O maior festival de divulgação científica do mundo, o Pint of Science, chegou ao fim nesta quarta-feira, 22. Em Juiz de Fora, mais de 800 boêmios lotaram bares pela cidade durante os três dias do evento, participando, junto com pesquisadores convidados, de debates sobre temas variados e de relevância. O objetivo do festival é justamente este: unir o útil e agradável, levando para um ambiente descontraído a discussão científica. Desta forma, é possível divulgar o conhecimento para além das paredes das universidades e desmistificar a ideia clássica de cientistas como pessoas isoladas ou distantes.
Na última noite do festival, os bares Na Garganta, Arteria e Bar do Luiz sediaram bate-papos sobre ciência forense, impactos do envelhecimento populacional e cinema brasileiro. Confira a cobertura:
A ciência na cena do crime
Para quem pensa que perícia forense é glamourosa como visto em seriados como CSI, Fábio Prezoto e Bruno Faria mostraram quem não é bem assim. Fechando o último dia de Pint of Science de casa cheia, os pesquisadores levaram o tema “A cência na cena do crime” para o bar Na Garganta. Em conversa com o público, o pesquisador e professor de zoologia da UFJF, Fábio Prezoto, explicou que insetos podem ajudar a solucionar crimes pois são capazes de fornecer informações como, por exemplo, o tempo em que um cadáver está morto ou em que área, urbana ou rural, que o crime aconteceu.
Por sua vez, Bruno Faria, relatou que trabalhar dentro desse campo envolve muito além da área de química e biologia. O perito criminal contou ao público que além de químico, também é psicólogo e unir os dois conhecimentos foi fundamental para seu trabalho. Em sua primeira experiência no Pint, Bruno conta que esse tipo de divulgação é muito importante para trazer novos públicos para essa área, pois ainda é um setor de pesquisa relativamente novo. “No Brasil, pesquisas relacionadas à ciência forense estão muito incipientes, ainda estamos engatinhando, então precisamos que mais grupos de pesquisa se interessem por essa área.”
Motivada por suas amigas a comparecer no Pint, a estudante de Farmácia Eduarda Scaldini conta que a conversa com os pesquisadores tirou muitas dúvidas sobre a profissão. “Eles falaram sobre coisas que eu nunca imaginei e pude tirar muitas dúvidas”, ponderou. Para a também presente Denise Lowinsohn, tomar uma cerveja, rever amigos e conversar sobre ciência foram as grandes motivações para ir ao bar. A professora e chefe de Departamento de Química da UFJF relata que, apesar do tempo corrido, foi ao evento prestigiar um dos palestrantes que é seu amigo e acabou descobrindo uma nova perspectiva sobre a área. “Gostei bastante da fala do professor da zoologia, por que não estamos acostumados – quando pensamos em solucionar crimes, pensamos lá para o lado da química, e não é só isso.”
Cinema brasileiro: quem te viu, quem não te vê
Os professores do Instituto de Artes e Design da UFJF, Luís Rocha e Alessandra Brum, bateram um papo descontraído sobre o cenário atual do cinema brasileiro no bar Arteria. Os pesquisadores apresentaram-se em conjunto, compartilhando falas entre si, ao mesmo tempo em que abriam espaço para a interação com o público presente. Brum iniciou a conversa explicando sobre o recente fenômeno de exibição do filme “Vingadores: Ultimato”, e relacionou o evento com a importância da cota de telas no cinema brasileiro. “Podemos dizer que no Brasil falta tela. Hoje, o Brasil tem em torno de 3.347 salas de cinema, sendo 1.041 só em São Paulo. Isso demonstra uma outra realidade para a gente pensar o cinema brasileiro e como ele se ocupa”. A professora explicou ainda que a proporção de salas de cinema por habitantes diminui ainda mais em cidades do interior do país, chegando a apresentar uma sala de cinema para cada 65 mil habitantes.
Já Rocha, respondendo à uma das perguntas dos ouvintes, compartilhou a questão da preservação do cinema brasileiro. “Começamos a fazer filmes a partir de 1897. No cinema silencioso que foi produzido desde o final do século XIX no Brasil, restam apenas 8% desse conjunto de filmes. Isso só falando do cinema silencioso – se procedermos ao longo dos anos, nós temos uma enorme perda do nosso patrimônio cinematográfico, seja por falta de condições de preservação, seja por falta de uma política de preservação ou até por acidentes”.
De repente 60
No encerramento do Pint of Science, o Bar do Luiz recebeu as pesquisadoras Flaviane Souza Santiago e Danielle Teles da Cruz para o painel “De repente 60”. Nele, ambas discutiram a “transição demográfica” brasileira: atualmente, há mais pessoas idosas na população que crianças abaixo de 5 anos.
Flaviane abordou os impactos desse fenômeno na economia, desde consequências para o modelo de previdência, passando pelos novos nichos de mercado que surgem para atender esse público, até gastos com saúde. “Envelhecer é o futuro de todos nós. Vamos começar a pensar nele agora, ou vamos esperar acontecer?”, questionou, ressaltando a importância de políticas públicas voltadas para os idosos.
Já Danielle tratou as consequências do envelhecimento populacional para a saúde pública, apontando a necessidade de um modelo de tratamento que acompanhe os indivíduos ao longo do tempo e de forma mais integrada, ao invés de meramente tratar doenças. “Nós temos muitas peculiaridades nesse fenômeno brasileiro. Existe uma disparidade muito grande de renda e expectativa de vida conforme as regiões, por exemplo. A velocidade que o envelhecimento populacional acontece no Brasil também é muito grande: o que a França demorou 120 anos para fazer, nós vamos vivenciar em 30.”