Utilizado como matéria-prima para combustíveis como a gasolina e o querosene, o petróleo também é ingrediente principal de produtos como cosméticos, tecidos e eletrônicos, por exemplo. Os produtos originados do petróleo são inúmeros. Segundo o Departamento de Estatística dos E.U.A., o Brasil é o 13º colocado na lista de países com as maiores reservas de petróleo e o 7º dentre os maiores consumidores de petróleo do mundo. Porém, um dos problemas encontrados na produção deste óleo é a demora na análise físico-química das amostras. Atualmente, leva-se em torno de três meses, além de gastar um valor alto para a realização destas análises.
Com objetivo de reduzir significativamente o tempo e o custo das análises, pesquisadores do Núcleo de Competências em Química do Petróleo (NCQP) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), desenvolveram um método para analisar o petróleo em apenas cinco minutos, diminuindo também a amostra necessária para realizar a análise. Os métodos tradicionais precisam de galões de petróleo de aproximadamente 700 litros para que a análise seja realizada, enquanto o método desenvolvido pelo grupo necessita de apenas 50 ml de amostra, diminuindo drasticamente o custo de produção. O projeto recebe financiamento da Petrobras, que se une no empenho e interesse na redução do tempo de análise e avaliação do material utilizado na pesquisa.
Como os métodos funcionam?
De acordo com o orientador do projeto, Marcone Augusto Leal de Oliveira, os métodos clássicos, “de bancada”, não são capazes de analisar todas as propriedades do petróleo. Para cada propriedade existe um método de análise diferente. O modelo desenvolvido usa a quimiometria, um método estatístico associado à espectroscopia (uma forma de obter dados a partir da incidência de radiação na amostra) e consegue analisar dezenas de propriedades utilizando somente dois aparelhos.
O petróleo é vivo, portanto sua constituição é dinâmica. Para fazer a análise do infravermelho, basicamente, o material é aquecido para diminuir a viscosidade e tornar possível a transferência para o recipiente. A luz capta as informações, através dessa matéria, que serão trabalhadas posteriormente, tendo como referência a análise de bancada. “No método de bancada o material tem que passar por várias etapas de processamento. Desde o aquecimento, esfriamento até a elevação, somente no final de todo esse processo é que a medida pode ser feita. Enquanto o método desenvolvido no laboratório necessita só da solubilização do petróleo para a conclusão da análise”, explica Oliveira.
Tempo e dinheiro devolvidos para a sociedade
O método desenvolvido ganhou destaque por diminuir drasticamente o tempo e dinheiro investidos no processo de análise amostral do petróleo, sendo destacado pela Sociedade Americana de Química (em inglês, ACS) como uma das pesquisas de excelência desenvolvidas por autores brasileiros na área de Química Analítica. “A Petrobrás, sendo uma empresa híbrida, estatal e privada, repassa a economia realizada. Esse dinheiro pode voltar para a sociedade em termos de cultura, educação, lazer e até mesmo no financiamento de novos projetos”, observa Oliveira. Além disso, o projeto também é uma forma de preservar o meio ambiente, porque a quantidade de amostra analisada é significamente menor. Os 700 litros de petróleo que eram descartados se tornam 50 ml de amostra que poderão ser guardados como testemunho, não precisando ser rejeitados.
Segundo o pesquisador, é necessário mostrar para a população qual é o impacto causado na sociedade, direta e indiretamente, pelas pesquisas realizadas no ambiente acadêmico. “A Universidade precisa mostrar e esclarecer o que é feito por trás dos portões. O papel de divulgar e levar o conhecimento na linguagem de entendimento do cidadão é um papel da Universidade. As pessoas têm o direito de saber o que fazemos, temos que dar o retorno. É nossa responsabilidade social, moral e ética”, conclui.