Mais de 1.700 pessoas lotaram o Cine-Theatro Central, no último sábado, 30, para a apresentação do espetáculo “Valencianas”, parceria entre a Orquestra Ouro Preto e o cantor Alceu Valença, que há sete anos percorre. O show combina música erudita e popular com arranjos para concerto de hits do compositor pernambucano, como Morena Tropicana, Girassol, “La Belle de Jour” e Anunciação. O evento marcou a primeira noite de comemorações dos 90 anos do Central, inaugurado em março de 1929.
“É importante para a Universidade proporcionar um espetáculo dessa magnitude de forma gratuita para a comunidade juiz-forana e fizemos questão de que os ingressos fossem sorteados, não apenas para o público institucional e para o patrocinador (Unimed), mas também para a população em geral”, ressaltou o diretor do Central, Luiz Cláudio Ribeiro, o Cacáudio, que considera o estilo do show, por si só, um grande colaborador do objetivo de levar o povo ao teatro. “É uma orquestra, que tem um caráter erudito, e o Alceu, que tem um caráter popular. O teatro tem esse lado da erudição e da arte, mas é cada vez mais do povo também”.
Na plateia de Valencianas, o casal de engenheiros Rita Valéria e Paulo Villela, recordava seus melhores momentos no local. Rita destacou a sua formatura e a dos irmãos, enquanto Paulo relembrou os tempos em que o espaço funcionava também como cinema. Por outro lado, a jovem pianista Grazi Elis, fã de Alceu e da Orquestra, apesar de não ter conhecido o passado do teatro, aguardava com ansiedade pelo espetáculo. Ela assistiu ao show várias vezes no Youtube e, quando soube que o espetáculo viria a Juiz de Fora, tentou o sorteio, sem sucesso. Porém, não desistiu e correu para a bilheteria na tarde do dia 30, conseguindo um dos ingressos remanejados.
Convidados de honra do teatro, o casal de restauradores Martha e Massimiliano Fontana, responsáveis pelas reformas do Cine-Theatro em 1996 e em 2015, estava muito emocionado com a celebração dos 90 anos. Além da expectativa pelo show, os restauradores demonstravam, acima de tudo, grande felicidade por mais uma vez entrar no teatro que os tem em sua própria história. “Eu amo esse lugar!”, afirmou Martha.
Todos os andares do Central foram ocupados. Além do balcão e da plateia, a galeria também foi aberta ao público.
Orgulho
Presente ao evento, o reitor Marcus David falou sobre o papel da UFJF como gestora do teatro, que faz parte da instituição há 25 anos, e de outros espaços em Juiz de Fora. “A Universidade cumpre um papel muito importante, além da sua função de ensino, de pesquisa e extensão, que é como vetor de desenvolvimento da cultura na cidade, de democratização do acesso à arte. Ter um patrimônio como o Cine-Theatro Central sob responsabilidade da Universidade nos enche de orgulho e conseguir mantê-lo da forma e com a qualidade que estamos mantendo, com uma vida cultural tão intensa, é uma contribuição para a toda a região”.
O maestro da Orquestra Ouro Preto, Rodrigo Toffolo, afirma que “sua vida musical se confunde com a da cidade”, por ter frequentado diversas edições do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga em Juiz de Fora, desde a infância e por mais de dez anos, como estudante de música, e por já ter trazido, várias vezes, a Orquestra ao Central. “Estar aqui hoje é uma alegria enorme, porque todas as lembranças vêm à mente: a cidade, as pessoas, o calçadão. É um sentimento de dever cumprido voltar 25 anos depois de vir pela primeira vez, para uma apresentação numa casa cheia.”
A orquestra, que completa 20 anos, tem como ideal “tornar a música erudita menos quadrada e a música popular menos flexível”, define o maestro. Essa é também a proposta de Valencianas, que surgiu em 2012, para comemorar os 40 anos de carreira de Alceu Valença, a partir da amizade entre os dois, que foram apresentados por Paulo Rogério Lage, atual diretor do espetáculo. A parceria é um sucesso por onde passa e o CD do projeto ganhou o Prêmio da Música Brasileira de 2015. Desta vez não poderia ser diferente. “Essa foi uma noite muito especial, porque estávamos precisando dessa alegria e união. As pessoas, quando estão num teatro, cantam junto e essa catarse coletiva é muito importante”.
Parceria
Já a pró-reitora de Cultura, Valéria Faria, disse ser um privilégio administrar um “espaço suntuoso” como este, ao mesmo tempo em que é uma grande responsabilidade. “O Cine-Theatro Central está sob coordenação da Pró-Reitoria de Cultura da UFJF, mas ele é um bem da cidade, se destacando como um dos principais teatros do país. Portanto é uma honra, mas também um desafio cuidar desse lugar tão expressivo.”
A pró-reitoria também anunciou a chegada de uma exposição permanente no Central, que contará com 30 obras do pintor Angelo Bigi, autor da pintura ornamental do Cine-Theatro, doadas pelo arquiteto e colecionador Antônio Carlos Duarte.