“A poesia de Murilo Mendes toca a religião e possibilita relê-la de uma maneira nova.” Com essa afirmação, o acadêmico Edson Munck Junior ressalta um dos resultados obtidos no desenvolvimento de sua tese de doutorado, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Intitulada “O céu pelo avesso: a religião na poética de Murilo Mendes”, a pesquisa aborda a religião como matéria na poesia muriliana. O estudo foi realizado por meio do programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião.
No trajeto da tese, o pesquisador leu toda a obra poética do escritor se valendo das considerações críticas de José Guilherme Merquior – importante crítico literário -, que, segundo o doutorando, possui premissas relevantes para a compreensão da poética de Murilo Mendes. Os poemas então foram analisados sob uma ótica textual que valorizasse não apenas o que se diz, mas, sobretudo, o como se diz.
O conceito de religião do teólogo alemão Paul Tillich – responsável por efetivar uma leitura da teologia da cultura – serviu de fundamentação para o pesquisador enxergar a religião nos poemas murilianos. Há obras de Murilo que tematizam de forma muito direta a religião entretanto, Munck optou por analisar textos em que esse aspecto não é tão evidente. “Eu não fiquei buscando poemas que tinham a palavra ‘Deus’, ou qualquer referência explícita. Me propus a olhar como ele fala também de maneira indireta e forte sobre esse tema”, afirma.
O acadêmico conta que o interesse pelo tema nasceu ainda na especialização em Letras, em 2012, quando se propôs a ler a obra poética de Murilo Mendes, buscando compreender como a temática da religião era trabalhada dentro de seus textos. “Murilo quer resgatar em um primeiro momento do século XX o sentido que a religião tivera um dia para o homem”. Ainda segundo ele, poucos pesquisadores respeitaram que a religião era algo importante para o poeta. “Me parece que quando a crítica literária via uma referência à Bíblia, deixava de lado. Mas não é tão simples assim. Quando um poeta aciona uma nova palavra ele quer despertar um novo sentido”, explica.
Enquanto a religião é posta pelo senso comum como um fator de alienação, segundo o pesquisador, Murilo Mendes a coloca como uma janela para encarar o caos. “O que eu consigo identificar é uma religião problematizadora, que não se silencia diante da existência humana, do dogma, que não nega o corpo, que assume a materialidade da vida e opera para a consciência religiosa. Verifico uma religião em Murilo que auxilia na compreensão da existência humana”, complementa.
De acordo com Munck, em meio à Segunda Guerra Mundial e ao nazifascismo, Murilo Mendes utiliza recursos para viver em um mundo tão duro buscando esperança. “Como um grande poeta, ele criou mecanismos para despertar na gente a reflexão e a vida. Uma vida com a dor e a alegria de viver. Com a palavra poética, ele tenta resgatar essa coisa que nos torna humanos”, conclui.
Contatos:
Edson Munck Junior (doutorando)
munckjr@yahoo.com.br
Eduardo Gross (orientador – UFJF)
eduardo.gross@ufjf.edu.br
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Eduardo Gross (orientador – UFJF)
Prof. Dr. Fernando Fábio Fiorese Furtado (UFJF)
Prof. Dr. Jonas Roos (UFJF)
Prof. Dr. Leandro Garcia Rodrigues (UFMG)
Prof. Dr. Antônio Carlos de Melo Magalhães (UEPB)
Outras Informações: (32) 2102 – 3116 – Programa de Pós-graduação em Ciência da Religião