trajes típicos e de gala. Durante o Miss Brasil Gay, o público vibra ao ver a ‘montação’, a suntuosidade das roupas apresentadas, querem saber quem é o estilista e o que a vestimenta significa para a candidata. Todos desejam saber o que essas mulheres almejam ser. A resposta encontrada é um modelo hegemônico com uma feminilidade exacerbada espelhada em musas hollywoodianas ou da cultura pop. A maneira como nos vestimos apresenta muito sobre o que pretendemos falar de nós, ou seja, no desfile, a roupa é central na construção do concurso e das misses.”

Contatos:
Paulo de Oliveira Rodrigues Junior – (mestrando)
paulo.orjr@gmail.com

Maria Claudia Bonadio – (Orientadora UFJF)
mariacbonadio@uol.com.br

Banca examinadora:
Profa. Dra. Maria Claudia Bonadio – (Orientadora UFJF)
Profa. Dra. Elisabeth Murilho da Silva (UFJF)
Profa. Dra. Adriana Tulio Baggio  (Universidade Tecnológica Federal do Paraná -UTFPR)

Outras informações: (32) 2102-3362 – Programa de Pós Graduação em Artes, Cultura e Linguagens